quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Matéria sobre o Profissão MC no Japão, site Web News, feitos por brasileiros (em portugues), no Japão

http://portalwebnews.com/index.php/2010/09/30/%E2%80%9Cprofissao-mc%E2%80%9D-no-japao/

ENTREVISTA
30 de setembro de 2010



Alessandro Buzo: “Usei e abusei da minha credibilidade”
Redação Portal WebNews

Arteiros trazem “Profissão: MC” ao Japão [Hamamatsu] em novembro



Coloque na agenda. O grupo Arteiros, que promove eventos culturais e sociais para jovens, em parceria com o HICE, apresentará no dia 7 de novembro de 2010 o filme do escritor brasileiro Alessandro Buzo intitulado “Profissão: MC”. A exibição será após uma palestra sobre drogas para os jovens brasileiros, em parceria com a delegacia central de Hamamatsu.
“Apesar da realidade totalmente diferente, o Japão, infelizmente, já não é como antes. Esse filme esta sendo usado principalmente para atrair os jovens para a palestra e também para conscientizá-los de suas escolhas”, explica Daniel Oshiro, que vai promover a exibição do filme no Japão.
- Um filme de realidade dos subúrbios brasileiros sendo exibido no Japão? – “Pode parecer exagero, mas moro em Hamamatsu desde os 15 anos, já vi em torno de três a cinco amigos e conhecidos serem presos por tráfico de drogas. Também vi um sem número de amigos serem presos por uso de drogas. Mesmo sendo outro país, outra realidade, acho válido esse filme ser exibido aqui”, responde Oshiro.
Segundo ele, o Hip Hop cresceu muito no Japão. “É uma boa exibir esse filme e chamar atenção dos jovens de Hamamatsu”, afirma Oshiro que também fará palestra para os jovens. O grupo surgiu em abril de 2010 para representar os jovens do Japão . Em setembro o Arteiros promoveu a mostra de curtas-metragens brasileiros em parceria com o jornalista Roberto Maxwell.
Representando a Literatura Marginal, com cinco livros publicados, Alessandro Buzo pertence à vanguarda cultural da periferia de São Paulo, leia-se Hip Hop. Um movimento que, aos poucos, deixa sua marca na cultura brasileira.
Para saber mais sobre um desses legados, o filme “Profissão: MC”, acompanhe a entrevista exclusiva com o escritor e diretor Alexandro Buzo ao Portal Webnews.

Portal Webnews: Quando e por que resolveu fazer esse filme?
Alessandro Buzo: Trabalhava numa produtora (desde começo de 2008 na DGT Filmes), começamos a fazer um quadro “Buzão – Circular Periférico” no Programa Manos e Minas da TV Cultura de SP, aí comecei a dizer que tinha um roteiro e queria filmar na minha quebrada (Itaim Paulista, extremo leste de SP), passei um ano insistindo até o Toni Nogueira encarar o projeto comigo e filmamos em cerca de sete dias, final de 2008, início de 2009. Editamos e lançamos em outubro/2009. Quis fazer o filme porque tudo que eu via da periferia era documentário, queria fazer uma ficção. Ficou muito parecido com a realidade (um jovem entre o Hip Hop e o crime), mas é ficção.

Portal Webnews: Como é trabalhar num projeto destes sem patrocínio?
Alessandro Buzo: Difícil porque a falta de grana traz algumas limitações, mas acho que o resultado final ficou muito bom. Um jornalista me perguntou se quero ensinar os grandes cineastas a fazer filme sem dinheiro, respondi que quero apreender com eles a fazer com dinheiro. Sem dinheiro pra abrir as portas, usei e abusei da minha credibilidade.

Portal Webnews: Como foi a recepção dos membros das comunidades quando vocês estavam fazendo as filmagens?
Alessandro Buzo: Muito boa, abriram a porta da comunidade e até de suas casas. A cada dia de filmagem era uma loucura, pessoas juntavam para assistir as cenas e aplaudiam no final.

Portal Webnews: Onde foi filmado?
Alessandro Buzo: Numa comunidade no Itaim Paulista, último bairro da zona leste de São Paulo (Brasil), bairro periférico com cerca de 400 mil habitantes.

