Seu nome é Wilma Ribeiro Souza, a Preta Pretinha..... Preta pretinha é uma mulher militante, feminista, negra, fotografa autônoma e nessa entrevista exclusiva vamos conhecer um pouco mais dela, que vai sempre fotografar os protestos em São Paulo, porque segundo ela, a mídia não mostra a verdade dos fatos.
Alessandro Buzo: Quem é Wilma Ribeiro Souza, Preta Pretinha, por ela mesmo ?
Wilma: Preta pretinha é uma mulher militante, feminista, negra, fotografa autônoma que está na luta diária pelo reconhecimento da Igualdade de Direito para as Mulheres.
Buzo: Comecei a prestar atenção nas suas postagens quando disse que ia com sua filha pros protestos, é isso mesmo, leva ela junto ? Quantos anos ela tem ?
Wilma: Sim minha filha (Anna Carolina de Souza Dias) vai comigo a atos, Protestos desde seus 15 anos de idade, hoje ela tem 21 anos.
Buzo: O que te motiva sair de casa pra ir a um protesto ?
Wilma: Oque me motiva é documentar os fatos através do fotojornalismo e acho importante a luta por um direito de ter um valor de passagem justo para todos.
Buzo: VC fotografa os protestos, o que faz com as imagens ?
Wilma: Sim fotografo,tenho uma pagina no Facebook onde disponho das imagens,pq nem sempre a vdd dos fatos são mostradas pela grande midia.
Buzo: O que pensa sobre o Movimento Passe Livre ?
Wilma: Eu acho um Movimento importante,mas acho que algumas posições deveriam ser repensadas para que o Movimento pudesse crescer mais.
Buzo: Black Block .... o que pensa sobre eles ?
Wilma: Eu acho que a maneira como eles lutam é muito independente e acaba desfavorecendo os Protestos,pq agem de maneira violenta.
Buzo: O povão, aquele que só quer manter o emprego.... não sabe o poder que tem ?
Wilma: Acredito que realmente o povo na sua grande maioria não saiba mesmo o poder que tem, principalmente nas eleições.
Buzo: Governo Alckmin ?
Wilma: Acho o pior governo que tivemos, um governo que acaba com educação, saúde,transporte não pode ser bom.
Buzo: O que achou das Ocupações nas Escolas ?
Wilma: Achei muito bom,acho que finalmente os jovens estão acordando e buscando seus direitos.
Buzo: Um mundo melhor é possível ?
Wilma: Sim é possível, se houvesse mais solidariedade,igualdade entre todos.
Buzo: Um sonho ?
Wilma: Meu sonho é poder ter um Projeto onde eu possa contar as historias de luta das pessoas,pelo Brasil á fora,revirar cada cantinho,mostrar através das minhas lentes,oque querem,como vivem e qual sua luta.
Buzo: Defina São Paulo ?
Wilma: São Paulo é o mundo, mas vejo uma São Paulo muito capitalista.
Buzo: Fale mais de VC, o que curte, onde gosta de estar em SP ?
Wilma: Eu curto Hip Hop e o lugar que gosto mais de estar é no centro de São Paulo,onde tudo acontece, onde é palco de muitas historias.
Buzo: Existe amor em SP ?
Wilma: Existe amor, mas ainda é pouco.
Buzo: Considerações finais....
Wilma:Quero acreditar em cidade justa para todos,em um mundo melhor,onde cada pessoa seja oque elas quiserem ,sem julgamento por cor de pele,eu busco este mundo.....onde pretos e brancos, homens, mulheres, trans, gays, lesbicas vivam em paz.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Entrevista exclusiva com o "polêmico" Erton Moraes de Osasco
Erton Moraes é músico e escritor, autor do livro: Dedo na Garganta da Ideia, promove o evento Cultura na Vila em Osasco onde mora, tem a Banda Mokó de Sucata. Uns o chamam de polêmico, rebelde....
Vamos conhecer um pouco mais desse artista periférico.
Por: Alessandro Buzo
Alessandro Buzo: Quem é Erton Moraes por ele mesmo?
Erton Moraes: Quem souber dar essa resposta na íntegra escreverá um best seller... rsrsrs – Quem se auto-define oprime a opinião alheia.
Buzo: Como anda a Banda Mokó de Sukata e planos pra 2016?
Erton Moraes: Estamos com músicas novas, queremos gravar um clip, montar um espetáculo com o movimento Trokaoslixo, junto com o maracatu-atômico Jorge Mautner.
Buzo: O que é TROKAOSLIXO?
Erton Moraes: TROKAOSLIXO é um Movimento Cultural que propõe a mistura de culturas, questiona o lixo mental como o racismo, a desigualdade social, as torturas. Lixos culturais que passa de pai pra filho. Todos sabemos que uma criança não nasce racista, ela é contaminada pelos nossos valores deturpados. O lixo cultural não é questionado nos meios de comunicação e o Brasil precisa de movimentos: somos punks, góticos, hippies, hip-hop, mas acredito que podemos criar nossos movimentos também, respeitando todos os outros, a exemplo do Mangue Beat.
Buzo: VC ajuda a promover o evento Cultura na Vila, quais os desafios?
Erton Moraes: Sim, esse ano o Cultura na Vila completará 15 anos, com muita luta. O Cultura na Vila é um movimento de resistência contra a maneira como os Artistas são tratados, não só em Osasco, como no Estado e no País. Os Artistas que não estão na grande mídia são tratados como lixo, e para fazer parte dessa mídia, o Artista geralmente precisa criar um produto de alienação, outro tipo de lixo. O caminho do Artista de Osasco tem que ser passivo e conivente com as panelas que são instaladas no meio da política local, caso contrário, tá fora. Quando o governo apoia um evento, ele não está te dando nada que já não seja seu. Aqui em Osasco você tem que mandar beijo pros políticos para ter apoio, esses são os desafios.
Buzo: VC é de Osasco, como anda a cena cultural da cidade?
Erton Moraes: Santo de casa não faz milagre, Osasco é uma cidade provinciana, mas artisticamente somos um povo muito rico, poetas, músicos, artistas circenses, atores, pintores, bailarinos...
Buzo: Em 2015 teve uma grande chacina em Osasco, porque isso ainda acontece nas quebradas?
Erton Moraes: A chacina foi no Munhoz. Eu cresci no Munhoz, Parque Imperial que é divisa de Barueri. É o seguinte: chacina no Munhoz, Helena Maria, sempre teve, a diferença é que hoje temos celulares, câmeras e isso repercutiu. Sempre falo do Trokaoslixo: esse é o efeito do lixo cultural, a violência que passa de pai para filho, para netos, num efeito dominó e a periferia paga a conta da sujeira do Estado.
Buzo: Porque vc tem fama de polêmico?
Erton Moraes: Para espíritos anêmicos, sou polêmico.
Buzo: Qual sua ligação com o falecido (morto aos 51 anos em 2008) escritor Austregésilo Carrano Bueno?
Erton Moraes: Meu irmão, amigo de aventuras, travessuras, fizemos arte.
Tiveram apresentações do Mokó de Sukata junto com sua peça: “O Sapatão e a Travesti”. Carrano foi o escritor que denunciou o maior problema da humanidade, a saúde mental, por isso suas ideias foram perseguidas. O Trokaoslixo fala do lixo mental por isso nossas ideias convergiam. Carrano morreu sem dinheiro e sem o reconhecimento merecido, ele era uma pedra no sapato tanto da direita quanto da esquerda.
Hoje temos o “Prêmio Carrano Direitos Humanos” que mantemos com dificuldades, ele incomoda até hoje.
Buzo: O que te inspira a fazer cultura?
Erton Moraes: O fato de existir. A existência humana é um continuo exercício cultural.
Buzo: 2015 não foi fácil, mas nos fale 3 coisas boas do ano passado?
Erton Moraes: Mokó de Sukata tocou no Sesc Osasco, apresentamos o tema do Movimento Trokaoslixo na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, meu amigo Vitor Cachoeira escapou de um grave acidente, minha filha dançou ballet junto com a mãe, a ocupação das escolas de SP foi o ato que serviu de lição para o país e descobri pelo facebook que pela quantidade de coxinhas, o Brasil não terá mais fome...
Buzo: Um salve pra quem vai ler essa entrevista e considerações finais?
Erton Moraes: Estudem nossas culturas, entenda a sua quebrada, valorize seus irmãos e irmãs, sejamos mais Preto e menos Black, senão a história que você produz hoje será esquecida pelos seus netos e bisnetos amanhã. Um salve para as donas Marias e os Seus Zés que sustentam nossas quebradas chamadas Brasil.
Erton Moraes e Alessandro Buzo
Vamos conhecer um pouco mais desse artista periférico.
Por: Alessandro Buzo
Alessandro Buzo: Quem é Erton Moraes por ele mesmo?
Erton Moraes: Quem souber dar essa resposta na íntegra escreverá um best seller... rsrsrs – Quem se auto-define oprime a opinião alheia.
Buzo: Como anda a Banda Mokó de Sukata e planos pra 2016?
Erton Moraes: Estamos com músicas novas, queremos gravar um clip, montar um espetáculo com o movimento Trokaoslixo, junto com o maracatu-atômico Jorge Mautner.
Buzo: O que é TROKAOSLIXO?
Erton Moraes: TROKAOSLIXO é um Movimento Cultural que propõe a mistura de culturas, questiona o lixo mental como o racismo, a desigualdade social, as torturas. Lixos culturais que passa de pai pra filho. Todos sabemos que uma criança não nasce racista, ela é contaminada pelos nossos valores deturpados. O lixo cultural não é questionado nos meios de comunicação e o Brasil precisa de movimentos: somos punks, góticos, hippies, hip-hop, mas acredito que podemos criar nossos movimentos também, respeitando todos os outros, a exemplo do Mangue Beat.
Buzo: VC ajuda a promover o evento Cultura na Vila, quais os desafios?
Erton Moraes: Sim, esse ano o Cultura na Vila completará 15 anos, com muita luta. O Cultura na Vila é um movimento de resistência contra a maneira como os Artistas são tratados, não só em Osasco, como no Estado e no País. Os Artistas que não estão na grande mídia são tratados como lixo, e para fazer parte dessa mídia, o Artista geralmente precisa criar um produto de alienação, outro tipo de lixo. O caminho do Artista de Osasco tem que ser passivo e conivente com as panelas que são instaladas no meio da política local, caso contrário, tá fora. Quando o governo apoia um evento, ele não está te dando nada que já não seja seu. Aqui em Osasco você tem que mandar beijo pros políticos para ter apoio, esses são os desafios.
Buzo: VC é de Osasco, como anda a cena cultural da cidade?
Erton Moraes: Santo de casa não faz milagre, Osasco é uma cidade provinciana, mas artisticamente somos um povo muito rico, poetas, músicos, artistas circenses, atores, pintores, bailarinos...
Buzo: Em 2015 teve uma grande chacina em Osasco, porque isso ainda acontece nas quebradas?
Erton Moraes: A chacina foi no Munhoz. Eu cresci no Munhoz, Parque Imperial que é divisa de Barueri. É o seguinte: chacina no Munhoz, Helena Maria, sempre teve, a diferença é que hoje temos celulares, câmeras e isso repercutiu. Sempre falo do Trokaoslixo: esse é o efeito do lixo cultural, a violência que passa de pai para filho, para netos, num efeito dominó e a periferia paga a conta da sujeira do Estado.
Buzo: Porque vc tem fama de polêmico?
Erton Moraes: Para espíritos anêmicos, sou polêmico.
Buzo: Qual sua ligação com o falecido (morto aos 51 anos em 2008) escritor Austregésilo Carrano Bueno?
Erton Moraes: Meu irmão, amigo de aventuras, travessuras, fizemos arte.
Tiveram apresentações do Mokó de Sukata junto com sua peça: “O Sapatão e a Travesti”. Carrano foi o escritor que denunciou o maior problema da humanidade, a saúde mental, por isso suas ideias foram perseguidas. O Trokaoslixo fala do lixo mental por isso nossas ideias convergiam. Carrano morreu sem dinheiro e sem o reconhecimento merecido, ele era uma pedra no sapato tanto da direita quanto da esquerda.
Hoje temos o “Prêmio Carrano Direitos Humanos” que mantemos com dificuldades, ele incomoda até hoje.
Buzo: O que te inspira a fazer cultura?
Erton Moraes: O fato de existir. A existência humana é um continuo exercício cultural.
Buzo: 2015 não foi fácil, mas nos fale 3 coisas boas do ano passado?
Erton Moraes: Mokó de Sukata tocou no Sesc Osasco, apresentamos o tema do Movimento Trokaoslixo na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, meu amigo Vitor Cachoeira escapou de um grave acidente, minha filha dançou ballet junto com a mãe, a ocupação das escolas de SP foi o ato que serviu de lição para o país e descobri pelo facebook que pela quantidade de coxinhas, o Brasil não terá mais fome...
Buzo: Um salve pra quem vai ler essa entrevista e considerações finais?
Erton Moraes: Estudem nossas culturas, entenda a sua quebrada, valorize seus irmãos e irmãs, sejamos mais Preto e menos Black, senão a história que você produz hoje será esquecida pelos seus netos e bisnetos amanhã. Um salve para as donas Marias e os Seus Zés que sustentam nossas quebradas chamadas Brasil.
Erton Moraes e Alessandro Buzo
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Entrevista exclusiva com a poeta Michele Santos que lança seu primeiro livro: Toda Via,
Ela é mulher, poeta, periférica do Grajaú, zona sul de São Paulo. Também é professora e acaba de lançar livro, nessa entrevista exclusiva, Michele Santos fala dela e do seu livro.
Fotos: Alessa Melo
***
Alessandro Buzo: Quem é Michele Santos por ela mesmo?
Michele Santos: Também gostaria de saber (risos). Talvez escreva pra saber. Sei lá...alguém que tenta. E intenta um bando de coisa. Canceriana, dada a melancolias, coisas de água e de céu. Fez da palavra porto, ponte, arma. Utópica. Idealista. No mais, digam vocês que me sabem. De mim ainda estou me aprendendo.
Buzo: Nos fale do seu recém lançado livro Toda Via,?
Michele Santos: “Toda via,” é meu primeiro livro. Cria da cena literária independente, materialização dum sonho antigo, poesia de fé minina lapidada no sensível.
Buzo: Como a poesia entrou na sua vida?
Michele Santos: Desde muito bem pequena sou dada a leitura. A aluna nerd, sabe? Então. Daí teve uma época em que lá em casa não tínhamos tevê, por questões religiosas de um determinado momento (minha família é evangélica). Essa época penso que foi crucial. Tinha um ônibus-biblioteca, que ainda hoje existe no mesmo lugar, na pracinha da Vila São José, ao lado da escola em que estudava. De curiosa, fui lá, fiz a carteirinha e pegava livro toda semana. Essa experiência me inaugurou lances como criticidade e construção de um senso estético na literatura. A poesia, de fato, entrou junto a prosa, meus primeiros poetas lidos saíram de uma coleção antiga lá de casa que era da época dos vendedores de livro porta-a-porta, chamada “Poetas Românticos do Brasil” (tenho até hoje essa coleção, virou um patuá poético-afetivo). Então, dá-lhe Bilac, Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo...a poesia contemporânea veio bem depois. Mas, de certa forma, sempre esteve. Fui uma daquelas crianças contempladoras, caladonas. Não sei se porque já via poesia nas coisas do cotidiano ou porque enxergava o mundo borrado (minha miopia, bem alta, só foi diagnosticada aos 9 anos). E a poesia é isso tudo o que há, esse peixe-mundo. O poema bem tenta fisgar, mas nem sempre o poeta está num bom dia de pesca.
Buzo: Você é do Grajaú, como é ser mulher, poeta, num bairro periférico de São Paulo?
