sábado, 25 de setembro de 2010

Bocada Forte: Entrevistas

Suburbano Convicto: Alessandro Buzo celebra 10 anos de carreira
Data: 24/09/2010

Essa entrevista minha (Buzo), feita pela amiga Jéssica Balbino e publicada originalmente no Site BOCADA FORTE (www.centralhiphop.com.br)



Em comemoração a seus 10 anos de carreira, o escritor, apresentador de TV, cineasta e agitador lança o livro independente Buzo 10, com 10 crônicas
Diariamente, ele enfrenta mais de duas horas de trem, entre Itaim Paulista e o bairro do Bixiga, no centro de São Paulo, onde administra a livraria Suburbano Convicto. Participa de saraus, encontros, debates e palestras, e viaja por todo Brasil. Responde e-mails, atualiza todos os blogs que tem, cuida da esposa, do filho e ainda concilia o tempo com a diversão - o que inclui livros, filmes e a cervejinha. Coleciona, além de livros – está lançando seu sexto título -, amigos e admiradores por todo o país, que carrega consigo, ajudando e dando a primeira oportunidade a novos escritores, na coletânea Pelas Periferias do Brasil.
Alessandro Buzo não para. E, enquanto atualiza seu microblog no Twitter (@Alessandrobuzo), parece se desdobrar em vários, para dar conta de tantos compromissos e realizar todos com precisão e profissionalismo. Também é apresentador de TV (com o quadro “Buzão Circular Periférico”, no programa Manos e Minas, da TV Cultura) e cineasta, tendo produzido o filme independente Profissão MC, protagonizado por Criolo Doido. Cheio de ideias, também criou o Espaço Suburbano Convicto, na zona leste da maior cidade brasileira.
Buzo, que completa 38 anos neste sábado (25/9), está lançando o livro Buzo 10, com 10 crônicas, celebrando seus 10 anos de carreira. Assim, este ´suburbano convicto` se alimenta de cultura e não deixa de distribuí-la por onde passa, sendo o dono da primeira livraria do Brasil especializada em literatura periférica. Confira, a seguir, uma entrevista com este inquieto escritor e agitador cultural:



Central Hip-Hop (CHH): Fale um pouco sobre seus 10 anos de carreira e sobre as diversas atividades que desenvolve.
Alessandro Buzo (Buzo): Sou escritor, apresentador e cineasta. Desde o lançamento do meu terceiro livro, vi que era isso mesmo que eu pretendia fazer o resto da vida: trabalhar com cultura. Mas um marco foi quando me libertei do trabalho em uma empresa e passei a viver só dos meus ´corres` culturais, isso foi de 2007 para 2008. São poucos que, hoje, conseguem viver só da cultura, e me orgulho de ser um deles.

CHH: Qual foi o principal ponto de mudança? O que você acha que determinou que mudasse de profissão - e de rumo - e chegasse hoje aos 10 anos de carreira?
Buzo: Acreditar nos sonhos mais loucos que eu tive. Se não fosse assim, não teria lançado todos esses livros, não teria feito um filme sem dinheiro, não teria conseguido chegar à TV Cultura. A coragem de fazer e depois ver no que ia dar foi determinante. As pessoas, muitas vezes, não fazem porque esperam outras pessoas acreditarem nos projetos. Eu sempre acredito antes de qualquer um.

CHH: Como é completar uma década dentro hip-hop e, principalmente, dentro da literatura periférica, ainda pouco reconhecida?
Buzo: Ainda é muita "resistência", porque os espaços não são muitos e tem muita gente no corre, procurando se destacar. Para mim, completar 10 anos e estar com tantos bons projetos em andamento é motivo de alegria e satisfação pessoal. Cheguei até aqui sem pisar em ninguém e ainda trazendo muita gente comigo.

