terça-feira, 31 de agosto de 2010

Entrevista exclusiva com o cineasta Cacá Diegues

m dos maiores cineastas do país, Cacá Diegues tem forte ligação com a periferia e nessa entrevista exclusiva aos nossos blog´s, ele comenta o 5X Favela e confirma que vem ao Itaim Paulista, exibir DOC. gravado paralelo a gravação do filme, além de promover debate com outros diretores da Obra.
No dia (a confirmar), teremos abertura do filme "Profissão MC"....



Alessandro Buzo: Qual a diferença (ou não existe) do filme 5XFavela de 1962 e o de agora ?
Cacá Diegues: O filme de 62 era dirigido por cinco jovens universitários de classe média, com uma visão social e politicamente generosa. Mas esse é realizado por jovens moradores de favelas, cineastas que nasceram e moram nessas comunidades e que portanto são capazes de contar suas histórias de modo mais sincero, verdadeiro e visceral. É a primeira vez que isso acontece no cinema brasileiro.

Buzo: Como conheceu os diretores dos 5 episódios atuais ?
Cacá Diegues: Desde o início da década de 1990 que dou aulas, faço palestras, organizo projeções de filmes nessas comunidades, convidado pelas ONGs locais. Fui um dos fundadores, por exemplo, do curso de audiovisual da CUFA, em Cidade de Deus. Nesse período, vi uma geração de cineastas moradores de favelas surgir e crescer. Alguns dos que fizeram 5XFavela são amigos antigos, que acompanho há muito tempo. Mas outros eu conheci durante as oficinas de roteiro e preparatórias para o filme.

Buzo: Defina Periferia / Favela, como vê essa questão, socialmente e culturalmente ?
Cacá Diegues: Não tenho capacidade cientifica ou cutural para dar uma definição precisa de periferia ou favela. Mas eu diria que são comunidades excluidas dos direitos de cidadania que o resto da população tem. Comunidades onde o estado não chega com seus serviços básicos de segurança, saúde, educação, etc.

Buzo: Na decada de 60, 70...você já fazia filmes como Gamba Zumba, Xica da Silva, depois decada 80....Quilombo ? De onde vem a ligação com o tema ?
Cacá Diegues: Basta colocar uma câmera na rua que ela vai registrar uma realidade que as elites do país sempre negaram. O Brasil é um país luso-africano, e devia se orgulhar muito dessa originalidade que lhe permite dar uma contribuição decisiva e positiva à civilização mundial. A história da cultura negra, de descendência africana, no Brasil, tem muito a nos ensinar sobre isso.

Buzo: Governo Collor pro cinema brasileiro ?
Cacá Diegues: Foi um desastre, Não só pro cinema, como para toda a cultura nacional. Um homem que levou seu rancor pessoal para o exercício do poder público,

Buzo: Qual sua ligação com Maceió-Alagoas, onde nasceu ?
Cacá Diegues: Uma profunda ligação sentimental. Foi lá que vivi minha infância e, sempre que volto lá, ainda procuro os mesmos cheiros e gostos que sentia quando era criança. Ainda tenho muitos e bons amigos por lá.

Buzo: Assisti no Olido (centro SP), decada de 80, o filme "Um Trem Para as Estrelas", como foi produzir esse e outro filme "Dias Melhores Virão" numa fase difícil do nosso cinema ?
Cacá Diegues: Naquele momento, o cinema brasileiro passava por momentos dificeis, como aliás o resto do Brasil. A ditadura tinha acabado mas a democracia não havia trazido desenvolvimento e bem estar para o povo. A produção de cinema no Brasil havia caído de quase cem filmes anuais, no fim dos anos 1970, para menos de 20 no final dos anos 1980. Em 1992, por exemplo, já no governo Collor, não se produziu nenhum filme no país.

Buzo: O título "Dias Melhores Virão" é uma mensagem do cinema brasileiro, de que as coisas iam mudar ?
Cacá Diegues: Era mais uma declaração de desejo de que as coisas mudassem. A própria história do filme apontava para uma ironia em seu título.