Michele Santos: Isso dá um trabalho, viu...o ser poeta é mais bacana que o ser mulher, por ora. Digo do ponto de vista da contemporaneidade em que estamos inseridos. Enquanto estou poeta, geralmente atuo num meio cultural com outras pessoas em que, espera-se, falam a mesma língua. E nesses lugares sinto haver algo de voz, visibilidade, respeito. Enquanto sou mulher, a briga é a todo tempo, e corre das tirações cotidianas à nossa liberdade tolhida. Donde geralmente sou a chata do rolê - mas como não? A periferia é lotada de mulheres fortes, guerreiras, um bando de trabalhadoras bonitas, mas inda somos o sexo à parte, final de semana é a mesma cena, mulherada-na-cozinha, homens-no-churrasco, isso pra ficar no prosaico, porque se entramos na questão da violência a coisa piora. E quando falo em violência, vai das piadinhas misóginas “que não machucam ninguém” aos machucados físicos. Por outro lado, com a primeira condição exposta (“ser poeta”) junto a uma terceira, não citada na pergunta, que é o “ser professora”, consigo considerar estes aspectos para uma educação não sexista, para o empoderamento de minorias, para a construção de transformações sociais que, se não resolvidas agora, é luta perene de plantar semente prum futuro equalitário e justo. E vamos falar de homofobia, transfobia, mulheres negras, indígenas, diversidade, sim! É uma visão romântica, mas como sobreviver a estes tempos árduos sem um quê de sonho? A gente é o que sonha.
Buzo: O Grajaú tem muita cultura, de lá saiu CRIOLO, tem Terra Preta, Eduardo Facção, Pagode da 27, Sarau Sobrenome Liberdade.... entre outras coisas, sempre foi assim ? Como você vê essa cena?
Michele Santos: Nem sempre foi assim, mas o que tá rolando hoje é de uma beleza ímpar. Recentemente o pessoal do Sarau do Grajaú lançou um documentário (“Grajaú em Foco”, atualmente em exibição pelos saraus da região) que me materializou a importância das nossas ações na região a partir desse distanciamento provido pelo registro. Das coisas que acho mais bacana é ver que a molecada tá mais ligada em arte, cultura, música. E não só consumindo, mas produzindo também. É importante existir essa voz. É como um grito de “nós existimos”, sabe? E somos pensantes! Essa transformação só o futuro pode nos dizer no que vai dar. Mas já estamos sendo e vendo mudança.
Buzo: Qual a sua atuação no Sarau Sobrenome Liberdade?
Michele Santos: Nos revezamos na condução do sarau, que atualmente conta com uma lojinha de livros, cd’s, camisetas e etceteras de artistas independentes pra fortalecer a cena, um bate-papo inicial com os artistas que estão lançando na noite antes da apresentação do sarau e por vezes encerramos com uma atração musical. O Sobrenome Liberdade completou recentemente 3 anos e foi uma idealização do escritor Ni Brisant junto ao Damásio Marques e outros poetas que foram somando-se ao coletivo. Hoje somos quatro pessoas na lida de um movimento que, a bem da verdade, não nos pertence, o sarau é das pessoas que o frequentam, que acompanham, que fortalecem o consumo da arte independente, periférica, e mantém viva essa ânsia por arte num espaço geográfico carente de iniciativas artísticas.
Buzo: As mulheres tem se posicionado contra o machismo, qual sua posição quanto a isso ?
Michele Santos: Estamos juntas! Acredito que todo mundo na cena dos saraus acompanhou o movimento “não poetize o machismo”. E como toda ruptura, rasga, abre ferida. E não foi fácil, não está sendo. Acontece que as mulheres estão nos saraus, estão produzindo e não aceitamos mais comportamentos misóginos e de refutação a nossa visibilidade. Parece fácil falando, mas você veja, por exemplo, ainda existe a poetisa como figura dum inconsciente coletivo que alude à moça que faz poeminha fácil de amor. O problema aqui nem é o amor, critico não a temática, mas essa passividade que se espera de nós. Não, queridos, nossa arte não é menor, não é medrosa, não é fácil. Por isso incentivo e apoio a produção feminina – e feminista. A gente não é só público, a gente publica - e quer nosso espaço. Aconselho saberem sobre o Projeto Margens (http://margens.com.br/ e no facebook: https://www.facebook.com/pelasmargens/ ), mapeamento de escritoras que é também tese de mestrado e um projeto lindo de visibilidade pra escrita feminina.
Buzo: O que você gosta de fazer em São Paulo e no seu bairro?
Michele Santos: Shows, parques, saraus, a sala da minha casa cheirando a café com livros abertos ou um texto em construção. Acho que por trabalhar em escolas nas imediações, não consigo fazer muito bem essa separação São Paulo/bairro. O centro é rápido, me dá urgências, muitas vezes me sinto até “bairrista”, me conforta estar no meu canto (e a quem não?). Me rememorou um poemeto meu: “A cidade me selva”. É isso.
Buzo: Como está sendo divulgar, lançar e espalhar por ai o Toda Via,?
Michele Santos: Sendo uma obra independente, a divulgação e distribuição finda por ser um corre nosso, aquela coisa do “nós por nós”. Tenho feito lançamentos em alguns saraus, divulgado a página do livro na rede...não posso esquecer dos parceiros que têm dado uma força grande, divulgando e construindo pontes pro livro chegar mais longe. Chamo-os de “a gente literários” (assim mesmo, separadinho), uns amados, esses. Tenho recebido também uns retornos incríveis, sentido que os poemas ali têm tocado os leitores e o quanto é imensurável essa sensação de que a poesia tá cumprindo seu papel. Gratidão que não cabe dentro.
Buzo: Quais seu autores preferidos ?
Michele Santos: Essa é difícil. Geralmente são os últimos que me pegam...não vou citar nomes porque sei que vai faltar gente, e tem muita gente boa, e o maior barato é que a maioria é gente que conheço – num é delícia isso? Então vou citar os autores dos dois últimos livros que me deram esse punch, na prosa o Luiz Rufatto com o Flores Artificiais, que é escritor aqui de SP, e na poesia, Regina Azevedo, poeta do RN que a gente conhece e fica de cara com a maturidade da escrita em tão pouca idade, recém completou 16, com seu Carcaça.
Buzo: Três coisas boas de 2015 ?
Michele Santos: O processo de construção e lançamento do livro, ter revisto minha avó em Alagoas num período difícil do ano em que eu precisava de nortes (literalmente) e de ser acarinhada, o levante dos estudantes contra o fechamento das escolas estaduais.
Buzo: O que espera de 2016 que se inicia e quais seus projetos ?
Michele Santos: Seja um ano bonito pro Toda via, - logo, muito trabalho à frente, além da trabalheira já cotidiana que é atuar na educação. Prum futuro próximo já adianto que rolarão algumas coisas em prosa, mas de verdade mesmo, projeto viver bem o presente das coisas.
Buzo: Considerações finais e um salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Michele Santos: Leiam meu livro, mas não só ele. Procurem saber dessa cena literária, artística, que não consta do catálogo das grandes livrarias, procurem saber dos zineiros, dos artistas locais, dos ativistas. O best seller muitas vezes é uma construção midiática, artificial. Tem coisa boa além das pontes que separam os centros das margens. No mais, forte abraço a quem chegou até aqui e espero vê-los nos por-aís da vida.
Fotos: Alessa Melo
***
Alessandro Buzo: Quem é Michele Santos por ela mesmo?
Michele Santos: Também gostaria de saber (risos). Talvez escreva pra saber. Sei lá...alguém que tenta. E intenta um bando de coisa. Canceriana, dada a melancolias, coisas de água e de céu. Fez da palavra porto, ponte, arma. Utópica. Idealista. No mais, digam vocês que me sabem. De mim ainda estou me aprendendo.
Buzo: Nos fale do seu recém lançado livro Toda Via,?
Michele Santos: “Toda via,” é meu primeiro livro. Cria da cena literária independente, materialização dum sonho antigo, poesia de fé minina lapidada no sensível.
Buzo: Como a poesia entrou na sua vida?
Michele Santos: Desde muito bem pequena sou dada a leitura. A aluna nerd, sabe? Então. Daí teve uma época em que lá em casa não tínhamos tevê, por questões religiosas de um determinado momento (minha família é evangélica). Essa época penso que foi crucial. Tinha um ônibus-biblioteca, que ainda hoje existe no mesmo lugar, na pracinha da Vila São José, ao lado da escola em que estudava. De curiosa, fui lá, fiz a carteirinha e pegava livro toda semana. Essa experiência me inaugurou lances como criticidade e construção de um senso estético na literatura. A poesia, de fato, entrou junto a prosa, meus primeiros poetas lidos saíram de uma coleção antiga lá de casa que era da época dos vendedores de livro porta-a-porta, chamada “Poetas Românticos do Brasil” (tenho até hoje essa coleção, virou um patuá poético-afetivo). Então, dá-lhe Bilac, Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo...a poesia contemporânea veio bem depois. Mas, de certa forma, sempre esteve. Fui uma daquelas crianças contempladoras, caladonas. Não sei se porque já via poesia nas coisas do cotidiano ou porque enxergava o mundo borrado (minha miopia, bem alta, só foi diagnosticada aos 9 anos). E a poesia é isso tudo o que há, esse peixe-mundo. O poema bem tenta fisgar, mas nem sempre o poeta está num bom dia de pesca.
Buzo: Você é do Grajaú, como é ser mulher, poeta, num bairro periférico de São Paulo?
Michele Santos: Isso dá um trabalho, viu...o ser poeta é mais bacana que o ser mulher, por ora. Digo do ponto de vista da contemporaneidade em que estamos inseridos. Enquanto estou poeta, geralmente atuo num meio cultural com outras pessoas em que, espera-se, falam a mesma língua. E nesses lugares sinto haver algo de voz, visibilidade, respeito. Enquanto sou mulher, a briga é a todo tempo, e corre das tirações cotidianas à nossa liberdade tolhida. Donde geralmente sou a chata do rolê - mas como não? A periferia é lotada de mulheres fortes, guerreiras, um bando de trabalhadoras bonitas, mas inda somos o sexo à parte, final de semana é a mesma cena, mulherada-na-cozinha, homens-no-churrasco, isso pra ficar no prosaico, porque se entramos na questão da violência a coisa piora. E quando falo em violência, vai das piadinhas misóginas “que não machucam ninguém” aos machucados físicos. Por outro lado, com a primeira condição exposta (“ser poeta”) junto a uma terceira, não citada na pergunta, que é o “ser professora”, consigo considerar estes aspectos para uma educação não sexista, para o empoderamento de minorias, para a construção de transformações sociais que, se não resolvidas agora, é luta perene de plantar semente prum futuro equalitário e justo. E vamos falar de homofobia, transfobia, mulheres negras, indígenas, diversidade, sim! É uma visão romântica, mas como sobreviver a estes tempos árduos sem um quê de sonho? A gente é o que sonha.
Buzo: O Grajaú tem muita cultura, de lá saiu CRIOLO, tem Terra Preta, Eduardo Facção, Pagode da 27, Sarau Sobrenome Liberdade.... entre outras coisas, sempre foi assim ? Como você vê essa cena?
Michele Santos: Nem sempre foi assim, mas o que tá rolando hoje é de uma beleza ímpar. Recentemente o pessoal do Sarau do Grajaú lançou um documentário (“Grajaú em Foco”, atualmente em exibição pelos saraus da região) que me materializou a importância das nossas ações na região a partir desse distanciamento provido pelo registro. Das coisas que acho mais bacana é ver que a molecada tá mais ligada em arte, cultura, música. E não só consumindo, mas produzindo também. É importante existir essa voz. É como um grito de “nós existimos”, sabe? E somos pensantes! Essa transformação só o futuro pode nos dizer no que vai dar. Mas já estamos sendo e vendo mudança.
Buzo: Qual a sua atuação no Sarau Sobrenome Liberdade?
Michele Santos: Nos revezamos na condução do sarau, que atualmente conta com uma lojinha de livros, cd’s, camisetas e etceteras de artistas independentes pra fortalecer a cena, um bate-papo inicial com os artistas que estão lançando na noite antes da apresentação do sarau e por vezes encerramos com uma atração musical. O Sobrenome Liberdade completou recentemente 3 anos e foi uma idealização do escritor Ni Brisant junto ao Damásio Marques e outros poetas que foram somando-se ao coletivo. Hoje somos quatro pessoas na lida de um movimento que, a bem da verdade, não nos pertence, o sarau é das pessoas que o frequentam, que acompanham, que fortalecem o consumo da arte independente, periférica, e mantém viva essa ânsia por arte num espaço geográfico carente de iniciativas artísticas.
Buzo: As mulheres tem se posicionado contra o machismo, qual sua posição quanto a isso ?
Michele Santos: Estamos juntas! Acredito que todo mundo na cena dos saraus acompanhou o movimento “não poetize o machismo”. E como toda ruptura, rasga, abre ferida. E não foi fácil, não está sendo. Acontece que as mulheres estão nos saraus, estão produzindo e não aceitamos mais comportamentos misóginos e de refutação a nossa visibilidade. Parece fácil falando, mas você veja, por exemplo, ainda existe a poetisa como figura dum inconsciente coletivo que alude à moça que faz poeminha fácil de amor. O problema aqui nem é o amor, critico não a temática, mas essa passividade que se espera de nós. Não, queridos, nossa arte não é menor, não é medrosa, não é fácil. Por isso incentivo e apoio a produção feminina – e feminista. A gente não é só público, a gente publica - e quer nosso espaço. Aconselho saberem sobre o Projeto Margens (http://margens.com.br/ e no facebook: https://www.facebook.com/pelasmargens/ ), mapeamento de escritoras que é também tese de mestrado e um projeto lindo de visibilidade pra escrita feminina.
Buzo: O que você gosta de fazer em São Paulo e no seu bairro?
Michele Santos: Shows, parques, saraus, a sala da minha casa cheirando a café com livros abertos ou um texto em construção. Acho que por trabalhar em escolas nas imediações, não consigo fazer muito bem essa separação São Paulo/bairro. O centro é rápido, me dá urgências, muitas vezes me sinto até “bairrista”, me conforta estar no meu canto (e a quem não?). Me rememorou um poemeto meu: “A cidade me selva”. É isso.
Buzo: Como está sendo divulgar, lançar e espalhar por ai o Toda Via,?
Michele Santos: Sendo uma obra independente, a divulgação e distribuição finda por ser um corre nosso, aquela coisa do “nós por nós”. Tenho feito lançamentos em alguns saraus, divulgado a página do livro na rede...não posso esquecer dos parceiros que têm dado uma força grande, divulgando e construindo pontes pro livro chegar mais longe. Chamo-os de “a gente literários” (assim mesmo, separadinho), uns amados, esses. Tenho recebido também uns retornos incríveis, sentido que os poemas ali têm tocado os leitores e o quanto é imensurável essa sensação de que a poesia tá cumprindo seu papel. Gratidão que não cabe dentro.
Buzo: Quais seu autores preferidos ?
Michele Santos: Essa é difícil. Geralmente são os últimos que me pegam...não vou citar nomes porque sei que vai faltar gente, e tem muita gente boa, e o maior barato é que a maioria é gente que conheço – num é delícia isso? Então vou citar os autores dos dois últimos livros que me deram esse punch, na prosa o Luiz Rufatto com o Flores Artificiais, que é escritor aqui de SP, e na poesia, Regina Azevedo, poeta do RN que a gente conhece e fica de cara com a maturidade da escrita em tão pouca idade, recém completou 16, com seu Carcaça.
Buzo: Três coisas boas de 2015 ?
Michele Santos: O processo de construção e lançamento do livro, ter revisto minha avó em Alagoas num período difícil do ano em que eu precisava de nortes (literalmente) e de ser acarinhada, o levante dos estudantes contra o fechamento das escolas estaduais.
Buzo: O que espera de 2016 que se inicia e quais seus projetos ?
Michele Santos: Seja um ano bonito pro Toda via, - logo, muito trabalho à frente, além da trabalheira já cotidiana que é atuar na educação. Prum futuro próximo já adianto que rolarão algumas coisas em prosa, mas de verdade mesmo, projeto viver bem o presente das coisas.
Buzo: Considerações finais e um salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Michele Santos: Leiam meu livro, mas não só ele. Procurem saber dessa cena literária, artística, que não consta do catálogo das grandes livrarias, procurem saber dos zineiros, dos artistas locais, dos ativistas. O best seller muitas vezes é uma construção midiática, artificial. Tem coisa boa além das pontes que separam os centros das margens. No mais, forte abraço a quem chegou até aqui e espero vê-los nos por-aís da vida.
domingo, 17 de janeiro de 2016
Entrevista exclusiva com o rapper, escritor e cartunista Walter Limonada.... ou, Valter Luis.