Portal Webnews: Qual é a mensagem final?
Alessandro Buzo: O crime não compensa.

Portal Webnews: Pretende fazer outros filmes?
Alessandro Buzo: Quero fazer um curta sobre o “CRACK” (15 minutos), também sem captar dinheiro e pretendo arrumar alguma grana pra fazer um longa “O Plano” é o título provisório.

Portal Webnews: Qual mensagem você manda aos brasileiros que estão no Japão?
Alessandro Buzo: Um grande abraço, a internet diminui a distância entre a gente. Então estamos muito longe, mas ao mesmo tempo muito perto, fiquem ligados no meu BLOG e no BLOG do filme.


SINOPSE
Profissão Mc traz a estória de um rapper na periferia que num momento delicado de sua vida, desempregado e com a namorada grávida, recebe duas propostas: uma para entrar no tráfico de drogas e outra para seguir apostando no RAP.
Profissão MC é um filme sobre oportunidades, ou falta delas.
Este filme não captou um único real para ser produzido e pretende ser exibido em várias comunidades pelo Brasil.
Marca a estréia de Alessandro Buzo como diretor, junto ao experiente Toni Nogueira. www.profissaomc.blogspot.com

PROFISSÃO MC
Ficha Técnica
Título Original: Profissão MC
Gênero: Drama
Duração: 52 min.
Lançamento (Brasil): 2009
Site: www.profissaomc.blogspot.com
Distribuição: Suburbano Convicto Produções
Direção: Alessandro Buzo e Toni Nogueira
Roteiro e Argumento: Alessandro Buzo
Produção: DGT Filmes
Trilha Sonora: Criolo Doido; Rappin Hood; Dudu de Morro Agudo; Periafricania; Décio 7 e Cris Scabello.
Direção de Fotografia: Toni Nogueira
Fotografia: Toni Nogueira
Tiago Pastoreli
Finalização: Mauricio Falcão
Arte Cartaz: Sérgio GAG
Captação de Aúdio: Edimar F. de Jesus (Xantilee)
Tratamento e finalização de aúdio: Estudio Traquitana
Edição: Tiago Pastoreli
Seleção de atores: Alessandro Buzo
Assistente de Produção: Marilda Borges


Criolo Doido (protagonista), Toni Nogueira e Alessandro Buzo (diretores)

Elenco: Criolo Doido; Dj Dan Dan; Da Antiga; Juju Denden; Neto; Wagnão; Marquinhos.
Participação Especial: Rappin Hood e Beto Guilherme.
Figurantes: José Soares (policial 1), Trutty (policial 2), Marcio Roots, Zinho Trindade, Tubarão, Alvaro Buzo, Michel da Silva, Michel Premonição, Walter Limonada, Fanti Manumilde, Eduardo Bboy, Fernando Premonição, Alessandro Buzo, Marilda Borges, DJ Marco, Terra Preta, Pedro Gomes, Tais Terto (garota campinho), Cacau Ras e outros.

Contato: alessandrobuzo@terra.com.br

sábado, 25 de setembro de 2010

Bocada Forte: Entrevistas

Suburbano Convicto: Alessandro Buzo celebra 10 anos de carreira
Data: 24/09/2010

Essa entrevista minha (Buzo), feita pela amiga Jéssica Balbino e publicada originalmente no Site BOCADA FORTE (www.centralhiphop.com.br)



