Horácio Indarte nasceu em 08 de Outubro de 1961 na cidade de Porto Alegre, veio para SP com 23 anos em 1985, no ano de 98, foi flagrado com 5 gramas de cocaína que eram para uso pessoal, mas foi preso, autuado em flagrante e condenado por tráfico, passou 2 anos de 10 mesês preso entre DP, Carandirú e penitenciária, depois dessa tragica passagem, escreveu o livro “Zé Contente – A Luta Pela Sobrevivência No Carandirú e Em Outras Prisões, no ano de 2001, foi publicado em 2003 e lançado na Feira do Livro de Porto Alegre.
Em 2004 lançou ainda na Bienal do Livro de SP, hoje procura lançar uma segunda edição e um segundo livro.
Mora atualmente no centro de SP.............
Horácio Indarte e seu livro "Zé Contente - A Luta Pela Sobrevivência no Carandiru e em Outras Prisões
Alessandro Buzo: Como é ser preso como traficante, sendo na realidade um usuário ?
Horácio Indarte: Em primeiro lugar é uma barra, porque o usuário não entende de lei, ai passamos a entender quando vamos preso, lá tem gente presa em qualquer artigo do código penal. E vc tem contato com todos tipos de crime. A lei principal pra mim foi a humildade, antes de ser preso eu muito pedante, aprendi a ser humilde na cadeia. Porque lá é uma obrigatoriedade ser humilde.
Completamente contraditório, ser preso como usuário e condenado como traficante, hoje as leis mudaram e talvez nunca eu seria condenado por trafico.
Buzo: Que ano vc foi preso ?
H.I. Fevereiro de 1998.
Buzo: Se hoje, vc passar em frente a 15ª DP, qual seria o seu sentimento ?
H.I. Um sentimento neutro, porque a delegada que me incriminou foi afastada, é a mesma que prendeu os supostos assaltantes do Bar Bodega e na realidade eram piões e foram torturados até confessarem um crime que não cometeram. Sem eu fazer nada, foi feito uma justiça.
Buzo: Quanto tempo ficou preso ?
H.I. Fui condenado a 4 anos e como era primário eu tirei 2/3 da pena, fiquei dois anos e dez mesês
Buzo: O que foi a coisa mais importante, para vc conseguir segurar essa barra ?
H.I. Na cadeia a gente tem humildade e acredita em Deus, todo preso acredita em Deus.
Acho que isso é o mais importante. Apesar de ter várias religiões lá dentro.
Buzo: Vc passou pela 15ª DP, Carandirú e por fim Penitenciária de Pirajuí II, qual dos 3 lugares, foi mais barra pesado ?
H.I. Sem dúvida nenhuma, a 15ª DP do Itaim Bibi
Buzo: Porque ?
H.I. Porque ali não podia nem falar, e eu não entendia as girias, porque pra mim eu já estava preso, como não podia falar.........tinha que pagar bóia, pagar ducha, não chegar perto da barraca de bóia sem camisa, tinha que ter o proceder do ladrão que eu não tinha.
Buzo: E como foi sua passagem pelo famoso e extinto Carandirú ?
H.I. Minha passagem pelo carandiru foi muito rápida, 45 dias e ali foi mais um choque psicológico, porque ali tinha condenados pela justiça, a 20, 30 anos, até presos com 200 anos nas costas.
E quando havia um linchamento no pátio, ouviamos gritos de não me mate, não me mate e depois vinha o silêncio, porque o cara tinha morrido. Eu vi isso também no livro “Vigiar e Punir” do Michael Foucoult, que na França existia o suplício que era pessoas condenadas e torturadas até a morte e também gritavam da mesma forma.
No Carandirú eu não vi, só escutava.
Buzo: Depois vc foi para Pirajuí II, quantos kilometros são de SP ?
H.I. Mais ou menos 400 kilometros. Uma hora de avião.
Buzo: Já tinha andado de avião antes ?
H.I. Eu já, mas os outros não. Tanto é que aconteceu de gente se mijar, cagar, porque estavamos algemados, cães latindo na nossa cara, uma hora terrível.