Ele é rapper com 3 cd´s lançados, escritor com um livro e cartunista com outros dois livros.... morador de São Bernardo do Campo, Walter Limonada, ou Valter Luis é sonhador, mas realiza os sonhos acordado.
Vamos conhecer mais desse mano, amante dos fanzines e do Hip Hop.... nessa entrevista exclusiva.
POR: Alessandro Buzo
***
Alessandro Buzo: Quem é Walter Limonada e porque assina também Valter Luis ?
Walter Limonada: Primeiramente, minhas palavras de gratidão, por estar participando do “Buzo Entrevista”, boa leitura pra todos. Vamos as respostas...
Walter Limonada, é o meu nome artístico, sou um Hip-Hopper, pois, me expresso musicalmente através das letras de RAP que componho, porém, admiro todos os outros elementos do Movimento Hip-Hop, que são o Graffiti, a arte de discotecar e a dança. E é claro que dentro de todo esse Movimento, o CONHECIMENTO é fundamental.
Valter Luis, é o meu nome de batismo, e como estou na área da Educação há pelo menos uns 12 anos, assinei e continuo assinando muitos trampos culturais como “Valter Luis”, e resolvi também assinar artisticamente o meu nome de batismo em alguns dos meus trabalhos, principalmente os trampos em que não ficam somente dentro do tema Hip-Hop.
Mas, no final das contas é tudo a mesma pessoa, não tem essas coisas de “dupla personalidade”.
Buzo: Você é rapper, tem CD lançado... continua atuando ?
Walter Limonada: Sim, sou Rapper. Não tenho uma grande mídia de divulgação sobre esse meu trampo musical, porém, tenho 03 álbuns lançados.
Em 2003 lancei o “Mente Poderosa” , em 2005 o “Teimosia” e em 2010 “Lemons Fragmentos”, os três estão disponíveis na Internet (Youtube) e alguns Blogs. Todos os 03 álbuns, tem participações de guerreiros e guerreiras que estão na luta por uma periferia melhor. Inclusive, o entrevistador e escritor Alessandro Buzo, tem uma importante participação no meu álbum “Teimosia”, atuando como um Rapper e mandou a rima pra valer na parada.
E além da correria como Rapper, eu sempre corria em paralelo como Fanzineiro, fiz vários Fanzines Autorais (Boletins Informativos), o mais conhecido foi o “Folhas de Attittudes”, colaborei também com centenas de outros Fanzines, além de ter sido repórter colaborador do saudoso jornal “Estação Hip-Hop”, da saudosa revista “RAP Brasil”, dentre outras publicações.
Sem contar que fiquei 02 anos como colaborador do programa de rádio “ESPAÇO RAP” da 105 FM, convidado pelo mano Easy Nylon, fazendo a seção “Ligado no Movimento”, onde dava variadas dicas de leitura e culturais pros ouvintes.
Então, sempre estive envolvido em palestras e exposições, ainda estou, então sempre que pinta uma oportunidade, subo nos palcos ou vou aos Saraus, eu mando a rima também.
E quem sabe, talvez ainda eu acabe lançando um novo trampo musical, mais atualizado, é claro, acho que ainda tenho folego pra isso.
Buzo: Você lançou um livro lá atrás, Trokando Umas Ideias e Rimando Outras, como foi essa experiência ?
Walter Limonada: Então, como eu disse acima, eu atuava como Rapper e ao mesmo tempo em paralelo, atuava como escritor nos Fanzines. Então me veio a ideia de juntar a fome com a vontade de comer.
Fiz um apanhado de minhas melhores rimas na época (2007) e fiz alguns textos em forma de crônicas e assim surgiu o livro: “Trokando Umas Idéias e Rimando Outras”. O livro, assim como todos os meus trampos anteriores, saiu de forma independente, pelo selo que eu mesmo criei, “Limonada Imprensa Alternativa”, porém esse livro teve também o apoio cultural da Associação Ação Educativa. O Eleilson Leite, na época estava a frente da Ação Educativa, viu os textos e as poesias e apoiou a ideia. Somente com esse apoio foi realmente possível por o livro nas ruas.
A maior experiência que eu trago sobre este livro, é que com ele consegui expor meus RAPs em localidades que ele não entrava musicalmente. Além de ter expandido muito mais a minha forma de atuação, mostrando que a literatura é forte dentro das Favelas, dentro das Comunidades, foi um soco na cara de quem vive falando que quem é pobre não gosta de ler.
E pra fortalecer ainda mais essa idéia, após o meu livro solo ir pras ruas, fui convidado para participar em várias antologias literárias, como por exemplo, “Pelas Periferias do Brasil”, organizada pelo Buzo, “Hip-Hop à Lápis – A Literatura do Excluído” organizada pelo Toni C., “Coletivo Perifatividade - Vol.I”, organizada pelo Paulo Rams, dentre outras coletâneas e participações.
Ressaltando que além das correrias musicais e literárias, também participei atuando, em algumas produções cinematográficas, como por exemplo, no filme “Profissão MC” de Alessandro Buzo e Toni Nogueira, e nos filmes “A Testemunha” e “Pé de Cabra” de Milton Santos Jr.
Além de diversos documentários sobre o Hip-Hop.
Buzo: Você mora na periferia de São Bernardo do Campo, nos fale do Jd Silvina e como é morar no ABC ?
Walter Limonada: Eu moro no Jardim Silvina desde meu tempo de adolescente, conheço cada palmo do bairro e redondeza. Foi nele que eu estudei o ensino fundamental. E foi no bairro vizinho (Vila São José) que fiz o meu segundo grau.
Geograficamente o bairro vem expandindo cada vez mais, por ser ao lado da Via Anchieta com rápido acesso à Rodovia dos Imigrantes e ao Rodo Anel Mário Covas, muitas empresas do comércio estão vindo pra cá, que já tem o histórico de ser a capital das empresas de móveis e automobilísticas.
É claro que tem suas peculiaridades. Mas, as problemáticas são as mesmas de outras comunidades... Houve sim uma certa melhoria em alguns setores, porém, existem muito outros setores do bairro e do município ainda sofrendo descaso do poder publico...
O povo aqui não é só sonhador, é também um povo batalhador. Então, acredito e boto fé que muitas vitórias ainda virão.
Buzo: Você passou a desenhar, fazer tirinhas, como se deu esse início, você sempre desenhou ?
Walter Limonada: Desde que eu me entendo por gente, meu pai era dono de bancas de Jornais, ficou uns 20 anos fazendo isso, então em casa nunca faltou livros, revistas, lápis de cor, canetinhas... Então já viu né ? Sempre eu estava rabiscando ou lendo, isso foi natural pra mim, eu até pensava que todo mundo fazia isso, no começo.
Mas, o tempo foi passando, veio a realidade batendo de frente, tive que trabalhar, fazer cursos, me manter numa profissão e consecutivamente os desenhos foram ficando de lado.
Voltei a ensaiar alguns desenhos na época que fazia Fanzines, mas, nada serio, só comecei levar a serio, quando pintou a oportunidade de colaborar no jornal “Boletim do Kaos”, com as tirinhas coloridas. Isto foi em 2013. Aí não parei mais, fui convidado por outros jornais impressos pra colaborar com tirinhas, além de ter algumas publicadas nos sites como por exemplo, “Jornalirismo” e “Rap Nacional”. Sem contar as que já estão espalhadas em diversos blogs ou redes sociais.
Uma outra coisa, que foi acontecendo são as diversas colaborações ilustrativas que já estou fazendo, vou citar as que já foram pras ruas, a ilustração de capa do EP do Rapper R.Jay, uma ilustração que fiz pro escritor Germano Gonçalves e ele publicou no livro dele “O Ex-Excluido”, a colaboração gráfica que fiz para o game “A Horda do Caos”, encabeçada pelo meu mano Gustavo Linzmayer, dentre outras que estarei falando melhor quando saírem.
Buzo: Em 2015 você lançou 2 livros HQ, fale primeiro do livro: Todo Mundo Quer Ir Pro Cel. ?
Walter Limonada: O ano de 2015 (apelidei ele “carinhosamente” de Dois Mil e Crise), foi muita treta pra mim. Estava desempregado e com a vida pessoal de cabeça pra baixo. Mesmo assim, dentro dessas turbulências, foquei no meu trabalho artístico e fiz um monte de ilustrações, tirinhas e quadrinhos, aí comecei a organizar todo esse material e me veio a idéia de fazer um livro só com os quadrinhos.
Como fiz muitas piadinhas em relação ao uso de celular, resolvi usar isso como o tema base do livro, mas, sem deixar outros temas de fora. E assim foi surgindo a ideia do livro, e em Julho de 2015, eu ainda desempregado, surgiu a oportunidade de lançar o livro em parceria com a Editora Edicon.
A Dona Valentina, editora da Edicon, já conhecia meus trampos e acreditou na proposta e assim foi possível por nas ruas o meu primeiro livro de quadrinhos, chamado: “Todo Mundo Quer Ir Pro Cel.”
O livro conta ainda com o prefacio de Alessandro Buzo, uma colaboração em cartum do mano Marcelo Dopi e também um poema exclusivo do mano Germano Gonçalves. Miolo em preto e branco e oito páginas coloridas. Além da parceria editorial, Edicon / Limonada Imprensa Alternativa.
Buzo: O livro trouxe o resultado esperado ?
Walter Limonada: Trouxe sim e ainda está trazendo...
Por exemplo, em 2015 fiz lançamento do livro em pelo menos uns 10 Saraus pela cidade de São Paulo, aproveito o momento para agradecer à todos que eu tive a oportunidade de conhecer, fui bem recebido por todas as localidades que passei.
Outro grande resultado, são as novas oportunidades de parcerias que estão chegando.
Buzo: Ainda ano passado você lançou outro em parceria com o Sr. Hans Freudenthal de 87 anos.... como se deu essa parceria ?
Walter Limonada: Isso mesmo, como eu disse acima, novas oportunidades estão chegando, e o Sr. Hans, também é um escritor e tem vários livros dele, que foram lançados pela Edicon, então meu livro chegou nas mãos dele, ele curtiu pra caramba os desenhos e queria me conhecer.
Por uma coincidência do destino, o Sr. Hans, começou a frequentar o Sarau Suburbano, no Bixiga, e acabamos nos conhecendo pessoalmente, mas, eu nem imaginava que ele queira uma colaboração minha no novo livro dele, e que o livro fosse lançado ainda em 2015.
Buzo: Fale desse livro então..... Haikais com Limonada ?
Walter Limonada: Então, o Sr. Hans, um mano que já chegou aos seus 87 anos, mas, tem a mente aberta em relação a literatura e aos desenhos me falou de seus textos em formato HAIKAIS, e disse que gostaria de ter minhas ilustrações nesse seu próximo livro.
E novamente com o apoio da Dona Valentina, da Edicon, colocamos o livro nas ruas, com todas as páginas coloridas.
E o Hans e a Edicon, fizeram questão que eu aceitasse ser um co-autor do livro e não apenas um participante. Pra mim foi a maior honra.
Então, no dia 15 de Dezembro de 2015, o livro “Haikais com Limonada”, foi pras ruas, com o primeiro lançamento oficial, no Sarau Suburbano.
Devo confessar que nesse livro, tive que me dedicar bem mais para finalizar os desenhos, pois, o convite do Sr. Hans, veio em Novembro, bem na época que arrumei um novo emprego novamente, então varei umas madrugadas, pra entregar tudo no prazo. E é claro que valeu a pena.
O livro “Haikais com Limonada”, saiu pela Editora Edicon, é um livro de provérbios Haikais, escrito pelo Hans Freudenthal e ilustrado por mim. Todas as ilustrações são coloridas.
Há, e ao mesmo tempo que fazia as ilustrações pro livro em parceria com o Mano Hans, fiz a ilustração para a capa de um livro chamado “Trilogia Inacabada” da escritora Elizabeth Zarzur, também da Edicon, e saiu nas ruas em Dezembro de 2015, também.
Buzo: Quais seus projetos pra 2016 e considerações finais ?
Walter Limonada: São inúmeros... Vamos ver o que da pra fazer...
É claro que além de algumas colaborações já confirmadas, mas, só serão citadas quando saírem pras ruas, pretendo lançar um novo livro em quadrinhos solo e também alguns RAP´s mais atuais.
Mas, antes disso, as divulgações dos livros “Todo Mundo Quer Ir Pro Cel.” E “Haikais com Limonada”, ainda continuam.
Tem várias localidades em Sampa, que pretendo lançar esses livros, e também em outros estados pelo nosso Brasil afora.
Estou aberto a negociações e conexões para divulgar esses trabalhos. Vamos que vamos...
Me procure e adicione ae nas redes sociais, pra continuar as idéias, contratar pra eventos, palestras, o meu e-mail é: walterlimonada@gmail.com
E meu blog: rabiscosdovalterluis.blogspot.com
E finalizo agradecendo o mano Alessandro Buzo, pelo convite. O Buzão é meu brother muito ANTES de todas essas tecnologias atuais, fama e tudo mais. E sempre acreditou e participou dos meus trampos, desde a época dos Zines. Salve, toda família Suburbano Convicto. E um agradecimento especial a VOCÊ, que acabou de ler toda essa entrevista e conheceu um pouquinho mais sobre minha trajetória. Muita PAZ !!!
Vamos conhecer mais desse mano, amante dos fanzines e do Hip Hop.... nessa entrevista exclusiva.
POR: Alessandro Buzo
***
Alessandro Buzo: Quem é Walter Limonada e porque assina também Valter Luis ?
Walter Limonada: Primeiramente, minhas palavras de gratidão, por estar participando do “Buzo Entrevista”, boa leitura pra todos. Vamos as respostas...
Walter Limonada, é o meu nome artístico, sou um Hip-Hopper, pois, me expresso musicalmente através das letras de RAP que componho, porém, admiro todos os outros elementos do Movimento Hip-Hop, que são o Graffiti, a arte de discotecar e a dança. E é claro que dentro de todo esse Movimento, o CONHECIMENTO é fundamental.
Valter Luis, é o meu nome de batismo, e como estou na área da Educação há pelo menos uns 12 anos, assinei e continuo assinando muitos trampos culturais como “Valter Luis”, e resolvi também assinar artisticamente o meu nome de batismo em alguns dos meus trabalhos, principalmente os trampos em que não ficam somente dentro do tema Hip-Hop.
Mas, no final das contas é tudo a mesma pessoa, não tem essas coisas de “dupla personalidade”.
Buzo: Você é rapper, tem CD lançado... continua atuando ?
Walter Limonada: Sim, sou Rapper. Não tenho uma grande mídia de divulgação sobre esse meu trampo musical, porém, tenho 03 álbuns lançados.
Em 2003 lancei o “Mente Poderosa” , em 2005 o “Teimosia” e em 2010 “Lemons Fragmentos”, os três estão disponíveis na Internet (Youtube) e alguns Blogs. Todos os 03 álbuns, tem participações de guerreiros e guerreiras que estão na luta por uma periferia melhor. Inclusive, o entrevistador e escritor Alessandro Buzo, tem uma importante participação no meu álbum “Teimosia”, atuando como um Rapper e mandou a rima pra valer na parada.
E além da correria como Rapper, eu sempre corria em paralelo como Fanzineiro, fiz vários Fanzines Autorais (Boletins Informativos), o mais conhecido foi o “Folhas de Attittudes”, colaborei também com centenas de outros Fanzines, além de ter sido repórter colaborador do saudoso jornal “Estação Hip-Hop”, da saudosa revista “RAP Brasil”, dentre outras publicações.
Sem contar que fiquei 02 anos como colaborador do programa de rádio “ESPAÇO RAP” da 105 FM, convidado pelo mano Easy Nylon, fazendo a seção “Ligado no Movimento”, onde dava variadas dicas de leitura e culturais pros ouvintes.
Então, sempre estive envolvido em palestras e exposições, ainda estou, então sempre que pinta uma oportunidade, subo nos palcos ou vou aos Saraus, eu mando a rima também.
E quem sabe, talvez ainda eu acabe lançando um novo trampo musical, mais atualizado, é claro, acho que ainda tenho folego pra isso.
Buzo: Você lançou um livro lá atrás, Trokando Umas Ideias e Rimando Outras, como foi essa experiência ?