Em comemoração a seus 10 anos de carreira, o escritor, apresentador de TV, cineasta e agitador lança o livro independente Buzo 10, com 10 crônicas
Diariamente, ele enfrenta mais de duas horas de trem, entre Itaim Paulista e o bairro do Bixiga, no centro de São Paulo, onde administra a livraria Suburbano Convicto. Participa de saraus, encontros, debates e palestras, e viaja por todo Brasil. Responde e-mails, atualiza todos os blogs que tem, cuida da esposa, do filho e ainda concilia o tempo com a diversão - o que inclui livros, filmes e a cervejinha. Coleciona, além de livros – está lançando seu sexto título -, amigos e admiradores por todo o país, que carrega consigo, ajudando e dando a primeira oportunidade a novos escritores, na coletânea Pelas Periferias do Brasil.
Alessandro Buzo não para. E, enquanto atualiza seu microblog no Twitter (@Alessandrobuzo), parece se desdobrar em vários, para dar conta de tantos compromissos e realizar todos com precisão e profissionalismo. Também é apresentador de TV (com o quadro “Buzão Circular Periférico”, no programa Manos e Minas, da TV Cultura) e cineasta, tendo produzido o filme independente Profissão MC, protagonizado por Criolo Doido. Cheio de ideias, também criou o Espaço Suburbano Convicto, na zona leste da maior cidade brasileira.
Buzo, que completa 38 anos neste sábado (25/9), está lançando o livro Buzo 10, com 10 crônicas, celebrando seus 10 anos de carreira. Assim, este ´suburbano convicto` se alimenta de cultura e não deixa de distribuí-la por onde passa, sendo o dono da primeira livraria do Brasil especializada em literatura periférica. Confira, a seguir, uma entrevista com este inquieto escritor e agitador cultural:



Central Hip-Hop (CHH): Fale um pouco sobre seus 10 anos de carreira e sobre as diversas atividades que desenvolve.
Alessandro Buzo (Buzo): Sou escritor, apresentador e cineasta. Desde o lançamento do meu terceiro livro, vi que era isso mesmo que eu pretendia fazer o resto da vida: trabalhar com cultura. Mas um marco foi quando me libertei do trabalho em uma empresa e passei a viver só dos meus ´corres` culturais, isso foi de 2007 para 2008. São poucos que, hoje, conseguem viver só da cultura, e me orgulho de ser um deles.

CHH: Qual foi o principal ponto de mudança? O que você acha que determinou que mudasse de profissão - e de rumo - e chegasse hoje aos 10 anos de carreira?
Buzo: Acreditar nos sonhos mais loucos que eu tive. Se não fosse assim, não teria lançado todos esses livros, não teria feito um filme sem dinheiro, não teria conseguido chegar à TV Cultura. A coragem de fazer e depois ver no que ia dar foi determinante. As pessoas, muitas vezes, não fazem porque esperam outras pessoas acreditarem nos projetos. Eu sempre acredito antes de qualquer um.

CHH: Como é completar uma década dentro hip-hop e, principalmente, dentro da literatura periférica, ainda pouco reconhecida?
Buzo: Ainda é muita "resistência", porque os espaços não são muitos e tem muita gente no corre, procurando se destacar. Para mim, completar 10 anos e estar com tantos bons projetos em andamento é motivo de alegria e satisfação pessoal. Cheguei até aqui sem pisar em ninguém e ainda trazendo muita gente comigo.

CHH: Este seu sexto livro está sendo lançado de maneira independente. Como é isso? Apesar de você já ter trabalhado com duas editoras, nenhuma delas quis abraçar o projeto dos 10 anos de carreira?
Buzo: É um livro comemorativo, com 10 crônicas sobre esses 10 anos. Não é um projeto assim tão “comercial”, então nem procurei editora. Mas nesse ano ainda lanço meu sétimo livro, Hip-Hop - De Dentro do Movimento, e de novo vai ser pela Aeroplano Editora. Para mim, é tranquilo. Uns podem sair por editoras e outros pelo selo que estou lançando, o Suburbano Convicto Edições.

CHH: Você é proprietário da primeira livraria do Brasil especializada em literatura marginal, um local em que recebe inúmeros amigos de todo o Brasil e oferece produtos voltados para a cultura hip-hop, além de um grande acervo. Isso sem falar nos saraus, debates e eventos que você promove no espaço. Você acha que, com isso, está inovando no modelo de livrarias do país, assim como fez com o modelo de literatura?
Buzo: Acho que sim. A livraria é cada vez menos comércio apenas, e está se tornando um centro cultural. Acho que isso ajuda e muito a ter uma identidade própria, mas, quanto a ser exemplo para outras livrarias, só o tempo irá dizer.

CHH: Quando você decidiu que seria escritor e não mais assalariado, e que viveria de cultura, imaginou, em algum momento, como estaria hoje, 10 anos depois?
Buzo: Passei sete anos desses dez fazendo as duas coisas. Só em 2008 é que, de fato, consegui deixar a empresa em que eu trampava, vendendo alimentos para restaurantes, e me tornar apenas o Buzo dos corres culturais.