Buzo: Importancia do filme "Cidade de Deus" para popularizar o cinema nacional e qual mais você destaca que cumpriu esse papel ?
Cacá Diegues: O grande filme nessa fase de "retomada" do cinema brasileiro, a partir de 1995, foi "Central do Brasil", de Walter Salles, um filme que insistia na ideia de filmar a cara do Brasil como ele é e, ao mesmo tempo, ser acessível a seu povo. "Cidade de Deus" é um grande filme, uma verdadeira obra-prima, mas foi um pouco vítima do seu próprio sucesso, reforçando um estereótipo sobre as favelas e periferias do país.

Buzo: Como é ter seus filmes exibidos comercialmente na Europa, EUA, América Latina ? Cite um filme que foi muito sucesso no extrageiro, em qual país mais precisamente ?
Cacá Diegues: É sempre bom saber que outros países têm curiosidade pelo que fazemos aqui no Brasil. Em geral, meus filmes têm circulado pelo mundo todo e isso significa que se interessam pelo que eu faço. E pelo Brasil também. Meu filme de maior sucesso no mundo foi Bye Bye Brasil. Mas outros, como Xica da Silva, Quilombo, Um trem para as estrelas, Orfeu, etc., também circularam muito por todo o mundo.

Buzo: Quando é indicado para grandes premiações, o que espera delas ? Da um frio na barriga ?
Cacá Diegues: É sempre um prazer ganhar um premio, mas não quero dirigir minha atividade para isso. Se o premio vier, tanto melhor, mas não é para isso que faço filmes.

Buzo: OSCAR ? O que pensa dele e pretende ganhar a estatueta um dia ?
Cacá Diegues: O Oscar é uma vitrine, como os festivais de cinema, através da qual mostramos nossos filmes para o mundo. Se quiserem me dar um, aceito com todo prazer. Mas não trabalho com essa meta.

Buzo: Quem é Cacá Diegues no dia a dia ?
Cacá Diegues: Um cara que trabalha muito e se interessa por gente, a começar pela própria familia.

Buzo: De um a três filmes que marcaram sua vida ? Porque ?
Cacá Diegues: Sempre gostei de cinema, mas nunca pensei em ser cineasta, achava dificil isso acontecer no Brasil de minha adolescência. Foi quando vi "Rio, 40 graus", de Nelson Pereira dos Santos, que vislumbrei essa possibilidade e decidi ser cineasta brasileiro.

Buzo: Um ator brasileiro ?
Cacá Diegues: José Wilker, Antonio Fagundes, Lázaro Ramos.

Buzo: Um atríz, também brasileira ?
Cacá Diegues: Fernanda Montenegro, Zezé Motta, Roberta Rodrigues

Buzo: Projetos como CUFA, Afroreggae, Enraizados....só pra citar o Rio de Janeiro, como vê o crescimento deles ? Qual a importancia que isso tem ?
Cacá Diegues: Essas organizações são indispensáveis, elas estão mudando o caráter da produção cultural de periferia, dando a esses jovens artistas um outro sentimento sobre eles mesmos e o mundo em que vivem. "5XFavela" não existiria sem o apoio decisivo de CUFA, Nós do Morro, AfroReggae e Observatório de Favelas.

Buzo: Em quem vai votar pra presidente em 2010 e o que achou de 8 anos do Governo Lula ?
Cacá Diegues: Votei duas vezes no FHC e duas vezes no Lula, e fiquei muito contente com isso, nenhum dos dois me decepcionou. O Brasil podia avançar mais depressa, mas de qualquer maneira melhorou muito neste período dos dois presidentes.

Buzo: Pra encerrar.....vem mesmo ao Itaim Paulista, exibir o DOC (gravado paralelo as filmagem do 5XFavela) ? Conhecer o Espaço Suburbano Convicto ? O que espera do encontro ?
Cacá Diegues: Vou, sim, basta marcarem a data e eu estarei lá, com alguns dos cineastas jovens de 5XFavela. Esse encontro é indispensável para que conheçamos uns aos outros, compreendamos que os problemas são os mesmos e as aspirações também. São Paulo e Rio de Janeiro são cidades formadas por um mesmo povo, com a mesma origem, as mesmas dificuldades e os mesmos sonhos. Nada mais importante nos encontrarmos para constatarmos isso e nos entendermos melhor ainda.


Cacá Diegues vem ao "Espaço Suburbano Convicto" exibir o DOC. gravado paralelo ao filme "5X Favela - Agora Por Nós Mesmos" e fazer um debate.
Jovens diretores do filme também vem.......

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