Walter Limonada: Então, como eu disse acima, eu atuava como Rapper e ao mesmo tempo em paralelo, atuava como escritor nos Fanzines. Então me veio a ideia de juntar a fome com a vontade de comer.
Fiz um apanhado de minhas melhores rimas na época (2007) e fiz alguns textos em forma de crônicas e assim surgiu o livro: “Trokando Umas Idéias e Rimando Outras”. O livro, assim como todos os meus trampos anteriores, saiu de forma independente, pelo selo que eu mesmo criei, “Limonada Imprensa Alternativa”, porém esse livro teve também o apoio cultural da Associação Ação Educativa. O Eleilson Leite, na época estava a frente da Ação Educativa, viu os textos e as poesias e apoiou a ideia. Somente com esse apoio foi realmente possível por o livro nas ruas.
A maior experiência que eu trago sobre este livro, é que com ele consegui expor meus RAPs em localidades que ele não entrava musicalmente. Além de ter expandido muito mais a minha forma de atuação, mostrando que a literatura é forte dentro das Favelas, dentro das Comunidades, foi um soco na cara de quem vive falando que quem é pobre não gosta de ler.
E pra fortalecer ainda mais essa idéia, após o meu livro solo ir pras ruas, fui convidado para participar em várias antologias literárias, como por exemplo, “Pelas Periferias do Brasil”, organizada pelo Buzo, “Hip-Hop à Lápis – A Literatura do Excluído” organizada pelo Toni C., “Coletivo Perifatividade - Vol.I”, organizada pelo Paulo Rams, dentre outras coletâneas e participações.
Ressaltando que além das correrias musicais e literárias, também participei atuando, em algumas produções cinematográficas, como por exemplo, no filme “Profissão MC” de Alessandro Buzo e Toni Nogueira, e nos filmes “A Testemunha” e “Pé de Cabra” de Milton Santos Jr.
Além de diversos documentários sobre o Hip-Hop.
Buzo: Você mora na periferia de São Bernardo do Campo, nos fale do Jd Silvina e como é morar no ABC ?
Walter Limonada: Eu moro no Jardim Silvina desde meu tempo de adolescente, conheço cada palmo do bairro e redondeza. Foi nele que eu estudei o ensino fundamental. E foi no bairro vizinho (Vila São José) que fiz o meu segundo grau.
Geograficamente o bairro vem expandindo cada vez mais, por ser ao lado da Via Anchieta com rápido acesso à Rodovia dos Imigrantes e ao Rodo Anel Mário Covas, muitas empresas do comércio estão vindo pra cá, que já tem o histórico de ser a capital das empresas de móveis e automobilísticas.
É claro que tem suas peculiaridades. Mas, as problemáticas são as mesmas de outras comunidades... Houve sim uma certa melhoria em alguns setores, porém, existem muito outros setores do bairro e do município ainda sofrendo descaso do poder publico...
O povo aqui não é só sonhador, é também um povo batalhador. Então, acredito e boto fé que muitas vitórias ainda virão.
Buzo: Você passou a desenhar, fazer tirinhas, como se deu esse início, você sempre desenhou ?
Walter Limonada: Desde que eu me entendo por gente, meu pai era dono de bancas de Jornais, ficou uns 20 anos fazendo isso, então em casa nunca faltou livros, revistas, lápis de cor, canetinhas... Então já viu né ? Sempre eu estava rabiscando ou lendo, isso foi natural pra mim, eu até pensava que todo mundo fazia isso, no começo.
Mas, o tempo foi passando, veio a realidade batendo de frente, tive que trabalhar, fazer cursos, me manter numa profissão e consecutivamente os desenhos foram ficando de lado.
Voltei a ensaiar alguns desenhos na época que fazia Fanzines, mas, nada serio, só comecei levar a serio, quando pintou a oportunidade de colaborar no jornal “Boletim do Kaos”, com as tirinhas coloridas. Isto foi em 2013. Aí não parei mais, fui convidado por outros jornais impressos pra colaborar com tirinhas, além de ter algumas publicadas nos sites como por exemplo, “Jornalirismo” e “Rap Nacional”. Sem contar as que já estão espalhadas em diversos blogs ou redes sociais.
Uma outra coisa, que foi acontecendo são as diversas colaborações ilustrativas que já estou fazendo, vou citar as que já foram pras ruas, a ilustração de capa do EP do Rapper R.Jay, uma ilustração que fiz pro escritor Germano Gonçalves e ele publicou no livro dele “O Ex-Excluido”, a colaboração gráfica que fiz para o game “A Horda do Caos”, encabeçada pelo meu mano Gustavo Linzmayer, dentre outras que estarei falando melhor quando saírem.
Buzo: Em 2015 você lançou 2 livros HQ, fale primeiro do livro: Todo Mundo Quer Ir Pro Cel. ?
Walter Limonada: O ano de 2015 (apelidei ele “carinhosamente” de Dois Mil e Crise), foi muita treta pra mim. Estava desempregado e com a vida pessoal de cabeça pra baixo. Mesmo assim, dentro dessas turbulências, foquei no meu trabalho artístico e fiz um monte de ilustrações, tirinhas e quadrinhos, aí comecei a organizar todo esse material e me veio a idéia de fazer um livro só com os quadrinhos.
Como fiz muitas piadinhas em relação ao uso de celular, resolvi usar isso como o tema base do livro, mas, sem deixar outros temas de fora. E assim foi surgindo a ideia do livro, e em Julho de 2015, eu ainda desempregado, surgiu a oportunidade de lançar o livro em parceria com a Editora Edicon.
A Dona Valentina, editora da Edicon, já conhecia meus trampos e acreditou na proposta e assim foi possível por nas ruas o meu primeiro livro de quadrinhos, chamado: “Todo Mundo Quer Ir Pro Cel.”
O livro conta ainda com o prefacio de Alessandro Buzo, uma colaboração em cartum do mano Marcelo Dopi e também um poema exclusivo do mano Germano Gonçalves. Miolo em preto e branco e oito páginas coloridas. Além da parceria editorial, Edicon / Limonada Imprensa Alternativa.
Buzo: O livro trouxe o resultado esperado ?
Walter Limonada: Trouxe sim e ainda está trazendo...
Por exemplo, em 2015 fiz lançamento do livro em pelo menos uns 10 Saraus pela cidade de São Paulo, aproveito o momento para agradecer à todos que eu tive a oportunidade de conhecer, fui bem recebido por todas as localidades que passei.
Outro grande resultado, são as novas oportunidades de parcerias que estão chegando.
Buzo: Ainda ano passado você lançou outro em parceria com o Sr. Hans Freudenthal de 87 anos.... como se deu essa parceria ?
Walter Limonada: Isso mesmo, como eu disse acima, novas oportunidades estão chegando, e o Sr. Hans, também é um escritor e tem vários livros dele, que foram lançados pela Edicon, então meu livro chegou nas mãos dele, ele curtiu pra caramba os desenhos e queria me conhecer.
Por uma coincidência do destino, o Sr. Hans, começou a frequentar o Sarau Suburbano, no Bixiga, e acabamos nos conhecendo pessoalmente, mas, eu nem imaginava que ele queira uma colaboração minha no novo livro dele, e que o livro fosse lançado ainda em 2015.
Buzo: Fale desse livro então..... Haikais com Limonada ?
Walter Limonada: Então, o Sr. Hans, um mano que já chegou aos seus 87 anos, mas, tem a mente aberta em relação a literatura e aos desenhos me falou de seus textos em formato HAIKAIS, e disse que gostaria de ter minhas ilustrações nesse seu próximo livro.
E novamente com o apoio da Dona Valentina, da Edicon, colocamos o livro nas ruas, com todas as páginas coloridas.
E o Hans e a Edicon, fizeram questão que eu aceitasse ser um co-autor do livro e não apenas um participante. Pra mim foi a maior honra.
Então, no dia 15 de Dezembro de 2015, o livro “Haikais com Limonada”, foi pras ruas, com o primeiro lançamento oficial, no Sarau Suburbano.
Devo confessar que nesse livro, tive que me dedicar bem mais para finalizar os desenhos, pois, o convite do Sr. Hans, veio em Novembro, bem na época que arrumei um novo emprego novamente, então varei umas madrugadas, pra entregar tudo no prazo. E é claro que valeu a pena.
O livro “Haikais com Limonada”, saiu pela Editora Edicon, é um livro de provérbios Haikais, escrito pelo Hans Freudenthal e ilustrado por mim. Todas as ilustrações são coloridas.
Há, e ao mesmo tempo que fazia as ilustrações pro livro em parceria com o Mano Hans, fiz a ilustração para a capa de um livro chamado “Trilogia Inacabada” da escritora Elizabeth Zarzur, também da Edicon, e saiu nas ruas em Dezembro de 2015, também.
Buzo: Quais seus projetos pra 2016 e considerações finais ?
Walter Limonada: São inúmeros... Vamos ver o que da pra fazer...
É claro que além de algumas colaborações já confirmadas, mas, só serão citadas quando saírem pras ruas, pretendo lançar um novo livro em quadrinhos solo e também alguns RAP´s mais atuais.
Mas, antes disso, as divulgações dos livros “Todo Mundo Quer Ir Pro Cel.” E “Haikais com Limonada”, ainda continuam.
Tem várias localidades em Sampa, que pretendo lançar esses livros, e também em outros estados pelo nosso Brasil afora.
Estou aberto a negociações e conexões para divulgar esses trabalhos. Vamos que vamos...
Me procure e adicione ae nas redes sociais, pra continuar as idéias, contratar pra eventos, palestras, o meu e-mail é: walterlimonada@gmail.com
E meu blog: rabiscosdovalterluis.blogspot.com
E finalizo agradecendo o mano Alessandro Buzo, pelo convite. O Buzão é meu brother muito ANTES de todas essas tecnologias atuais, fama e tudo mais. E sempre acreditou e participou dos meus trampos, desde a época dos Zines. Salve, toda família Suburbano Convicto. E um agradecimento especial a VOCÊ, que acabou de ler toda essa entrevista e conheceu um pouquinho mais sobre minha trajetória. Muita PAZ !!!
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Site de Vendas da LIVRARIA SUBURBANO CONVICTO, única do país especializada em Literatura Marginal.
***
Ajuda a divulgar, traduzindo... compartilha.
FORTALECE QUEM COMPRA UM LIVRO, o resto é tapinha nas costas.
www.livrariasuburbano.com.br
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook. Última da série.... 10/10 > ENTREVISTA EXCLUSIVA COM a rapper "Joyce Preta Rara".......
Ela é rapper, poestisa, turbanteira e professora de história.
Postagem cheia de atitude na internet.... gosta de viajar e luta entre outras coisas contra a gordofóbia.
Falo da Joyce Fernandes, Preta Rara.... vamos conhecer um pouco mais dela, nesta última entrevista exclusiva da série 10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook, que foi a retomada do Blog Buzo Entrevista.
***
Alessandro Buzo: Quem é Joyce Fernandes, Preta Rara, por ela mesmo... ?
Joyce Preta Rara: A Joyce Fernandes nasceu no dia 13 de maio de 1985, data está bem emblemática no Brasil que eu chamo de Falsa Abolição. (tem até um rap que eu escrevi e está no cd com esse mesmo nome)
Nasci em uma família abençoada que sempre me incentivaram nas minhas escolhas, meu pai colecionava disco e a música era a trilha perfeita lá de casa.
Já a minha mãe mesmo com pouco estudo sempre cobrou muito a leitura, ela fazia a gente ler a bíblia todos os dias, era um saco pq eu não entendia nada mas, também ela deixava a gente a vontade par escolher o que queria ler.
A vontade por cantar sempre esteve presente em minha vida, como minha família era evangélica, meu contato direto com a música foi na igreja, depois que passei a fazer parte de um grupo de louvor, com 12 anos de idade.
E na adolescência conheci primeiro o funk carioca, curtia demais, só que dentro do meu quarto pq minha mãe não me deixava sair.
E o Rap já era presente na minha vida, pq meu pai sempre ouvia, mas só em 2005 que eu resolvo meter as caras mesmo nas rimas.
E comecei no grupo de rap feminino Tarja-Preta, o grupo durou sete anos e em 2013 finalizamos nossas atividades e eu resolvi iniciar carreira solo.
Nessa caminhada toda ai eu já fui babá e empregada doméstica por 6 anos de trampo pesado e até o meu primeiro ano na universidade.
Sou formada desde 2011 em história e sou professora efetiva em uma escola particular na periferia de São Vicente.
Buzo: Você esteve recentemente no Rio de Janeiro e postou sobre os gringos caírem matando nas mulheres negras, foi assim mesmo, tão na cara dura ? Teve que distribuir até cotovelada ?
Joyce Preta Rara: Nossa, já tinham me falado e eu já tinha lido diversas reportagens e postagens nas rede sociais.
E fiquei de cara quando isso tudo aconteceu comigo. Eu estava em frente a um bar em uma noite de uma sexta-feira na Lapa, e o samba estava comendo solto. Quando de repente começa chegar um monte gringo, e eu super distraída curtindo a noite, quando veio dois gringos, e um chegou já encostando no meu braço falando as palavras: samba, beautiful, exotic e eu me afastei.
E ele veio de novo pra cima de mim, e dessa vez com um monte de notas de dinheiro em forma de leque, sorrindo pedindo pra eu samba.
Eu fiquei tão enojada e com tanta raiva que quando ele se aproximou eu dei uma cotovelada com toda a minha força, pra ele parar de ser babaca.
Isso nunca aconteceu comigo, fiquei tão mal com o ocorrido que no meio do agito eu resolvi voltar para o hotel em que eu estava hospedada.
Isso é que a mídia brasileira mostra, a exposição da mulher negra como mercadoria.
Buzo: Qual a sua atuação cultural e planos pra 2016 ?
Joyce Preta Rara: Bom, para esse ano eu projetei mentalmente e no papel também várias coisas para acontecer.
Além de ser rapper eu sou militante, pra mim eu não consigo separar o rap da minha militância.
E esse ano eu tenho um projeto se for aprovado em um edital aqui de Santos, vou colocar o meu primeiro livro rua que se chama Minha Preta Infância, no qual colocarei alguns relatos meus e de conhecidos para despertar um assunto que muitas das vezes passa despercebido ou fingem que não existem, que é o Racismo na infância.
E farei o show de lançamento oficial do meu disco em Santos e em vários lugares de SP e do Brasil.
Sou turbanteira e tenho algumas oficinas já agendadas também, sempre levo o rap, a militância e os turbantes, pois ao meu ver está tudo atrelado.
Buzo: VC postou foto na praia de maiô e bombou.... acha que o preconceito com os gordinhos como nós, tende a diminuir se a gente se mostrar ?
Joyce Preta Rara: Com certeza, resolvi postar aquela foto de maiô pra pode incentivar as mulheres gordas a irem para a praia, só não esperava aquela repercussão toda de mais de 6 mil curtidas.
É difícil ser mulher gorda em uma sociedade que dita regras para tudo, nasci em uma cidade praiana que eu só aproveitei a praia com liberdade quando eu era criança e depois dos 27 anos quando resolvi assumir minhas curvas e ser feliz.
Estou organizando um evento que se chama Ocupação GGG – Vai Ter Gorda na Praia Sim, que o intuito e incentivar outras mulheres gordas a irem para a praia com a gente, e está bombando de
meninas super felizes que não veem a hora de chegar no evento para se sentir a vontade pra ficarem de biquíni ou maiô. E tem meninas de 14 anos e senhoras de 62 anos que não vão para a praia com vergonha do próprio corpo.
Buzo: Existe gordofobia ?
Joyce Preta Rara: Existe sim, nos olhares, nos comentários, nas piadas sem graça.
Virou moda nas redes sociais colocar a hastag #Gordice para quanto se está em frente de muitas comidas.
Ou seja, no pensamento desses gordofóbicos o gordo só come, vive pra comer.
Fala sério. Por causa disso, que eu posto várias fotos pra calar a boca desse povo sem luz e incentivas as Rainhas Plus Size a saírem de casa, pois sempre falo: Sou do tamanho dos meus sonhos, por isso que somos grandes.
Buzo: Nas suas férias vc ostentou (positivamente falando), nos rolê.... temos que fugir do discurso da crise ?