CHH: Nesses 10 anos, qual foi o pior momento?
Buzo: Foi entre 2002 e 2003. Eu estava endividado, desanimado, tinha lançado meu primeiro livro em 2000 e não tinha nenhuma perspectiva de conseguir publicar o segundo, o que só aconteceu em 2004. Nessa época, eu estava passando por sérias dificuldades financeiras e foi o pior momento desses 10 anos. Mas... nada como um dia após o outro dia.

CHH: Em alguma ocasião você pensou em desistir?
Buzo: Sim. Nesse tempo, pensava que não tinha passado de uma ilusão ter lançado um livro. Eu estava sem rumo e sem motivação, mas sempre que pensava em desistir vinha uma entrevista, uma matéria, uma palestra, e me mostrava que o sonho não tinha acabado. Um dia, estava desanimado e o Helião me ligou para convidar para sair nas fotos do encarte do CD Evolução É Uma Coisa, do RZO. Essas coisas me motivavam nos piores momentos.

CHH: E qual foi o melhor momento?
Buzo: Foi o lançamento do meu filme com a Galeria Olido lotada, é cada vez que uma pessoa diz que leu um livro meu e curtiu, quando dizem que acompanham meu quadro na TV...

CHH: Você imagina como estará sua vida nos próximos 10 anos? Tem planos?
Buzo: Tenho sim. Quero lançar outros livros e filmes, quem sabe com um programa de TV em vez de um quadro. Quero estar empregando pessoas pra trabalhar comigo, quero ter minha casa própria e mais estrutura.

CHH: Entre os inúmeros projetos que você tem atualmente, qual deles lhe dá mais prazer? Por que?
Buzo: Lançar um livro novo me dá prazer, ter o quadro na TV me dá prazer, porque estou mostrando uma periferia que o Datena não mostra. Ver meu filme sendo exibido me dá prazer.

CHH: Você se considera uma referência da literatura marginal brasileira? Por que?
Buzo: Acho que outras pessoas devem achar isso. Eu só faço as coisas, não com esse intuito, só vou fazendo. "Nóis capota mas num breka!”. Fico feliz quando alguém diz que eu sou referência, mas essa não era minha meta principal. Aconteceu naturalmente.

CHH: O que nunca o perguntaram, mas você gostaria de ter respondido?
Buzo: Eu gostaria de ter respondido que vivemos num mundo mais justo, com menos corrupção e desigualdade social... Quem sabe um dia isso não se torna uma realidade e eu possa responder na entrevista dos meus 20 anos de carreira?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Entrevista exclusiva com Juninho do CICAS

Entrevistamos o Juninho do CICAS, que sofreu pressão para deixar o local onde executa suas atividades e assim como no "caso Manos e Minas" eles fizeram pressão e reverteram.......
Vamos conhecer mais desse coordenador do CICAS....por Alessandro Buzo


Juninho do CICAS


Alessandro Buzo: Juninho, como e quando foi sua ligação com a cultura ?
Juninho: Meu primeiro contato com a cultura veio através da música, aos 19 anos, quando formei uma banda de rock onde buscava expressar alguns desabafos e expor nas composições a realidade e dificuldades que enquanto jovem, eu e tantos iguais enfrentávamos. Mas como optei pelo rock’n’roll, e o acesso a equipamentos de primeira estava longe da minha realidade, muitas das pessoas não entendiam uma virgula do que eu cantava, com isso fui criando alternativas de expor meu pensamento nessa caminhada, produzindo zines, declamando em saraus e a partir daí, o contato com diferentes formas de expressão foi ampliando minha visão e curiosidade no meio cultural e literário.

De onde você é, onde cresceu ?
Juninho: Sou natural de São Paulo mesmo, fui criado com minha irmã pela minha mãe, morei 23 anos em Itaquera, zona leste, mas cresci praticamente na zona norte, solto entre os bairros do Parque Edu Chaves, Jd. Brasil, Vila Sabrina e Vila Maria, onde moro atualmente.

