quinta-feira, 28 de abril de 2016

Entrevista exclusiva com Brisa De La Cordillera

Entrevista exclusiva com a chilena "Brisa De La Cordillera", que vive no Brasil e é MC.
Vamos saber mais sobre ela, suas ideias e referências.
Fale a pena conferir, vamos lá ?




Alessandro Buzo: Quem é Brisa De La Cordillera por ela mesmo ?
Brisa:
Brisa de la Cordillera é plural. É Brisaflow. É música, mulher, mãe descabelada, filha teimosa, Collío da cidade grande, sereia dos flow, mina de minas, bruxa da vassoura, soninho do sofá e do busão, (não posso sentar que já era) amante da rua, sedenta por cultura, viceral, de lua, mulher que corre com lobos e corre deles também de vez em quando rsrs. Da zoeira, alegria, melancolia e poesia. Em constante metamorfose, tipo a libélula, muitas transformações, sempre correndo. Energia pra trocar, aprendiz da vida.

Buzo: O que te trouxe do Chile pro Brasil, quando foi que venho ?
Brisa: A ditadura de Pinochet fez meus pais saírem do país. Minha mãe fez esse rolê com nove meses de gravidez. Passaram pela Argentina e depois chegaram aqui, em SP, na Sé ficaram uns dias e depois foram pra Minas Gerais. Inverno de 1987.


Buzo: VC morou em Belo Horizonte antes de São Paulo, fale da sua vida nessas capitais ?
Brisa: Meus pais artesãos precisavam de um lugar pra vender e aí foram pra BH fazer as feiras da Afonso Pena domingo. Só que a gente foi morar em Sabará, região metropolitana. Cresci nas feiras de artesanato, tinha diversas artes e comércio, foi legal, fiz muita amizade. Jovencita ia pra BH final de semana, maleta - matriz - mais tarde o duelo de mcs. Eu vivi essa ponte BH-Sabará uns 17 anos direto. Depois morei no M.Goretti no Jardim Vitória e no Ipanema. Voltei para o Sabará. Quando resolvi vir pra São Paulo vim na sede de aprender mais, trazer minha música, amadurecer e trabalhar. Gosto de São Paulo. Sinto a diferença das duas capitais mas aprendi gostar de cada uma a sua maneira.


Buzo: Como foi participar da REVISTA/LIVRO "Mulheres de Palavra" ?
Brisa: Foi maravilhoso. Uma honra. Só mina foda. É importante que caminhada e o trabalho dessas mulheres seja registrado e compartilhado, gratidão a Ketty e todos que fizeram o Mulheres De Palavra.


Buzo: Você teve um professor de música que vc cita como fundamental na sua vida, a música tem o poder de mudar uma vida, uma trajetória ?
Brisa: Sim o Seu Sebastião. Ele era maestro e dava aula numa associação do bairro. Eu passava lá na rua dele e ouvia ele tocando trombone. Eu já era locona com música, doida pra aprender. Um dia bati na casa do Seu Tião e perguntei se ele podia me ensinar. Eu tinha 11 anos. Ele me mostrou vários VHS de jazz e de orquestra. Eu não entendia inglês mas a música falava comigo. Me ensinou desde o básico de teoria. Me botou na banda me ensinou tocar clarinete. E uma janela no meu mundo se abriu. Igual quando fui descobrindo os raps. Música lá em casa era vista como arte-arma de protesto. Acho que por isso o rap bateu legal no peito. Os discos. Os cantores. A mensagem chega. A gente vai absorvendo. A música tem esse poder sim. De entrar em você, te tocar, transformar as coisas ao redor. Todo mundo tinha que ter aula de música nas escolas, centros culturais, porque ajuda em todos aspectos e quem quisesse seguir carreira de músico ia ter uma base pra tentar entrar em conservatórios e facul que segregam tanto.


Buzo: Quais suas bandeiras de luta ?
Brisa: De liberdade e empoderamento dos oprimidos, contra o ódio e violência do opressor.


Buzo: O Rap venho pra VC .... quais suas referências ?
Brisa: O rap veio aqui no Brasil. Troca de fita k7 com amigos. Chegou muita coisa boa no meu radinho. Fugees e Racionais faziam minha cabeça. Depois frequentando as festas de rap vi a Áurea do Dejavu rimando e endoidei a cabeça. Black Alien também. Hoje minhas referências se atualizam. Ainda escuto os clássicos mas tô numa fase das minas Little Simz, Ibeyi, Dana Suárez, Bibi, elas todas me representam e são grande referência pro meu trampo.


Buzo: O que o Hip Hop representa na sua vida ?
Brisa: Esperança, revolução, transformação, alimento, resistência.


Buzo: Se fosse destacar uma mulher, quem seria ?
Brisa: Do Brasil a Sharylaine que foi a primeira de nós a gravar um rap e hoje continua sendo resistência e luta.