Joyce Preta Rara: Olha a crise sempre existiu, desde antes da escravidão negra.O Brasil foi colonizado pela crise.
Eu nunca consegui viajar nas férias dos meus antigos trabalhos, sempre tive vontade de viajar mas, nunca tive grana. Dessa vez consegui juntar um dindin através do meu salário de professora e alguns cachês recebidos em 2015 e passei cinco dias e de descanso e vários rolês por lá.
Mas, o que mais marcou nessa viagem é que eu tive o prazer de conhecer a Negra Gizza, era meu sonho desde 2002 conhecer ela, e da galera que eu admiro no Rap Nacional eu já conheci todos pessoalmente só faltava ela. E eu ainda passei o dia inteiro acompanhando ela em uma entrevista na rádio, almoçamos juntas e ainda ela me levou para conhecer o espaço Cufa lá em Madureira.
Foi dos sonhos passar um dia inteiro com uma pessoa que eu sou super fã.
Buzo: Ludmilla postou que ganha 1 milhão por mês, comprou lancha de 300 mil... vira referência ?
Joyce Preta Rara: A galera querendo ou não, a Ludmilla já é referência para as meninas da periferia. Todas as meninas cantam as músicas dela, imitam os passos da dança querem o cabelo igual o dela.
E eu fico muito feliz em ver um progresso de uma mina preta, que nesse país mesmo sendo 53% da população ser preta, é raro ver esses casos, né.
Eu não vejo nenhum problema ela ter comprado uma lancha e o jet ski, é isso ai se tem grana pra gastar borá lá.
Eu li um monte de gente criticando dizendo que ela não deveria gastar essa grana toda e tal, só que aundo a Ivete Sangalo comprou o sei jatinho não ouvi ninguém criticar ou ditar o que ela pode ou não.
No Brasil já é de costume ver uma preta ou um preto não se dar bem na vida, quando o percusso muda, chove de criticas.
Todo mundo quer viver bem, eu não tenho o sonho de comprar uma lancha, mas um carro já seria maneiro, cansei de ficar no ponto de ônibus esperando o busão que demora pra vir.
Buzo: BlackFace no Rap, quando a gente pensa que já viu tudo...... o que vc tem a dizer sobre isso ?
Joyce Preta Rara: Ai gente, 2016 já começou assim?
Quando eu entrei no face, um monte de gente me marcou na música desse menino sem informação, teve umas que começou cobrar a minha postura e ficou brava pq eu não conhecia o grupo. E era verdade eu nunca tinha escutado falar em vagabondes (só na vagabanda que era uma banda da época que eu assistia malhação kk)
É por isso que o Tio Sabotagem já dizia e deixou o legado eterno ai né: “O Rap é compromisso”
O cara tem internet no celular, no pc, no notebook, na lan house são tantos lugares e mesmo assim nem se preocupou em pesquisar.
Foi uma ofensa enorme, foi racista! Mesmo ele usando ao argumento que todo racista usa né: Tem preto no meu grupo, meu avó era negro e blá, blá, blá
Uma pratica tão antiga ganhando adeptos até hoje é de dilacerar o peito.
Buzo: Mano Brown com Naldo Benny, essas misturas são positivas? Clipe no Fantástico, é um caminho ?
Joyce Preta Rara: Olha eu não sou fiscal do rap, cada um sabe o que faz né. Particularmente eu não curtia a letra, pq o Brown acostumou a gente com coisas phodásticas. Achei a junção ducaralho, mas pensei que viria uma música mais legal.
Mas, para a carreia do Benny foi da hora né, ter o Mano Brown no seu cd pra ele foi clássico demais, e tem um monte de gente que canta Rap e critica o Naldo que deve está se contorcendo, pq o funkeiro teve a participação do cara mais cabuloso do Rap rs!
Buzo: VC se define como rapper, poetisa ? O que vem por ai..... e salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Joyce Preta Rara: Eu sou Rapper, poestisa, turbanteira e professora de história.
E para 2016 vai vir muita garra pra continuar a propagar as ideias e eu quero divulgar o cd Audácia para o Brasil, Moçambique em Angola.
E quero aproveitar para a agradecer todo o carinho e respeito que eu recebo, seja pela internet ou pessoalmente, pra galera que curti meu trabalho, em especial para todas as mulheres que eu carinhosamente chamo de Rainhas.
E a gente segue aqui resistindo para existir sempre, e para as mulheres que são gordas, vocês são lindas hein.
Sou do tamanho dos meus sonhos.
Saudações Africanas,
Preta-Rara
Postagem cheia de atitude na internet.... gosta de viajar e luta entre outras coisas contra a gordofóbia.
Falo da Joyce Fernandes, Preta Rara.... vamos conhecer um pouco mais dela, nesta última entrevista exclusiva da série 10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook, que foi a retomada do Blog Buzo Entrevista.
***
Alessandro Buzo: Quem é Joyce Fernandes, Preta Rara, por ela mesmo... ?
Joyce Preta Rara: A Joyce Fernandes nasceu no dia 13 de maio de 1985, data está bem emblemática no Brasil que eu chamo de Falsa Abolição. (tem até um rap que eu escrevi e está no cd com esse mesmo nome)
Nasci em uma família abençoada que sempre me incentivaram nas minhas escolhas, meu pai colecionava disco e a música era a trilha perfeita lá de casa.
Já a minha mãe mesmo com pouco estudo sempre cobrou muito a leitura, ela fazia a gente ler a bíblia todos os dias, era um saco pq eu não entendia nada mas, também ela deixava a gente a vontade par escolher o que queria ler.
A vontade por cantar sempre esteve presente em minha vida, como minha família era evangélica, meu contato direto com a música foi na igreja, depois que passei a fazer parte de um grupo de louvor, com 12 anos de idade.
E na adolescência conheci primeiro o funk carioca, curtia demais, só que dentro do meu quarto pq minha mãe não me deixava sair.
E o Rap já era presente na minha vida, pq meu pai sempre ouvia, mas só em 2005 que eu resolvo meter as caras mesmo nas rimas.
E comecei no grupo de rap feminino Tarja-Preta, o grupo durou sete anos e em 2013 finalizamos nossas atividades e eu resolvi iniciar carreira solo.
Nessa caminhada toda ai eu já fui babá e empregada doméstica por 6 anos de trampo pesado e até o meu primeiro ano na universidade.
Sou formada desde 2011 em história e sou professora efetiva em uma escola particular na periferia de São Vicente.
Buzo: Você esteve recentemente no Rio de Janeiro e postou sobre os gringos caírem matando nas mulheres negras, foi assim mesmo, tão na cara dura ? Teve que distribuir até cotovelada ?
Joyce Preta Rara: Nossa, já tinham me falado e eu já tinha lido diversas reportagens e postagens nas rede sociais.
E fiquei de cara quando isso tudo aconteceu comigo. Eu estava em frente a um bar em uma noite de uma sexta-feira na Lapa, e o samba estava comendo solto. Quando de repente começa chegar um monte gringo, e eu super distraída curtindo a noite, quando veio dois gringos, e um chegou já encostando no meu braço falando as palavras: samba, beautiful, exotic e eu me afastei.
E ele veio de novo pra cima de mim, e dessa vez com um monte de notas de dinheiro em forma de leque, sorrindo pedindo pra eu samba.
Eu fiquei tão enojada e com tanta raiva que quando ele se aproximou eu dei uma cotovelada com toda a minha força, pra ele parar de ser babaca.
Isso nunca aconteceu comigo, fiquei tão mal com o ocorrido que no meio do agito eu resolvi voltar para o hotel em que eu estava hospedada.
Isso é que a mídia brasileira mostra, a exposição da mulher negra como mercadoria.
Buzo: Qual a sua atuação cultural e planos pra 2016 ?
Joyce Preta Rara: Bom, para esse ano eu projetei mentalmente e no papel também várias coisas para acontecer.
Além de ser rapper eu sou militante, pra mim eu não consigo separar o rap da minha militância.
E esse ano eu tenho um projeto se for aprovado em um edital aqui de Santos, vou colocar o meu primeiro livro rua que se chama Minha Preta Infância, no qual colocarei alguns relatos meus e de conhecidos para despertar um assunto que muitas das vezes passa despercebido ou fingem que não existem, que é o Racismo na infância.
E farei o show de lançamento oficial do meu disco em Santos e em vários lugares de SP e do Brasil.
Sou turbanteira e tenho algumas oficinas já agendadas também, sempre levo o rap, a militância e os turbantes, pois ao meu ver está tudo atrelado.
Buzo: VC postou foto na praia de maiô e bombou.... acha que o preconceito com os gordinhos como nós, tende a diminuir se a gente se mostrar ?
Joyce Preta Rara: Com certeza, resolvi postar aquela foto de maiô pra pode incentivar as mulheres gordas a irem para a praia, só não esperava aquela repercussão toda de mais de 6 mil curtidas.
É difícil ser mulher gorda em uma sociedade que dita regras para tudo, nasci em uma cidade praiana que eu só aproveitei a praia com liberdade quando eu era criança e depois dos 27 anos quando resolvi assumir minhas curvas e ser feliz.
Estou organizando um evento que se chama Ocupação GGG – Vai Ter Gorda na Praia Sim, que o intuito e incentivar outras mulheres gordas a irem para a praia com a gente, e está bombando de
meninas super felizes que não veem a hora de chegar no evento para se sentir a vontade pra ficarem de biquíni ou maiô. E tem meninas de 14 anos e senhoras de 62 anos que não vão para a praia com vergonha do próprio corpo.
Buzo: Existe gordofobia ?
Joyce Preta Rara: Existe sim, nos olhares, nos comentários, nas piadas sem graça.
Virou moda nas redes sociais colocar a hastag #Gordice para quanto se está em frente de muitas comidas.
Ou seja, no pensamento desses gordofóbicos o gordo só come, vive pra comer.
Fala sério. Por causa disso, que eu posto várias fotos pra calar a boca desse povo sem luz e incentivas as Rainhas Plus Size a saírem de casa, pois sempre falo: Sou do tamanho dos meus sonhos, por isso que somos grandes.
Buzo: Nas suas férias vc ostentou (positivamente falando), nos rolê.... temos que fugir do discurso da crise ?
Joyce Preta Rara: Olha a crise sempre existiu, desde antes da escravidão negra.O Brasil foi colonizado pela crise.
Eu nunca consegui viajar nas férias dos meus antigos trabalhos, sempre tive vontade de viajar mas, nunca tive grana. Dessa vez consegui juntar um dindin através do meu salário de professora e alguns cachês recebidos em 2015 e passei cinco dias e de descanso e vários rolês por lá.
Mas, o que mais marcou nessa viagem é que eu tive o prazer de conhecer a Negra Gizza, era meu sonho desde 2002 conhecer ela, e da galera que eu admiro no Rap Nacional eu já conheci todos pessoalmente só faltava ela. E eu ainda passei o dia inteiro acompanhando ela em uma entrevista na rádio, almoçamos juntas e ainda ela me levou para conhecer o espaço Cufa lá em Madureira.
Foi dos sonhos passar um dia inteiro com uma pessoa que eu sou super fã.
Buzo: Ludmilla postou que ganha 1 milhão por mês, comprou lancha de 300 mil... vira referência ?
Joyce Preta Rara: A galera querendo ou não, a Ludmilla já é referência para as meninas da periferia. Todas as meninas cantam as músicas dela, imitam os passos da dança querem o cabelo igual o dela.
E eu fico muito feliz em ver um progresso de uma mina preta, que nesse país mesmo sendo 53% da população ser preta, é raro ver esses casos, né.
Eu não vejo nenhum problema ela ter comprado uma lancha e o jet ski, é isso ai se tem grana pra gastar borá lá.
Eu li um monte de gente criticando dizendo que ela não deveria gastar essa grana toda e tal, só que aundo a Ivete Sangalo comprou o sei jatinho não ouvi ninguém criticar ou ditar o que ela pode ou não.
No Brasil já é de costume ver uma preta ou um preto não se dar bem na vida, quando o percusso muda, chove de criticas.
Todo mundo quer viver bem, eu não tenho o sonho de comprar uma lancha, mas um carro já seria maneiro, cansei de ficar no ponto de ônibus esperando o busão que demora pra vir.
Buzo: BlackFace no Rap, quando a gente pensa que já viu tudo...... o que vc tem a dizer sobre isso ?
Joyce Preta Rara: Ai gente, 2016 já começou assim?
Quando eu entrei no face, um monte de gente me marcou na música desse menino sem informação, teve umas que começou cobrar a minha postura e ficou brava pq eu não conhecia o grupo. E era verdade eu nunca tinha escutado falar em vagabondes (só na vagabanda que era uma banda da época que eu assistia malhação kk)
É por isso que o Tio Sabotagem já dizia e deixou o legado eterno ai né: “O Rap é compromisso”
O cara tem internet no celular, no pc, no notebook, na lan house são tantos lugares e mesmo assim nem se preocupou em pesquisar.
Foi uma ofensa enorme, foi racista! Mesmo ele usando ao argumento que todo racista usa né: Tem preto no meu grupo, meu avó era negro e blá, blá, blá
Uma pratica tão antiga ganhando adeptos até hoje é de dilacerar o peito.
Buzo: Mano Brown com Naldo Benny, essas misturas são positivas? Clipe no Fantástico, é um caminho ?
Joyce Preta Rara: Olha eu não sou fiscal do rap, cada um sabe o que faz né. Particularmente eu não curtia a letra, pq o Brown acostumou a gente com coisas phodásticas. Achei a junção ducaralho, mas pensei que viria uma música mais legal.
Mas, para a carreia do Benny foi da hora né, ter o Mano Brown no seu cd pra ele foi clássico demais, e tem um monte de gente que canta Rap e critica o Naldo que deve está se contorcendo, pq o funkeiro teve a participação do cara mais cabuloso do Rap rs!
Buzo: VC se define como rapper, poetisa ? O que vem por ai..... e salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Joyce Preta Rara: Eu sou Rapper, poestisa, turbanteira e professora de história.
E para 2016 vai vir muita garra pra continuar a propagar as ideias e eu quero divulgar o cd Audácia para o Brasil, Moçambique em Angola.
E quero aproveitar para a agradecer todo o carinho e respeito que eu recebo, seja pela internet ou pessoalmente, pra galera que curti meu trabalho, em especial para todas as mulheres que eu carinhosamente chamo de Rainhas.
E a gente segue aqui resistindo para existir sempre, e para as mulheres que são gordas, vocês são lindas hein.
Sou do tamanho dos meus sonhos.
Saudações Africanas,
Preta-Rara
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook. 9/10 > ENTREVISTA EXCLUSIVA COM o rapper carioca "Slow da BF".......
Slow da BF como o nome já diz é da Baixada Fluminense, rimador das antigas e estudioso da cultura Hip Hop.
Nessa entrevista exclusiva, vamos saber um pouco mais da sua caminhada, vamos ?
***
Alessandro Buzo: Quem é o Slow da BF por ele mesmo ?
Slow da BF: Sou MC e Grafiteiro da cultura Hip Hop.
Poeta. Improvisador. Fomentador. Oficineiro de Slam, Rap e Grafitti.
Sou amante de Vinil.
E repasso 100% do que aprendi. Já fui DJ e B Boy.
Estudioso profundo do Hip Hop. Dedico quase tudo ao Hip Hop.
Resumindo...
Eu sou Hip Hop.
Buzo: Quem é do Hip Hop em SP e se informa pouco, quando pensa no RAP no RIO fala de MV Bill, Marcelo D2 e pouco mais que isso, porque isso acontece ?
Slow da BF: Do SP que conheço eu ouço as pessoas falando de Esquadrão Zona Norte e Quinto Andar. Sobre as partes e pessoas que não conheço, não sei.
Buzo: Quais os rappers ou grupos do RIO que VC curte ?
Slow da BF: Principalmente os da antiga :
Artigo 288 (Do falecido Gilmar)
Ponto50 (Do falecido Lord Sá )
Nocaute (Do falecido NinoRap)
Poetas de Ébano.
Macarrão.
Contagem Regressiva.
Lataj Mahal.
3 Preto.
Consciência Limpa.
Familia Kapone.
Ramiro Mart.
Ciência Rimatica.
Black Alien e Speed Freaks.
E da nova geração :
Peso Lunar.