Como vê a cena dos saraus na cidade de São Paulo?
Juninho: Nos últimos anos tem crescido a procura e a exposição dos saraus de São Paulo de maneira impressionante, através de programas de incentivo, facilidade de acesso a Internet, entre outros fatores, as comunidades literarias estão aparecendo e trocando informação. Desmistificando aquela antiga imagem de que literatura é coisa chata, coisa de gente estudada, coisa apenas de livro... O Sarau é a literatura viva, com pernas e voz, expressões e emoções... Percebo que entre os escritores, ainda nos dividimos em classes... tem o sarau da “elite” e tem o sarau das “periferias”, isso é ruim mas é fato, mas independente disso, fico feliz vendo circular tanta informação e convites novos, fico feliz por ser bem recebido em qualquer sarau, fico feliz em descobrir que cada sarau sustenta uma identidade, sempre em busca do mesmo fim.

Projeto CICAS, como e porque surgiu ?
Juninho: O CICAS é o Centro Independente de Cultura Alternativa e Social, fundado em março de 2007 em parceria com outro musico e escritor (Humberto Fonseca/ o Bebeto CICAS) e surgiu a partir da nossa necessidade (enquanto artistas) de um espaço para desenvolvermos e apresentarmos nossos trabalhos na nossa quebrada. Tínhamos conhecimento que o local onde hoje abriga o projeto CICAS, estava abandonado tanto pelo poder público quanto pela própria população há mais de 15 anos, quando iniciamos um trabalho de planejamento e pesquisa na região, até darmos inicio ao trabalho braçal de recuperação do espaço, onde durante todo o processo, as crianças, a comunidade, outros artistas, iam chegando, querendo saber, querendo somar e a partir da junção de todas as propostas e necessidades encontradas é que o CICAS foi tomando forma e vive até hoje essa constante evolução, tudo a base da troca, do voluntariado, da ação comunitária e principalmente do fortalecimento e valorização dos coletivos e indivíduos ativistas culturais independentes.

Quais as atividades do CICAS ?
Juninho: Inicialmente, fomos implantando as atividades abertas ao publico de acordo com as condições fisicas do espaço, sem água e luz, desenvolvíamos sarau a luz de vela, intervenções na rua, capoeira e trabalhamos bastante na recuperação do solo, plantio e questões de re-educação ambiental, sempre visando aproximarmos o contato com a comunidade local. Hoje, com alguns projetos e parcerias já firmados com a Secretaria de Cultura, o CICAS abre as portas para o Cinema, Biblioteca, Studio de Gravação e Ensaio para bandas e grupos musicais, Teatro, Dança do Ventre, Capoeira, Aulas de Inglês, de iniciação Musical, oficinas ambientais, oficinas de áudio visual, além de grandes Festivais Culturais com Shows e Espetáculos que trazem como proposta principal a diversidade, a miscigenação das artes e outras ações sociais como almoço Comunitário, palestras e debates educativos e outras campanhas. Estando sempre aberto a novas propostas de ocupação de espaço por outros coletivos de mesmo cunho e objetivo cultural.

Como está o caso de terem tentado expulsar vocês do espaço que ocupam ?
Juninho: A Sub-prefeitura da região, que durante os 3 anos negou a responsabilidade sobre a área, chegou ao espaço em junho deste ano, com ordens de remover o espaço para a revitalização da praça onde esta construído o galpão do CICAS, alegando que a construção era irregular e que nós ocupávamos “ilicitamente” o local. Alegaram não saber da existência do nosso projeto, mesmo com parcerias firmadas e reconhecidas pela própria prefeitura, através da Secretaria de Cultura, como o Programa VAI por exemplo, lei de incentivo a iniciativas culturais em 2009. Com base nessas informações eles chegaram a nos despejar do espaço retirando todo nosso patrimônio sob ameaça de demolição no dia seguinte. Recorremos a todos os caminhos possíveis de defesa, desde parlamentares, advogados, engenheiros, a mídia, mobilização comunitária, até o Ministério publico para conseguirmos um primeiro dialogo, que impediu a derrubada e abriu campo para a regularização definitiva do espaço, tudo isso depois da interferência direta do próprio secretario de Cultura do Município e a exposição na grande mídia através da reportagem no Proteste Já do CQC. No momento os procedimentos são burocráticos e estamos encaminhando toda documentação necessária, contamos ainda com apoio do Lab-Cidade – da FAU USP, que esta desenvolvendo esse projeto formal em parceria com o CICAS.