Buzo: Essa uma hora, foi a pior dos dois anos e dez mesês, ou o que pode ser pior que isso ?
H.I. A pior foi o dia da liberdade, horas antes, porque não passava, parecia que não viriam me buscar nunca.
Buzo: Saiu como, a 400 kilometros de SP ? Como algum dinheiro, qual era a situação ?
H.I. Eu tinha combinado com um amigo de me esperar no Term. Barra Funda, a Coesp pagou a passagem do ônibus, botou dentro do ônibus e eu tinha uns R$ 70,00 do pecúlio, porque ter trabalhado uns mesês na cadeia.
Buzo: Foi preso, por uso de cocaína, depois que saiu, voltou as drogas ou nunca mais ?
H.I. Não voltei não, não tenha mais nescessidade, só bebo alcool.
Buzo: Como e porque resolveu escrever tudo isso em livro ?
H.I. Eu já pensava em escrever uma história, quando vim pra SP, já tinha o talento da escrita, mas precisava da história, ai esse fato aconteceu e fiz do limão uma limonada.
Buzo: O Zé Contente, te satisfez, como autor ?
H.I. Não. De jeito nenhum, eu sou um autor fudido, quero mais do que isso.
Buzo: Qual o proximo livro, tem em mente ou está escrito ?
H.I. O proximo está escrito, são contos de ficção e infanto juvenil, chama-se: X Coração.
Buzo: O que ele aborda ?
H.I. São personagens criados na minha mente, pra vc ter idéia, numa história a Monalisa sai da tela e pede esmola na rua.
Buzo: Qual seu sonho de vida hoje ?
H.I. Eu só sonho em publicar cada vez mais, ou seja, arrumar uma editora pra que eu ter mais liberdade dentro da escrita.
Buzo: O que tem a dizer, para quem ainda não leu Zé Contente ?
H.I. Leiam. Porque o Zé precisa sair ter uma segunda edição, nova correção e prefácio de Luiz Eduardo Soares.
Buzo: Considerações finais ?
H.I. Boa leitura, procurem o livro.
Horácio Indarte abraçado com sua irmã, Luiza Indarte, na Cadeia de Pirajuí II
Contato Horácio Indarte:
horacio.indarte@bol.com.br
FaceBook: Harácio Indarte
Sobre o livro:
Esta é a história de um mundo que não existe mais. Pelo menos parte dele. O Complexo Penitenciário do Carandiru foi demolido em dezembro de 2002, Em seu lugar foi construído o Parque da Juventude, destinado ao lazer e esportes. Daquele presídio restam as lembranças, como as do médico Drauzio Varella, que lá trabalhou voluntariamente e publicou a premiada obra “Estação Carandiru”. Ou de quem viveu na condição de preso, como foi o caso de Horácio Indarte. Depois de cumprir pena durante dois anos e dez meses, esse gaúcho de 42 anos hoje está livre para contar os fatos que marcaram a sua passagem por três prisões paulistas: em um distrito policial, no Carandiru e na Penitenciária do Pirajuí. Seu livro começou a ser elaborado durante o período em que esteve detido e nele desfilam os mais diversos personagens. Como Zé Contente, que dá título à obra. O autor fez questão de manter a gíria dos apenados e por isso, ao final, encontra-se um glossário das palavras ou expressões utilizadas no dia-a-dia da carceragem.
Horácio escreveu esse livro em parte para exorcizar seus demônios, é verdade. O relato sobre a morte de 13 presidiários queimados durante uma rebelião, por exemplo, é chocante. Mas nada deixou de ser contado da forma como aconteceu. Para mostrar que não há bem mais precioso na vida do que a liberdade. Essa, pelo menos, parece ser a principal lição da leitura de "Zé Contente - a luta pela vida no Carandiru e em outras prisões".
terça-feira, 30 de março de 2010
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Buzo, muito agradecido primeiro lugar pela sua leitura e depois esse apoio logistico e essa entrevista.
ResponderExcluirHorácio Indarte
muito boa esta entrevista, este é um otimo escritor e uma otima pessoa. parabens horacio e te desejo 1000 felicidades.
ResponderExcluirass: André (R)