Sindicato Heterodoxo.
Autonomia.
Manifesto Coletivo.
Pés Descalços.
Buzo: Você faz RAP a muitos anos, quais as maiores dificuldades ? Tem algum álbum lançado, pretende lançar alguma coisa em 2016 ?
Slow da BF: As dificuldades são muitas. Mas não me abalo.
Tenho mais de 100.000 cópias vendidas nas coletâneas que participei como EZN.
Um CD físico(Epidemia) que esgotou e hoje em SP se compra por R$ 100,00.
Em 2013 lancei mais de 30 faixas.(próprias e featurings )
Em 2014 lancei mais de 30 faixas. (próprias e featurings )
Em 2015 gravei mais de 30
faixas. (próprias e featurings)
Vou gravar mais de 30 esse ano e lançar 120 faixas em 4 anos.
Tá na Net...
Buzo: O funk carioca ganhou as ruas de São Paulo, uns acham cultura, outros que só traz coisas ruins nas mensagens, o que você pensa sobre esse assunto ?
Slow da BF: Tem Funk RJ com mensagem. Tem Funk RJ de conteúdo. Só procurar.
O Funk Ostentação de SP também tá vindo para o RJ.
Buzo: O que você pensa de organizações ligadas ao Hip Hop (ou) periferia, como a CUFA, Afrorregae e outras.... ?
Slow da BF: A Rua sabe quem é quem. Quem é, é.
Buzo: Você é um ótimo improvisador, qual a importância desse dom na sua carreira ?
Slow da BF: Esse dom me levou a lugares que 99% de outros Rappers ainda não foram.
Abriu portas em lugares que nunca teve Hip Hop.
Meu dom levou pessoas e grupos do ponto A para o ponto B.
Aglutinou Instituições e Poderes que não se viam mesmo coexistindo.
Meu dom me deu muito.
Principalmente Respeito.
Buzo: O Rap carioca é unido ?
Slow da BF: O ser Humano não é unido. Nenhum Rap de nenhum lugar do Planeta é unido.
Buzo: Sei que você lê, já comprou livros meus inclusive, qual a importância da literatura na sua vida e o que acha da chamada literatura marginal ?
Slow da BF: Comprei todos os teus que estavam vendendo na época.
Já participei e de alguns livros.
Pretendo escrever os meus.
Acho que a L.M é o efeito colateral desse sistema podre.
É Literatura dos que estão na margem ou além da margem.
Buzo: 2015 não foi fácil.... mas cite 3 coisas boas e manda um salve pra quem conferiu essa entrevista ?
Slow da BF: Foi Punk esse ano.
1 O Segundo Livro que o Kase One e o MC Who (O Credo) estão fazendo. (Talvez venha mais livros).
2 O primeiro Slam Poetry do RJ (Tagarela) que está indo em lugares que poetas e Slameros não foram.
3 Os Encontros de DJS tocando em vinil no RJ que estão lindos e aumentando e os Encontros de Grafitti que estão colorindo as Favelas.
Um salve ao Hip Hop Original.
Nessa entrevista exclusiva, vamos saber um pouco mais da sua caminhada, vamos ?
***
Alessandro Buzo: Quem é o Slow da BF por ele mesmo ?
Slow da BF: Sou MC e Grafiteiro da cultura Hip Hop.
Poeta. Improvisador. Fomentador. Oficineiro de Slam, Rap e Grafitti.
Sou amante de Vinil.
E repasso 100% do que aprendi. Já fui DJ e B Boy.
Estudioso profundo do Hip Hop. Dedico quase tudo ao Hip Hop.
Resumindo...
Eu sou Hip Hop.
Buzo: Quem é do Hip Hop em SP e se informa pouco, quando pensa no RAP no RIO fala de MV Bill, Marcelo D2 e pouco mais que isso, porque isso acontece ?
Slow da BF: Do SP que conheço eu ouço as pessoas falando de Esquadrão Zona Norte e Quinto Andar. Sobre as partes e pessoas que não conheço, não sei.
Buzo: Quais os rappers ou grupos do RIO que VC curte ?
Slow da BF: Principalmente os da antiga :
Artigo 288 (Do falecido Gilmar)
Ponto50 (Do falecido Lord Sá )
Nocaute (Do falecido NinoRap)
Poetas de Ébano.
Macarrão.
Contagem Regressiva.
Lataj Mahal.
3 Preto.
Consciência Limpa.
Familia Kapone.
Ramiro Mart.
Ciência Rimatica.
Black Alien e Speed Freaks.
E da nova geração :
Peso Lunar.
Sindicato Heterodoxo.
Autonomia.
Manifesto Coletivo.
Pés Descalços.
Buzo: Você faz RAP a muitos anos, quais as maiores dificuldades ? Tem algum álbum lançado, pretende lançar alguma coisa em 2016 ?
Slow da BF: As dificuldades são muitas. Mas não me abalo.
Tenho mais de 100.000 cópias vendidas nas coletâneas que participei como EZN.
Um CD físico(Epidemia) que esgotou e hoje em SP se compra por R$ 100,00.
Em 2013 lancei mais de 30 faixas.(próprias e featurings )
Em 2014 lancei mais de 30 faixas. (próprias e featurings )
Em 2015 gravei mais de 30
faixas. (próprias e featurings)
Vou gravar mais de 30 esse ano e lançar 120 faixas em 4 anos.
Tá na Net...
Buzo: O funk carioca ganhou as ruas de São Paulo, uns acham cultura, outros que só traz coisas ruins nas mensagens, o que você pensa sobre esse assunto ?
Slow da BF: Tem Funk RJ com mensagem. Tem Funk RJ de conteúdo. Só procurar.
O Funk Ostentação de SP também tá vindo para o RJ.
Buzo: O que você pensa de organizações ligadas ao Hip Hop (ou) periferia, como a CUFA, Afrorregae e outras.... ?
Slow da BF: A Rua sabe quem é quem. Quem é, é.
Buzo: Você é um ótimo improvisador, qual a importância desse dom na sua carreira ?
Slow da BF: Esse dom me levou a lugares que 99% de outros Rappers ainda não foram.
Abriu portas em lugares que nunca teve Hip Hop.
Meu dom levou pessoas e grupos do ponto A para o ponto B.
Aglutinou Instituições e Poderes que não se viam mesmo coexistindo.
Meu dom me deu muito.
Principalmente Respeito.
Buzo: O Rap carioca é unido ?
Slow da BF: O ser Humano não é unido. Nenhum Rap de nenhum lugar do Planeta é unido.
Buzo: Sei que você lê, já comprou livros meus inclusive, qual a importância da literatura na sua vida e o que acha da chamada literatura marginal ?
Slow da BF: Comprei todos os teus que estavam vendendo na época.
Já participei e de alguns livros.
Pretendo escrever os meus.
Acho que a L.M é o efeito colateral desse sistema podre.
É Literatura dos que estão na margem ou além da margem.
Buzo: 2015 não foi fácil.... mas cite 3 coisas boas e manda um salve pra quem conferiu essa entrevista ?
Slow da BF: Foi Punk esse ano.
1 O Segundo Livro que o Kase One e o MC Who (O Credo) estão fazendo. (Talvez venha mais livros).
2 O primeiro Slam Poetry do RJ (Tagarela) que está indo em lugares que poetas e Slameros não foram.
3 Os Encontros de DJS tocando em vinil no RJ que estão lindos e aumentando e os Encontros de Grafitti que estão colorindo as Favelas.
Um salve ao Hip Hop Original.
domingo, 3 de janeiro de 2016
10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook. 8/10 > ENTREVISTA EXCLUSIVA COM "Jéssica Balbino".
Ela atua tanto no Hip Hop que até parece que mora no eixo Rio-SP, mas não.... Jéssica Balbino é de Poços de Caldas-MG.
Além de pesquisadora e escritora, agita eventos, faz assessoria de imprensa de grupos como o Inquérito e entra nas lutas mais difíceis, sofre com isso, mas diz que "vale a pena"....
É gorda e luta contra a GORDOFÓBIA, é mulher, feminista é claro.... entre outras.
Falamos de tudo isso e um pouco mais com ela, vamos conferir ?
***
Alessandro Buzo: Você lê muito, quantos livros leu em 2015 ? Indique um que gostou muito?
Jéssica Balbino: Olha, eu leio menos do que eu gostaria, viu! Eu tô estudando, então eu li muitos livros acadêmicos, que acabei nem listando. Dos que eu li como entretenimento mesmo, foram 38 em 2015, mas já teve ano de eu ler quase 70 (risos). Entre os que eu mais gostei neste ano estão “O livro dos negros” (Lawrence Hill), que é narrado por uma personagem feminina, criança na África, que foi escravizada e levada para os Estados Unidos. Toda a vida dela é narrada desde a infância, com os pais, até a morte, lutando pela abolição em Londres. Vale muito a leitura para quem quer conhecer mais sobre os navios negreiros, a forma como os senhores tratam os escravos, as lutas mesmo para quem consegue fugir. Enfim, foi um livro que mexeu muito comigo. Indico também os livros da Chimamanda Ngozi Adichie. Ela é muito querida já no Brasil. Em 2015 eu li “Americanah” e “Meio Sol Amarelo”. Gostei de ambos, mas “Meio Sol Amarelo” trata da guerra na Nigéria e é bem bonito. Mostra, principalmente, como os problemas com dinheiro, guerras e sangue não podem afetar o que somos. As protagonistas são duas irmãs.
Alessandro Buzo: Algum plano pra lançar um novo livro seu em 2016 ?
Jéssica Balbino: Ah! Eu tenho muita vontade de publicar algo, mas ainda não tenho nada pronto. Eu escrevo bastante, mas são mais reportagens ou ensaios. Talvez eu reúna isso numa publicação, mas eu tô bem focada em terminar minha pesquisa sobre as mulheres na literatura marginal/periférica.
Alessandro Buzo: Você postou fotos sua de biquíni na praia e a liberdade de ser "gorda" e ter esse direito, eu sou gordo também, qual foi a repercussão ?
Jéssica Balbino: Durante muito tempo, eu sofri por ser gorda. Eu tentei emagrecer, fiz todas aquelas dietas malucas, chorei em silêncio, em público, me privei de muita coisa, mas, faz uns anos, entendi que não precisa ser assim. Eu sou gorda por um fator genético e não existe dieta no mundo que mude isso. As pessoas tem mania de achar que pessoas gordas comem muito, são preguiçosas, porcas, entre outras coisas, e isso não é verdade. A maior parte das pessoas gordas são assim por uma característica genética. E como eu vou brigar com uma minha genética. Eu não como muito, eu pratico exercício, eu sou saudável. É o mesmo que um negro querer ser branco. Ele só vai se machucar.
Quando eu entendi isso, percebi que eu já era muito do que eu gostaria de ser como pessoa, como profissional, e que, agradando o padrão estético da sociedade ou não, eu sou o que sou gorda. Peso 120kg, tenho estrias, celulite e eu tinha duas opções: ser feliz comigo mesma, ou guerrear contra eu mesma. Eu escolhi ser feliz.
Nunca antes na história desse país (risos), se falou tanto em gordofobia, pressão estética e feminismo, e está tudo interligado. Eu já postava fotos de biquíni desde a época do Orkut, quando o Facebook e o instagram nem existiam, mas, não faziam tanto barulho. Neste ano, fui pra Cuba e quando voltei, resolvi postar as fotos, acompanhadas de textos sobre isso. É um contrate muito grande, porque enquanto meus “amigos” compartilham fotos de shakes, dietas milagrosas, se matando na academia e nas corridas, e outros compartilham piadas com fotos de mulheres gordas, eu estou feliz da vida, de biquíni, na praia, vivendo, construindo, etc. Então, é também uma provocação de valores. Teve uma foto em que eu escrevi: como devem sofrer as pessoas que são escravas do próprio corpo me vendo com a barriga grande de fora sendo feliz no Nordeste. E é isso. Não quero julgar o estilo de vida de ninguém. Mas eu optei por não ser escrava e luto sim, pelo fim das piadas, da ridicularização, etc. Porque, embora eu esteja bem, existem problemas sociais que afligem os gordos: as cadeiras são pequenas, as privadas também. Os assentos no avião são minúsculos, a roleta do ônibus impede uma pessoa gorda de passar. E isso tudo por quê? Porque os estereótipos são reforçados. As pessoas gordas são rechaçadas o tempo todo. A gordofobia mata quem não tem autoestima, quem não consegue se encaixar no padrão. E fica a reflexão: quem consegue ser perfeito para estar no padrão doentio criado pela sociedade? Ninguém!
Tenho estado muito engajada nessa frente. Tenho me empenhado em chamar a atenção para este fato. Uma pessoa gorda e feliz incomoda a sociedade. Incomoda quem vive na busca frenética pelo corpo ‘perfeito’. Meu corpo é perfeito. Ele é saudável e isso é tudo. Eu me sinto bem e bonita assim.
Por outro lado, há quem se incomode tanto com isso, que usa um discurso de falsa preocupação com a saúde para justificar a gordofobia. Eu posto uma foto na praia, de biquíni e a pessoa comenta: obesidade é doença. Sim. Obesidade é uma disfunção do organismo, mas não quer dizer que eu vou morrer por estar ‘acima’ do peso. Significa apenas que meu metabolismo não funciona como o de uma pessoa magra. Quando alguém diz isso, parece que gordos comem mal, quando dos 7 dias da semana, em pelo menos 5 eu almoço coisas saudáveis. Entende? Aí vem a pessoa dizer que ela está preocupada com a minha saúde. Sério mesmo? E por que ela não se preocupa com a minha queda de cabelo? Comigo quando eu tive depressão? Com as crianças que morrem de câncer todos os dias? Ninguém está preocupado com a saúde de ninguém. As pessoas estão incomodadas com os corpos das outras, especialmente se este for um corpo gordo se divertindo na praia.
Alessandro Buzo: Você é ultra, mega engajada em várias frentes, alguma vez isso te cansa, pensar em deixar pra lá?
Jéssica Balbino: Sim. Eu penso em abandonar várias coisas todos os dias. Há momentos em que eu fico esgotadíssima. Porque eu trabalho muito. Como jornalista, nunca tive uma rotina normal, em dias normais da semana. Sempre trabalhei em feriados, dias santos, finais de semana, e isso me tornou meio que ‘workaholic’. Sou uma pessoa que tem dificuldades para relaxar e se divertir. Eu tô sempre enxergando trabalho, sempre enxergando onde posso e devo militar. Mas, não sei ser diferente. Eu tento focar, tento diminuir o ritmo, estabelecer prazos e prioridades, mas nem sempre eu consigo. É um conflito muito grande comigo mesma. Isso me afasta de ‘amigos’, de pessoas, enfim. Sabe quando você se torna a chata do rolê? A ‘espalha roda’? Pois é. Isso acontece comigo. Mas, tô tentando aprender a lidar.
Alessandro Buzo: O que te motiva a lutar pelo próximo?
Jéssica Balbino: Acho que vem da personalidade, né? Eu não suporto injustiça. Então, aquilo que dói em mim também, transformo em luta. Isso se aplica ao hip-hop, que sempre foi um pilar, seguido da literatura e através disso tudo, conheci o feminismo, pela Frente Nacional de Mulheres do Hip-Hop (FNMH²) e o empoderamento que vem através disso é irreversível. Você começa a enxergar o que está errado e eu sou ‘mulher elétrica, 3 mil volts’. Não consigo parar. Eu quero mudar o que está errado. E só sei fazer isso lutando.
Alessandro Buzo: #NãoPoetizeoMachismo ...... Valeu a pena? Trouxe resultados positivos?
Jéssica Balbino: É importante dizer que eu não sou a única articuladora da campanha #NãoPoetizeoMachismo. Ela surgiu naturalmente por meio de várias mulheres que se sentiram, em algum momento da trajetória, ultrajadas nos espaços culturais, por atitudes machistas. Eu não estou mais à frente do movimento que foi criado, mas acompanho.
Valeu a pena sim. Foi muito importante para todas as mulheres que se conectaram com isso, ver que elas não eram as únicas, que elas não estavam sozinhas. Quase simultaneamente surgiu a campanha #MeuAmigo Secreto, que fez relatos semelhantes e que nos uniu ainda mais. Foi importante identificar o modus operandi de alguns homens, que fizeram várias vítimas nesse circuito de saraus. Foi legal pra gente entender também como se defender.