Buzo: Fale da Frente Nacional Mulheres no Hip Hop - BR ?
Brisa: Somos mulheres trabalhando em várias partes do Brasil, pelo hip hop e nos unindo pra continuar sendo resistência em uma sociedade que nos quer silenciadas.


Buzo: VC participou do Sarau das Mulheres contra o golpe, como vê essa questão do GOLPE e da Resistência ?
Brisa: Eu não era nascida em 64 mas ouvi meus pais falarem bastante sobre os golpes da América Latina. Bate uma deprê muito grande ver os deputados e outros governantes que temos. Mas não adianta chorar, a luta continua. Vamos em todos atos que pudermos e nos organizar. Acho que a esquerda tem que resistir. As frentes, os coletivos, os grupos. Com todos os tipos de manifestações. Não podemos permitir outro golpe. Os caras estão lá no poder, rindo da nossa democracia rasgadada por eles ao vivo na tv. Golpe é retrocesso. é ameaça a liberdade pq sabemos tudo que essa direita suja compactua que vai contra as causas que lutamos e acreditamos. Sem falar que pedir Impeachment sem causa é a maior doideira. Manipular a população pra misoginia e intolerância sim que é um crime. Pra mim isso aí é o maior machismo da história da nossa política. A mulher lutou pela nossa democracia, foi presa, torturada e aí vem o outro deputado infeliz e tem coragem de mandar um salve e homenagem em rede nacional pro militar que foi seu torturador ? Que absurdo! Querer tirar uma mulher simplesmente porque ela não cedeu a todas ordens da corja, porque ela peitou e irritou com as decisões que resolveu tomar? Todos podemos ter opiniões diferentes sobre política mas não podemos perder a noção. Fazer imagens com a cara da presidenta, falar do seu corpo, da sua opção sexual, usar palavrões pra ofendê-la por aí vai é violência contra mulher. Isso é grave. Em um país que tem a média 13 mulheres mortas por dia. E as crianças? Quantos meninos foram influenciados a serem misóginos com os comentários que ouviram dos adultos sobre a presidenta? Aí fica a questão: Se não respeitam nem a presidenta vão respeitar outra mulher? Se ela fosse homem isso estaria acontecendo? E se acontecesse seria tão desrespeitoso ? Tenho inúmeros questionamentos sobre o governo atual, muita coisa por fazer, muita utopia, mas não posso e não acredito que o partido "dos em cima do muro", que quando convém é direita e quando convém é nada, vai ser melhor pra nosso povo. No game é tudo pelo $$$. Isso aí tem cara de golpe inspirado no seriado House of Cards. Tudo bem pensado pelo vice e pelo presidente da Câmara. Por isso a gente tem que ir atrás da informação. Resistir, é hora de se fortalecer, se organizar, porque se não a coisa só vai piorar.


Buzo: Feminismo ?
Brisa: Libertador .Interseccional. De mãe, de rua de #greloduro.


Buzo: Um livro ?
Brisa: Pode dois? Veias abertas da América Latina do Eduardo Galeano e Sejamos todos feministas da Chimamanda


Buzo: Um filme ?
Brisa: Marighella



Buzo: Um cantor, cantora ou grupo ?
Brisa: Nina Simone e Violeta Parra. Descansem em paz maravilhosas, vocês merecem a glória do paraíso das Deusas.


Buzo: Um sonho ?
Brisa: Que não existisse mais polícia serva de opressor, do "assassinato e violência seletiva" - que odeia e mata negros, pobres, putas, trans, gays, lésbicas. Que intimidam as mulheres que procuram a delegacia pra fazer b.o. contra violência. Que invade a terra dos índigenas a mando de fazendeiro e político. E que essas terras sejam devolvidas aos os povos originários .Quando chegar esse dia cantaremos e dançaremos e pachamama vai chorar de felicidade sobre nossa terra. Eu sonho mesmo e sonho muito mais pra nós.


Buzo: Considerações finais, o que quer dizer pra quem curtiu essa entrevista ?
Brisa: Obrigada a quem deu um pouquinho do seu tempo pra me ler, se quiser me ouvir escute aqui https://www.youtube.com/brisaflowmc
Esse ano sai meu disco "Newen". Se curtir meu som acompanhe meu trabalho aqui. https://www.facebook.com/BrisaFlowMC/
Fortaleçam o hip hop, fortaleçam o trampo das minas. Fortaleça a poesia. Mantenha a cultura viva.
Buzo muito obrigada por este espaço. Tamo junto. Adorei estar no sarau Suburbano. Poesia marginal vive! Que as palavras da revolução se multipliquem.





Brisa De La Cordillera no lançamento de Mulheres de Palavra no Sarau Suburbano