Imagina se o CICAS não ocupar esse espaço, o que vai acontecer como ele na pratica, no dia a dia ?
Juninho: Confesso que no calor do confronto, quando vieram com a policia e a ignorância junto, eu não senti nada, absolutamente, um vazio, lembro quando carregava cada item nosso jogado na rua, sabendo que cada objeto insignificante daquele carregava uma historia do CICAS, parte da contribuição de alguma pessoa, ... Mas o vazio do peito, não chegava nos olhos que por momento algum enxergou um fim pra situação. Se não ficássemos no espaço, com certeza iríamos pra cima de um novo CICAS, o fundamental a gente carrega no sangue e insiste nele, artista da periferia é assim, nasce pronto pra enfrentar barreiras e preparado pra cair, mas desistir não.

Como viu a mobilização de vários em prol do CICAS ?
Juninho: Foi impressionante a dimensão da mobilização, vi o CICAS em todo lugar, pessoas chegavam por lá pela primeira vez na vida e era como se eu as conhecessem a tempos, a energia que cada pessoa que fez parte da mobilização e da resistência trazia era indescritível, e a coisa tava além do CICAS, muita gente presente estava em situação semelhante em outros locais, enfrentando a opressão do falho poder publico, que não tem sensibilidade nenhuma com os artistas organizados, com a cultura em geral, e tampouco tem conhecimento das reais necessidades das comunidades periféricas.

Recentemente a TV Cultura voltou atrás no caso do fim do Manos e Minas, depois de uma mega repercussão/mobilização, a periferia está aprendendo a contestar ?
Juninho: Ahhh! Com certeza, a periferia aprendeu a contestar e está aprendendo bastante coisa, ficamos felizes pela repercussão em defesa dos bons programas da Cultura, é um direito a menos pra gente perder, e um exemplo a mais de que a Mobilização funciona, a gente é criado numa cultura do medo, onde quem manda é a maquina, e quando precisamos enfrentar algo, esquecemos que a tal maquina é composta por seres errantes e mortais como qualquer um. Acredito que caminhamos para um futuro melhor, mas se ficarmos esperando que façam por nós, que entreguem pronto... principalmente por “aqui”... só ficaremos esperando até cansarmos de viver.

Um filme ?
Juninho: A espera de um milagre, é um que marcou minha infancia e traz no titulo uma sugestão que vai de encontro com a resposta anterior...

Um livro ?
Juninho: O Livro que mais li na vida foi o Assim Falava Zaratustra, do polemico Friedrich Nietzsche, que busca a superioridade do ser humano, numa doutrina fora dos sistemas atuais de controle pelo poder.

Quem é o Juninho no dia a dia ?
Juninho: O Juninho é o mais o tranqüilo dos homens, sempre rindo, poeta, fala mansa (comparado aos gritos monstruosos na banda de hardcore), tenho dois filhos, o João fazendo 6 anos, e o Pablito de 7 meses, mais uma vozinha que mora comigo de 93 anos, a Maria minha esposa, divide essa responsa comigo, entendendo todos os corres, todo meu sacrifício de tempo dividido entre a família, a casa, o trampo, a banda, o CICAS, os estudos que não podem parar e o planejamento futuro, de novos projetos, da escrita... enfim. O Juninho no dia a dia é quase tudo que está a seu alcance, tentando aproveitar cada situação e sonhando com o regitro e continuidade de tudo isso.

Considerações finais ?
Juninho: Quero apenas agradecer a essa oportunidade e contato, agradecendo também a todos que fizeram e fazem parte da caminhada cultural brasileira, temos que expor nosso orgulho nas artes e assim continuaremos contaminando novos corações de esperança real.

Luiz Carlos Sendro Junior (Juninho13)
nascido em 20 de agosto de 1983.


Sede do CICAS

CONTATO: projeto.cicas@gmail.com