O que fica, disso tudo, é que como um relato de abuso pode ser empoderador e que não devemos, nunca, nos calar. Que a mulher tem que falar. Tem sim, que fazer um escândalo. Quando uma mulher relata um abuso sofrido, outra, que nem encarava aquilo como abuso, passa a enxergar que também foi vítima. E assim, conseguimos romper com o ciclo do machismo na sociedade.
Alessandro Buzo: Sofreu represálias, se sim, como encara isso?
Jéssica Balbino: Eu posso falar por mim. Eu sofri represálias, sim. O que mais machuca é saber que os homens que frequentam os saraus são caras que conhecem a nossa luta, que estão conosco no dia a dia, que se tiverem qualquer dúvida sobre machismo, vão poder nos questionar a qualquer momento, e vamos ter uma conversa franca, e foram estes mesmos homens que abusaram da gente, diretamente. São homens que lutam contra a opressão dos negros, dos pobres. Que tem o poder da palavra no microfone, no megafone, nos livros. E que clamam e bradam por justiça o tempo inteiro, mas que nos cantos escuros, abusam das mulheres. A agressão veio de homens que considerávamos irmãos de luta. E isso foi o que mais machucou.
E claro, estar próxima disso tudo. Estar lutando pelas mulheres, mas trabalhando com homens, rendeu ameaça, amizades rompidas, certezas lançadas pela janela. Mas eu encaro isso como um processo natural. Quando eu tirei uma foto escrito no meu corpo #NãoPoetizeoMachismo, sabia que estava dando a cara a tapa e indo pro combate.
Combate este que incluía gente bem próxima. Amigos que eu considerava como irmãos. Mas era inevitável. Tudo na vida são escolhas, são posicionamentos. Eu escolhi me posicionar como mulher, muitas vezes agredida por homens nos saraus, e quando eu falo agressão, são várias as formas. Silenciamento, convidar mais homens que mulheres, só dar destaque pra homens na hora da foto, agradecer todo mundo, mas esquecer da mulher que fez todo o corre bruto, preterir mulheres, não ouvir quando elas vão ao microfone, fazer poesias machistas, agarrar à força, xavecar, tentar olhar a calcinha, encoxar sem querer, abusar sexualmente, psicologicamente, entre outras coisas. Mas, muitos homens se negaram a reconhecer seus lugares de opressões, a mudar, etc. Muitos só disseram: borandar aqui pra frente. Sim. Nós vamos andar de agora em diante, porque não dá pra mudar o passado, mas a gente pode rever onde errou e tentar mudar, tentar compensar o erro. É igual o branco que escraviza o negro e depois de anos diz: desculpa, tá aqui a sua lei áurea. Ok. Mas e ai? Esse negro faz o que com o tempo que perdeu? Com a liberdade agora?
Foi o que muitos homens do rolê fizeram com as mulheres. Mas, valeu a pena sim. Toda forma de empoderamento feminino vale muito a pena. Eu tô ainda bem machucada com tudo isso. Deixei de frequentar espaços que eu frequentava por algum tempo. Mas também tô forte. Tô pronta pra seguir lutando.
Alessandro Buzo: Cite 3 coisas boas de 2015 ?
Jéssica Balbino: 1º - A marcha que as mulheres fizeram contra o deputado Eduardo Cunha e o projeto de lei que pretende dificultar o acesso ao aborto em casos de estupro. Milhares foram às ruas. E isso significa empoderamento.
2º - O fortalecimento e expansão do meu projeto Margens (www.margens.com.br) que mapeia as mulheres que escrevem em todo o Brasil.
3º O aumento no número de publicações vindas de escritores periféricos.
Alessandro Buzo: Quais seus planos pra 2016, culturalmente falando ?
Jéssica Balbino: A ideia é encerrar minha pesquisa – que é também minha pesquisa de mestrado – que tem como objetivo mapear quem são as mulheres da literatura marginal/periférica no Brasil. Já criei um mapa, ainda provisório, disponível no (www.margens.com.br) e neste mesmo endereço estou construindo uma reportagem 360º sobre o tema. A ideia é romper com os muros da academia e transformar a pesquisa em algo acessível pro público, pra massa, pra quem está participando. Tem sido intenso, desgastante, mas muito gratificante. Conheci mulheres incríveis e que fazem uma literatura excelente.
Alessandro Buzo: Pra finalizar, vem mais luta por ai ? Quais......
Jéssica Balbino: As lutas não param, né. Acho que sobreviver no Brasil, vivendo de arte e cultura, sendo mulher, gorda e periférica já é uma luta diária. Não dá pra prever o que vai acontecer, mas sabemos que politicamente temos bancadas que querem exterminar negros, pobres e limitar mulheres a serem objetos de satisfação do desejo masculino, sem direitos, portanto, vamos seguir nas mesmas pautas. E eu, na vida pessoal, sigo com o projeto Margens, que tem sido a prioridade e que, indiretamente, fala sobre tudo isso, por meio das poesias feitas pelas mulheres.
No mais, agradeço o carinho, o espaço e a amizade.
Jéssica Balbino e Alessandro Buzo
Além de pesquisadora e escritora, agita eventos, faz assessoria de imprensa de grupos como o Inquérito e entra nas lutas mais difíceis, sofre com isso, mas diz que "vale a pena"....
É gorda e luta contra a GORDOFÓBIA, é mulher, feminista é claro.... entre outras.
Falamos de tudo isso e um pouco mais com ela, vamos conferir ?
***
Alessandro Buzo: Você lê muito, quantos livros leu em 2015 ? Indique um que gostou muito?
Jéssica Balbino: Olha, eu leio menos do que eu gostaria, viu! Eu tô estudando, então eu li muitos livros acadêmicos, que acabei nem listando. Dos que eu li como entretenimento mesmo, foram 38 em 2015, mas já teve ano de eu ler quase 70 (risos). Entre os que eu mais gostei neste ano estão “O livro dos negros” (Lawrence Hill), que é narrado por uma personagem feminina, criança na África, que foi escravizada e levada para os Estados Unidos. Toda a vida dela é narrada desde a infância, com os pais, até a morte, lutando pela abolição em Londres. Vale muito a leitura para quem quer conhecer mais sobre os navios negreiros, a forma como os senhores tratam os escravos, as lutas mesmo para quem consegue fugir. Enfim, foi um livro que mexeu muito comigo. Indico também os livros da Chimamanda Ngozi Adichie. Ela é muito querida já no Brasil. Em 2015 eu li “Americanah” e “Meio Sol Amarelo”. Gostei de ambos, mas “Meio Sol Amarelo” trata da guerra na Nigéria e é bem bonito. Mostra, principalmente, como os problemas com dinheiro, guerras e sangue não podem afetar o que somos. As protagonistas são duas irmãs.
Alessandro Buzo: Algum plano pra lançar um novo livro seu em 2016 ?
Jéssica Balbino: Ah! Eu tenho muita vontade de publicar algo, mas ainda não tenho nada pronto. Eu escrevo bastante, mas são mais reportagens ou ensaios. Talvez eu reúna isso numa publicação, mas eu tô bem focada em terminar minha pesquisa sobre as mulheres na literatura marginal/periférica.
Alessandro Buzo: Você postou fotos sua de biquíni na praia e a liberdade de ser "gorda" e ter esse direito, eu sou gordo também, qual foi a repercussão ?
Jéssica Balbino: Durante muito tempo, eu sofri por ser gorda. Eu tentei emagrecer, fiz todas aquelas dietas malucas, chorei em silêncio, em público, me privei de muita coisa, mas, faz uns anos, entendi que não precisa ser assim. Eu sou gorda por um fator genético e não existe dieta no mundo que mude isso. As pessoas tem mania de achar que pessoas gordas comem muito, são preguiçosas, porcas, entre outras coisas, e isso não é verdade. A maior parte das pessoas gordas são assim por uma característica genética. E como eu vou brigar com uma minha genética. Eu não como muito, eu pratico exercício, eu sou saudável. É o mesmo que um negro querer ser branco. Ele só vai se machucar.
Quando eu entendi isso, percebi que eu já era muito do que eu gostaria de ser como pessoa, como profissional, e que, agradando o padrão estético da sociedade ou não, eu sou o que sou gorda. Peso 120kg, tenho estrias, celulite e eu tinha duas opções: ser feliz comigo mesma, ou guerrear contra eu mesma. Eu escolhi ser feliz.
Nunca antes na história desse país (risos), se falou tanto em gordofobia, pressão estética e feminismo, e está tudo interligado. Eu já postava fotos de biquíni desde a época do Orkut, quando o Facebook e o instagram nem existiam, mas, não faziam tanto barulho. Neste ano, fui pra Cuba e quando voltei, resolvi postar as fotos, acompanhadas de textos sobre isso. É um contrate muito grande, porque enquanto meus “amigos” compartilham fotos de shakes, dietas milagrosas, se matando na academia e nas corridas, e outros compartilham piadas com fotos de mulheres gordas, eu estou feliz da vida, de biquíni, na praia, vivendo, construindo, etc. Então, é também uma provocação de valores. Teve uma foto em que eu escrevi: como devem sofrer as pessoas que são escravas do próprio corpo me vendo com a barriga grande de fora sendo feliz no Nordeste. E é isso. Não quero julgar o estilo de vida de ninguém. Mas eu optei por não ser escrava e luto sim, pelo fim das piadas, da ridicularização, etc. Porque, embora eu esteja bem, existem problemas sociais que afligem os gordos: as cadeiras são pequenas, as privadas também. Os assentos no avião são minúsculos, a roleta do ônibus impede uma pessoa gorda de passar. E isso tudo por quê? Porque os estereótipos são reforçados. As pessoas gordas são rechaçadas o tempo todo. A gordofobia mata quem não tem autoestima, quem não consegue se encaixar no padrão. E fica a reflexão: quem consegue ser perfeito para estar no padrão doentio criado pela sociedade? Ninguém!
Tenho estado muito engajada nessa frente. Tenho me empenhado em chamar a atenção para este fato. Uma pessoa gorda e feliz incomoda a sociedade. Incomoda quem vive na busca frenética pelo corpo ‘perfeito’. Meu corpo é perfeito. Ele é saudável e isso é tudo. Eu me sinto bem e bonita assim.
Por outro lado, há quem se incomode tanto com isso, que usa um discurso de falsa preocupação com a saúde para justificar a gordofobia. Eu posto uma foto na praia, de biquíni e a pessoa comenta: obesidade é doença. Sim. Obesidade é uma disfunção do organismo, mas não quer dizer que eu vou morrer por estar ‘acima’ do peso. Significa apenas que meu metabolismo não funciona como o de uma pessoa magra. Quando alguém diz isso, parece que gordos comem mal, quando dos 7 dias da semana, em pelo menos 5 eu almoço coisas saudáveis. Entende? Aí vem a pessoa dizer que ela está preocupada com a minha saúde. Sério mesmo? E por que ela não se preocupa com a minha queda de cabelo? Comigo quando eu tive depressão? Com as crianças que morrem de câncer todos os dias? Ninguém está preocupado com a saúde de ninguém. As pessoas estão incomodadas com os corpos das outras, especialmente se este for um corpo gordo se divertindo na praia.
Alessandro Buzo: Você é ultra, mega engajada em várias frentes, alguma vez isso te cansa, pensar em deixar pra lá?
Jéssica Balbino: Sim. Eu penso em abandonar várias coisas todos os dias. Há momentos em que eu fico esgotadíssima. Porque eu trabalho muito. Como jornalista, nunca tive uma rotina normal, em dias normais da semana. Sempre trabalhei em feriados, dias santos, finais de semana, e isso me tornou meio que ‘workaholic’. Sou uma pessoa que tem dificuldades para relaxar e se divertir. Eu tô sempre enxergando trabalho, sempre enxergando onde posso e devo militar. Mas, não sei ser diferente. Eu tento focar, tento diminuir o ritmo, estabelecer prazos e prioridades, mas nem sempre eu consigo. É um conflito muito grande comigo mesma. Isso me afasta de ‘amigos’, de pessoas, enfim. Sabe quando você se torna a chata do rolê? A ‘espalha roda’? Pois é. Isso acontece comigo. Mas, tô tentando aprender a lidar.
Alessandro Buzo: O que te motiva a lutar pelo próximo?
Jéssica Balbino: Acho que vem da personalidade, né? Eu não suporto injustiça. Então, aquilo que dói em mim também, transformo em luta. Isso se aplica ao hip-hop, que sempre foi um pilar, seguido da literatura e através disso tudo, conheci o feminismo, pela Frente Nacional de Mulheres do Hip-Hop (FNMH²) e o empoderamento que vem através disso é irreversível. Você começa a enxergar o que está errado e eu sou ‘mulher elétrica, 3 mil volts’. Não consigo parar. Eu quero mudar o que está errado. E só sei fazer isso lutando.
Alessandro Buzo: #NãoPoetizeoMachismo ...... Valeu a pena? Trouxe resultados positivos?
Jéssica Balbino: É importante dizer que eu não sou a única articuladora da campanha #NãoPoetizeoMachismo. Ela surgiu naturalmente por meio de várias mulheres que se sentiram, em algum momento da trajetória, ultrajadas nos espaços culturais, por atitudes machistas. Eu não estou mais à frente do movimento que foi criado, mas acompanho.
Valeu a pena sim. Foi muito importante para todas as mulheres que se conectaram com isso, ver que elas não eram as únicas, que elas não estavam sozinhas. Quase simultaneamente surgiu a campanha #MeuAmigo Secreto, que fez relatos semelhantes e que nos uniu ainda mais. Foi importante identificar o modus operandi de alguns homens, que fizeram várias vítimas nesse circuito de saraus. Foi legal pra gente entender também como se defender.
O que fica, disso tudo, é que como um relato de abuso pode ser empoderador e que não devemos, nunca, nos calar. Que a mulher tem que falar. Tem sim, que fazer um escândalo. Quando uma mulher relata um abuso sofrido, outra, que nem encarava aquilo como abuso, passa a enxergar que também foi vítima. E assim, conseguimos romper com o ciclo do machismo na sociedade.
Alessandro Buzo: Sofreu represálias, se sim, como encara isso?
Jéssica Balbino: Eu posso falar por mim. Eu sofri represálias, sim. O que mais machuca é saber que os homens que frequentam os saraus são caras que conhecem a nossa luta, que estão conosco no dia a dia, que se tiverem qualquer dúvida sobre machismo, vão poder nos questionar a qualquer momento, e vamos ter uma conversa franca, e foram estes mesmos homens que abusaram da gente, diretamente. São homens que lutam contra a opressão dos negros, dos pobres. Que tem o poder da palavra no microfone, no megafone, nos livros. E que clamam e bradam por justiça o tempo inteiro, mas que nos cantos escuros, abusam das mulheres. A agressão veio de homens que considerávamos irmãos de luta. E isso foi o que mais machucou.
E claro, estar próxima disso tudo. Estar lutando pelas mulheres, mas trabalhando com homens, rendeu ameaça, amizades rompidas, certezas lançadas pela janela. Mas eu encaro isso como um processo natural. Quando eu tirei uma foto escrito no meu corpo #NãoPoetizeoMachismo, sabia que estava dando a cara a tapa e indo pro combate.
Combate este que incluía gente bem próxima. Amigos que eu considerava como irmãos. Mas era inevitável. Tudo na vida são escolhas, são posicionamentos. Eu escolhi me posicionar como mulher, muitas vezes agredida por homens nos saraus, e quando eu falo agressão, são várias as formas. Silenciamento, convidar mais homens que mulheres, só dar destaque pra homens na hora da foto, agradecer todo mundo, mas esquecer da mulher que fez todo o corre bruto, preterir mulheres, não ouvir quando elas vão ao microfone, fazer poesias machistas, agarrar à força, xavecar, tentar olhar a calcinha, encoxar sem querer, abusar sexualmente, psicologicamente, entre outras coisas. Mas, muitos homens se negaram a reconhecer seus lugares de opressões, a mudar, etc. Muitos só disseram: borandar aqui pra frente. Sim. Nós vamos andar de agora em diante, porque não dá pra mudar o passado, mas a gente pode rever onde errou e tentar mudar, tentar compensar o erro. É igual o branco que escraviza o negro e depois de anos diz: desculpa, tá aqui a sua lei áurea. Ok. Mas e ai? Esse negro faz o que com o tempo que perdeu? Com a liberdade agora?
