terça-feira, 20 de novembro de 2012

Iniciando a série de 10 entrevistas nesse final de ano. JÉSSICA BALBINO, escritora e jornalista.

Entrevista numero 1/10. Por Alessandro Buzo
Buzo: Quando te conheci, seu sonho era lançar 1 livro e trabalhar com a mídia do Hip Hop. Esses sonhos VC já realizou, quais as novas metas ? Jéssica Balbino – Nossa, são muitas. Eu não paro de ter ideias e faltam pernas para executá-las, mas eu quero muito fazer mestrado, doutorado, me embrenhar mais nessa área acadêmica, que me fascina bastante e seguir trabalhando. Tem muitas histórias que eu gostaria de contar por meio do jornalismo e estou pesquisando-as, observando-as. Acho que estou em uma fase meio ‘sabática’, mais de observação e de menos produção. Mas os sonhos não param. O Livro "TRAFICANDO CONHECIMENTO" te trouxe os resultados esperados ? Jéssica Balbino – Trouxe sim. Com ele eu consegui explanar muita coisa da minha carreira, das minhas correrias e me tornei mais conhecida, sem falar que eu pude viajar e conhecer muitos locais que eu não conheceria se não fosse por meio deste trabalho, além de ter entrado em contato com pessoas incríveis como a Heloísa Buarque de Hollanda, responsável pela coleção Tramas Urbanas, outros autores e o pessoal da editora que foi muito respeitoso com meu trabalho. Foi uma experiência incrível participar desse projeto.
Como consegue ser ativa na cena Hip Hop de São Paulo, mesmo estando em Poços de Caldas ? Jéssica Balbino – Eu acho que é porque eu sou muito cara de pau e me imponho,mesmo através das mídias sociais...rsrsrs...falando sério, acho que é porque eu amo São Paulo, sempre tive muita identificação por ser o berço do hip-hop e também a capital mais próxima da minha cidade, mesmo sendo estados diferentes, então, sou apaixonada pela cena cultural paulistana e sempre que consigo, viajo para participar de encontros, debates e eventos e isso mostra que apesar de eu não viver na cidade, eu sou real e acompanho muito. Além disso, temos as redes sociais que neste caso são muito benéficas e aproximam as pessoas. Por exemplo, eu já era fascinada pela sua livraria sem nunca ter pisado nela, mas porque acompanhava pelo blog. Então, são estes fatores que me fazem ser ativa, mesmo estando geograficamente longe. O que um grupo de RAP precisa ter pra ter um mínimo de profissionalismo ? Jéssica Balbino – Em primeiro lugar, ele precisa querer se profissionalizar e se dedicar a isso. Sabemos que muita coisa é mais difícil no cenário da música independente, mas nem por isso devemos fazer ‘nas coxas’. Acho que vontade vem em primeiro lugar, seguida pela contratação de profissionais de apoio, sejam assessores, produtores, designers, entre outros. O maior problema é que todos hoje são ‘protagonistas’. Ninguém mais quer ser público. Todo mundo quer ser algo dentro do rap, mas poucos são os que tem conhecimento de fato para exercer as atividades. Os grupos precisam deixar de ter medo de investir, estudar, abrir a mente. Acho que já é um passo em busca do profissionalismo. Como VC vê a Mídia do Hip Hop nos dias de hoje ? Jéssica Balbino – Vejo ela engatinhando, assim como o hip-hop. Acho que aí sim, entra a questão do profissionalismo. A facilidade e o acesso aos meios de comunicação ‘democratizam’ o processo, mas muitas vezes o que se vê é mera reprodução e na minha visão, falta análise crítica, alguém que pense jornalisticamente dentro das mídias e não apenas reproduza conteúdos. No entanto, sou uma otimista e vejo com bons olhos as novas iniciativas, a apropriação da tecnologia para novos meios de comunicação e a circulação de novas revistas e programas voltados ao segmento.. Mas, como tudo na vida, acredito na pesquisa, no envolvimento e na ousadia. Quando a mídia do hip-hop conseguir somar isso, será ainda melhor. Livros, pretende lançar outros, tem algum na fila de espera ? Jéssica Balbino – Sempre tem. Eu tenho muita vontade de contar a história dos nossos quilombos e saraus, a nossa própria história, em formato de reportagem, como alguém que observa e compartilha isso. É algo que eu venho juntando material há anos, observando, coletando e em breve, terei novidades acerca disso. No mais, tenho também vontade de reportar sobre o protagonismo feminino no hip-hop. Também pesquiso sobre isso, mas acho que os dois projetos ainda vão me tomar um tempo. Qual suas referências literárias, dentro e fora da literatura marginal ? Jéssica Balbino – Eu sou rata de sebo e de biblioteca (e até de e-books, atualmente), então, eu gosto muito de ler e leio de tudo, sobre tudo. Atualmente tenho lido bastante coisas sobre a África, como o ‘A mordida da manga’, de Mariatu Kamara e estou lendo ‘Um defeito de cor’ de Ana Maria Gonçalves. No mais, leio todos escritores da Literatura Marginal, da nossa cena contemporânea. Uma pessoa que vc admira ? Jéssica Balbino – Alessandro Buzo. Um filme inesquecível ? Jéssica Balbino – ‘O Fabuloso Destino de Amélie Poulain’ e ‘Cidade de Deus’, mas gosto muito das produções periféricas que acompanho, tanto longas, como curtas e documentários. Um livro ? Jéssica Balbino – ‘Um defeito de cor’ de Ana Maria Gonçalves. Quando VC vem a SP, faz sempre várias atividades, quais locais de cultura vc conhece aqui e indica ? Jéssica Balbino - Nossa, sou uma apaixonada pelos saraus, mas um lugar que eu me sinto em casa é a Livraria Suburbano Convicto. É um pedaço da periferia, da nossa identificação no Centro da cidade. Passar por lá é obrigatório. Outro lugar que mexe com a minha alma é a Cooperifa. É preciso frequentar.
Como foi ter feito sua estréia na coletânea "Pelas Periferias do Brasil " ? Jéssica Balbino – Foi mágico, porque entrei em um meio que eu conhecia, mas onde as pessoas não me conheciam. Encontrei pessoas que me acompanham desde então. Que estavam naquela primeira coletânea, que iniciou um marco também na Literatura Marginal brasileira e é fantástico encontrar autores que também começaram ali e seguiram trabalhando. Foi uma grata oportunidade, que posso assegurar que acrescentou positivamente na minha vida.
E o livro POETAS DO SARAU SUBURBANO ? Jéssica Balbino – Foi muito legal também, até por encontrar parceiros que participaram do primeiro, ali, novamente, dividindo, novamente, as páginas de outro livro, já em outra situação. São sempre experiências muito enriquecedoras e estamos, de certo modo, escrevendo a nossa história. Considerações finais ? Informem-se. Conhecimento é poder, e liberta. CONTATO: jessicabalbino.jornalista@gmail.com

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