CHH: Este seu sexto livro está sendo lançado de maneira independente. Como é isso? Apesar de você já ter trabalhado com duas editoras, nenhuma delas quis abraçar o projeto dos 10 anos de carreira?
Buzo: É um livro comemorativo, com 10 crônicas sobre esses 10 anos. Não é um projeto assim tão “comercial”, então nem procurei editora. Mas nesse ano ainda lanço meu sétimo livro, Hip-Hop - De Dentro do Movimento, e de novo vai ser pela Aeroplano Editora. Para mim, é tranquilo. Uns podem sair por editoras e outros pelo selo que estou lançando, o Suburbano Convicto Edições.

CHH: Você é proprietário da primeira livraria do Brasil especializada em literatura marginal, um local em que recebe inúmeros amigos de todo o Brasil e oferece produtos voltados para a cultura hip-hop, além de um grande acervo. Isso sem falar nos saraus, debates e eventos que você promove no espaço. Você acha que, com isso, está inovando no modelo de livrarias do país, assim como fez com o modelo de literatura?
Buzo: Acho que sim. A livraria é cada vez menos comércio apenas, e está se tornando um centro cultural. Acho que isso ajuda e muito a ter uma identidade própria, mas, quanto a ser exemplo para outras livrarias, só o tempo irá dizer.

CHH: Quando você decidiu que seria escritor e não mais assalariado, e que viveria de cultura, imaginou, em algum momento, como estaria hoje, 10 anos depois?
Buzo: Passei sete anos desses dez fazendo as duas coisas. Só em 2008 é que, de fato, consegui deixar a empresa em que eu trampava, vendendo alimentos para restaurantes, e me tornar apenas o Buzo dos corres culturais.

CHH: Nesses 10 anos, qual foi o pior momento?
Buzo: Foi entre 2002 e 2003. Eu estava endividado, desanimado, tinha lançado meu primeiro livro em 2000 e não tinha nenhuma perspectiva de conseguir publicar o segundo, o que só aconteceu em 2004. Nessa época, eu estava passando por sérias dificuldades financeiras e foi o pior momento desses 10 anos. Mas... nada como um dia após o outro dia.

CHH: Em alguma ocasião você pensou em desistir?
Buzo: Sim. Nesse tempo, pensava que não tinha passado de uma ilusão ter lançado um livro. Eu estava sem rumo e sem motivação, mas sempre que pensava em desistir vinha uma entrevista, uma matéria, uma palestra, e me mostrava que o sonho não tinha acabado. Um dia, estava desanimado e o Helião me ligou para convidar para sair nas fotos do encarte do CD Evolução É Uma Coisa, do RZO. Essas coisas me motivavam nos piores momentos.

CHH: E qual foi o melhor momento?
Buzo: Foi o lançamento do meu filme com a Galeria Olido lotada, é cada vez que uma pessoa diz que leu um livro meu e curtiu, quando dizem que acompanham meu quadro na TV...

CHH: Você imagina como estará sua vida nos próximos 10 anos? Tem planos?
Buzo: Tenho sim. Quero lançar outros livros e filmes, quem sabe com um programa de TV em vez de um quadro. Quero estar empregando pessoas pra trabalhar comigo, quero ter minha casa própria e mais estrutura.

CHH: Entre os inúmeros projetos que você tem atualmente, qual deles lhe dá mais prazer? Por que?
Buzo: Lançar um livro novo me dá prazer, ter o quadro na TV me dá prazer, porque estou mostrando uma periferia que o Datena não mostra. Ver meu filme sendo exibido me dá prazer.

CHH: Você se considera uma referência da literatura marginal brasileira? Por que?
Buzo: Acho que outras pessoas devem achar isso. Eu só faço as coisas, não com esse intuito, só vou fazendo. "Nóis capota mas num breka!”. Fico feliz quando alguém diz que eu sou referência, mas essa não era minha meta principal. Aconteceu naturalmente.

CHH: O que nunca o perguntaram, mas você gostaria de ter respondido?
Buzo: Eu gostaria de ter respondido que vivemos num mundo mais justo, com menos corrupção e desigualdade social... Quem sabe um dia isso não se torna uma realidade e eu possa responder na entrevista dos meus 20 anos de carreira?

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