Foi o que muitos homens do rolê fizeram com as mulheres. Mas, valeu a pena sim. Toda forma de empoderamento feminino vale muito a pena. Eu tô ainda bem machucada com tudo isso. Deixei de frequentar espaços que eu frequentava por algum tempo. Mas também tô forte. Tô pronta pra seguir lutando.
Alessandro Buzo: Cite 3 coisas boas de 2015 ?
Jéssica Balbino: 1º - A marcha que as mulheres fizeram contra o deputado Eduardo Cunha e o projeto de lei que pretende dificultar o acesso ao aborto em casos de estupro. Milhares foram às ruas. E isso significa empoderamento.
2º - O fortalecimento e expansão do meu projeto Margens (www.margens.com.br) que mapeia as mulheres que escrevem em todo o Brasil.
3º O aumento no número de publicações vindas de escritores periféricos.
Alessandro Buzo: Quais seus planos pra 2016, culturalmente falando ?
Jéssica Balbino: A ideia é encerrar minha pesquisa – que é também minha pesquisa de mestrado – que tem como objetivo mapear quem são as mulheres da literatura marginal/periférica no Brasil. Já criei um mapa, ainda provisório, disponível no (www.margens.com.br) e neste mesmo endereço estou construindo uma reportagem 360º sobre o tema. A ideia é romper com os muros da academia e transformar a pesquisa em algo acessível pro público, pra massa, pra quem está participando. Tem sido intenso, desgastante, mas muito gratificante. Conheci mulheres incríveis e que fazem uma literatura excelente.
Alessandro Buzo: Pra finalizar, vem mais luta por ai ? Quais......
Jéssica Balbino: As lutas não param, né. Acho que sobreviver no Brasil, vivendo de arte e cultura, sendo mulher, gorda e periférica já é uma luta diária. Não dá pra prever o que vai acontecer, mas sabemos que politicamente temos bancadas que querem exterminar negros, pobres e limitar mulheres a serem objetos de satisfação do desejo masculino, sem direitos, portanto, vamos seguir nas mesmas pautas. E eu, na vida pessoal, sigo com o projeto Margens, que tem sido a prioridade e que, indiretamente, fala sobre tudo isso, por meio das poesias feitas pelas mulheres.
No mais, agradeço o carinho, o espaço e a amizade.
Jéssica Balbino e Alessandro Buzo
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook. 7/10 > ENTREVISTA EXCLUSIVA COM "Alex Barcellos".
Alex Barcellos é um agitador cultural em São Paulo, realizador do Festival Percurso na Zona Sul da capital.
Vamos conhecer melhor esse mano, numa entrevista exclusiva.
*****
Alessandro Buzo : Quem é Alex Barcellos por ele mesmo ?
Alex Barcellos: Alex é um amigo que tu pode contar com ele até o fim, cara simples, morador de Taboão da serra que passou grande parte da sua vida na várzea e nas quebradas da zona da zona sul, filho de mineiros que estudaram até a 4 série, e de 3 irmãos que até hoje tem que aguentar esse maloqueiro que fala gíria, que trabalhou 15 anos no comercio de varejo de São Paulo tendo vários conflitos ideológicos com os patrões, que conheceu a cena cultural em 97 trabalhando com teatro e música, mais que infelizmente não conseguiu viver do seu sonho, muito pela época que sonhou.
Amante de música, política e de produção periférica.
Que curte muito estar com amigos, pessoas, juventude, que tem sonhos é que acredita neles, que tem foco, que é um bom amante do mar, cachoeira, que curte um bom Whisky, adora ler biografias, que escuta muita música e que gosta de conhecer mais é mais sobre o Brasil e os brasileiros.
Que não foge da luta, que adora acompanhar ela, e que confia muito em quem luta!
Buzo: Você é um dos organizadores do Festival Percurso, na zona sul de SP, o que dizer da edição de 2015 ?
Alex Barcellos: Festival Percurso começou como um sonho coletivo que germinou em um grande Festival na Zona Sul, 2015 foi nossa segunda edição, foi mágico, foi um momento de conseguir reunir em um evento tudo que poderíamos ter de produção cultural periférica, um evento de um dia só, que teve envolvido, 3a Idade, Crianças, Juventude, Economia Solidária, Mulheres, Indígenas, Povos Tradicionais, Funk, Rap, Sarau, Poesia, Grafitte, Brincadeiras, teatro, dança, literatura, comida e ocupando um espaço público como a praça do Campo Limpo, sendo tudo grátis, com público estimado em 20 mil pessoas no decorrer do dia. tudo em um arranjo colaborativo, mostrando a força da produção periférica em organizar um evento desse porte.
Buzo: Teremos Festival Percurso 2016 ? O que podemos esperar ?
Alex Barcellos: Espero ter Festival Percurso todo ano! Lembrando que Percurso tem um duplo sentido, pra nóiz é Periferia e Cultura em Rede Solidária, ou seja a cada ano cresce mais. Em 2016 vamos fortalecer mais ainda a produção periférica, os arranjos solidários e ter mais colaboradores na produção.
Buzo: Nos fale da cena cultural na Zona Sul, Zona Show ?
Alex Barcellos: A cena cultural da Zona Sul resiste ainda! Mais acho que vem tendo um grande progresso, ocupando mais espaços públicos seja em praças, bibliotecas, salas, escolas, ruas, vem surgindo mais Saraus em diversas quebradas, tem vários projetos acontecendo dentro dos territórios. Exemplo ano passado teve a feira literária da Argentina com diversos Saraus aqui da Sul, Estéticas da Periferia que foi lindo de ver e participar, conseguimos estar na 31a Bienal com 22 atrações periféricas, Teve o Festival Doladodecá que contemplou o Futebol de várzea levando a cultura pra dentro do campo com o Narra Várzea e o Racionais tocando no Capão no Festival Percurso, conseguimos lançar um Cd com arranjo colaborativo e solidário do Vitor da Trindade junto com a Agência Popular de Cultura Solano Trindade. Esse ano foi intenso, Cd do Z'África Brasil, Festival Percurso, Felizs 1a Feira Literaria da Zona Sul, 10o Festcal Festival Nacional de Teatro do Campo Limpo, 1o Festival onde Quereres Resolver sou Coqueiro, 8a mostra Cultural da Cooperifa, Festa de 15 anos da Festa 100% Favela. Vou citar só esse mais faltou muita coisa ainda, mais a Zona Show continua viva!
Buzo: Existe união entre artistas e produtores culturais na sua opinião ?
Alex Barcellos: Olha ela não é unânime! Mais vem melhorando bastante essa relação de trabalhar junto, de ser mais colaborativo nas produções, todos lutar por mais Leis, projetos e editais. Acho que também estamos em um processo de formação de entender como juntos conseguimos mais coisas, de ouvir mais, de compartilhar mais e de se conhecer mais. Não tenho nada também com quem pense diferente, mais acho que ta na hora de acreditar em uma novo ciclo que vem surgindo e que todos devem repensar as suas ações.
Buzo: Cena dos Saraus na Periferia de São Paulo, qual importância você vê ?
Alex Barcellos: Acho que o Sarau deu a oportunidade de mais pessoas falarem, de mais artistas surgirem, o sarau e resistência, luta, literatura, música, poesia, teatro e pedagógico, acho que ele consegue reunir tudo que tem de produção cultural, de manifestação artística, espaço de debates e posições políticas. Ele conseguiu entrar dentro da escola conservadora, ele conseguiu ir pra Argentina mostrar nossa cultura, ele está na França, na Alemanha no México, o Sarau é um dos movimentos mais importantes que aconteceu culturalmente no Brasil. Hoje ele ajuda na formação da nossa juventude, hoje ele fala, mostra nossa cara e fala a nossa língua.
Buzo: Quais saraus você costuma frequentar ?
Alex Barcellos: Como disse amo a cultura periférica, vou citar alguns espaços que frequento e que indico a todos conhecerem, Sarau do Binho, Sarau da Cooperifa, Sarau do Kintal, Sarau Suburbano, Sarau Verso em Versos, Praçarau, Sarau Preto no Branco, Sarau da Viela, Sarau na Laje e Batalha TSP.Tem espaços culturais que as pessoas também devem conhecer Teatro Clarianas, Teatro Encena, Bloco do Beco, Sacolão da Artes, Espaço Cita, Projeto Arrastão, Espaço Comunidade, Espaço Tesol de Teatro, Grupo Candearte, Casa do Poeta Marcos Pezão, Cinema na Laje, Instituto Periferia Ativa, Livraria Suburbano Convicto, Espaço DAVILA, Bar Sede Vila Fundão, Casa As Capulanas, Espaço Afrobase, Quilombaque Perus, Pombas Urbanas, Projeto Cicas, Brechóteca, Casa de Cultura da M'Boy Mirim, Espaço Clamart, Barracão Cultural DJ Lah, Capão Cidadão, Ação Educativa, A Banca, Centro Cultural Monte Azul, Bar do Mutcho, Na amostra da Vielada, Adega do Baguinho, Bar do Saldanha e mais um monte que nem citei.
Buzo: O que você gosta de fazer em São Paulo ?
Alex Barcellos: Em Sampa gosto de ir a Saraus, shows, bares e andar as pelas ruas, quebradas ou na casa de amigos. Mais gosto muito de ficar em casa ouvindo música, lendo um livro ou vendo vídeos.
Buzo: 2015 foi um ano difícil, mas destaque 3 coisas boas....
Alex Barcellos: 2015 foi difícil mesmo! 3 coisas boas,
1 - O movimento que luta pela Lei de Fomento as Periferias, que pressionou o governo do Município na aprovação de mais recursos para a periferia neste ano de 2016, mais que ainda luta pela aprovação da PL da Lei.
2 - O Levante da Juventude dentro das Escolas da Rede Estadual, que derrubou um secretario de Educação em um governo tão autoritário e conservador, essa juventude que se manifesta que sente a necessidade de mudar o amanhã mais começando hoje.
3 Os avanços que aconteceram em São paulo com a Economia Solidária com a Inauguração de uma Incubadora, com o decreto de compras feito pela prefeitura de São Paulo favorecendo os EES, Coperativas etc, A juventude que vem conhecendo e se formando em Economia Solidária essa nova cadeia produtiva da Cultura na Ecosol e o surgimento da Rede JuvEsol ( Juventudes e Economia Solidária).
Buzo: Considerações finais e um salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Alex Barcellos: Um salve pra todas e todos! deixo aqui uma mensagem a quem possa interessar.
Que tenha paz e sabedoria todos os dias, que não tenha data definida pra ser feliz, que tenha sempre próximo de ti quem tu ama, que você mais pratique o amor do que só fale sobre ele, que todos os dias da sua vida sejam de paz, igualdade, solidariedade, que melhore nossa coragem em ajudar a todos e a todos, que tenham mais coragem em se ajudar, que a saúde esteja forte pra continuarmos nas trincheiras do dia-dia, que nossos corações amoleçam e que não tenhamos mais medo de ser sincero, que eu sonhe mais e que conheça mais sonhadores, que devemos aprender a compartilhar mais e deixar nosso aprendizado no coração de cada pessoa, que tudo eu tenha e que tudo tu tenha, que sejamos mais unidos, mais irmão, mais nóiz por nóiz, espero olhar pro lado e ver você comigo no corre da vida sempre!
Vida longa á todos nós e muito amor sempre.
Valeu Buzo, Gratidão irmão!!
Vamos conhecer melhor esse mano, numa entrevista exclusiva.
*****
Alessandro Buzo : Quem é Alex Barcellos por ele mesmo ?
Alex Barcellos: Alex é um amigo que tu pode contar com ele até o fim, cara simples, morador de Taboão da serra que passou grande parte da sua vida na várzea e nas quebradas da zona da zona sul, filho de mineiros que estudaram até a 4 série, e de 3 irmãos que até hoje tem que aguentar esse maloqueiro que fala gíria, que trabalhou 15 anos no comercio de varejo de São Paulo tendo vários conflitos ideológicos com os patrões, que conheceu a cena cultural em 97 trabalhando com teatro e música, mais que infelizmente não conseguiu viver do seu sonho, muito pela época que sonhou.
Amante de música, política e de produção periférica.
Que curte muito estar com amigos, pessoas, juventude, que tem sonhos é que acredita neles, que tem foco, que é um bom amante do mar, cachoeira, que curte um bom Whisky, adora ler biografias, que escuta muita música e que gosta de conhecer mais é mais sobre o Brasil e os brasileiros.
Que não foge da luta, que adora acompanhar ela, e que confia muito em quem luta!
Buzo: Você é um dos organizadores do Festival Percurso, na zona sul de SP, o que dizer da edição de 2015 ?
Alex Barcellos: Festival Percurso começou como um sonho coletivo que germinou em um grande Festival na Zona Sul, 2015 foi nossa segunda edição, foi mágico, foi um momento de conseguir reunir em um evento tudo que poderíamos ter de produção cultural periférica, um evento de um dia só, que teve envolvido, 3a Idade, Crianças, Juventude, Economia Solidária, Mulheres, Indígenas, Povos Tradicionais, Funk, Rap, Sarau, Poesia, Grafitte, Brincadeiras, teatro, dança, literatura, comida e ocupando um espaço público como a praça do Campo Limpo, sendo tudo grátis, com público estimado em 20 mil pessoas no decorrer do dia. tudo em um arranjo colaborativo, mostrando a força da produção periférica em organizar um evento desse porte.
Buzo: Teremos Festival Percurso 2016 ? O que podemos esperar ?
Alex Barcellos: Espero ter Festival Percurso todo ano! Lembrando que Percurso tem um duplo sentido, pra nóiz é Periferia e Cultura em Rede Solidária, ou seja a cada ano cresce mais. Em 2016 vamos fortalecer mais ainda a produção periférica, os arranjos solidários e ter mais colaboradores na produção.
Buzo: Nos fale da cena cultural na Zona Sul, Zona Show ?
Alex Barcellos: A cena cultural da Zona Sul resiste ainda! Mais acho que vem tendo um grande progresso, ocupando mais espaços públicos seja em praças, bibliotecas, salas, escolas, ruas, vem surgindo mais Saraus em diversas quebradas, tem vários projetos acontecendo dentro dos territórios. Exemplo ano passado teve a feira literária da Argentina com diversos Saraus aqui da Sul, Estéticas da Periferia que foi lindo de ver e participar, conseguimos estar na 31a Bienal com 22 atrações periféricas, Teve o Festival Doladodecá que contemplou o Futebol de várzea levando a cultura pra dentro do campo com o Narra Várzea e o Racionais tocando no Capão no Festival Percurso, conseguimos lançar um Cd com arranjo colaborativo e solidário do Vitor da Trindade junto com a Agência Popular de Cultura Solano Trindade. Esse ano foi intenso, Cd do Z'África Brasil, Festival Percurso, Felizs 1a Feira Literaria da Zona Sul, 10o Festcal Festival Nacional de Teatro do Campo Limpo, 1o Festival onde Quereres Resolver sou Coqueiro, 8a mostra Cultural da Cooperifa, Festa de 15 anos da Festa 100% Favela. Vou citar só esse mais faltou muita coisa ainda, mais a Zona Show continua viva!
Buzo: Existe união entre artistas e produtores culturais na sua opinião ?
Alex Barcellos: Olha ela não é unânime! Mais vem melhorando bastante essa relação de trabalhar junto, de ser mais colaborativo nas produções, todos lutar por mais Leis, projetos e editais. Acho que também estamos em um processo de formação de entender como juntos conseguimos mais coisas, de ouvir mais, de compartilhar mais e de se conhecer mais. Não tenho nada também com quem pense diferente, mais acho que ta na hora de acreditar em uma novo ciclo que vem surgindo e que todos devem repensar as suas ações.
Buzo: Cena dos Saraus na Periferia de São Paulo, qual importância você vê ?
Alex Barcellos: Acho que o Sarau deu a oportunidade de mais pessoas falarem, de mais artistas surgirem, o sarau e resistência, luta, literatura, música, poesia, teatro e pedagógico, acho que ele consegue reunir tudo que tem de produção cultural, de manifestação artística, espaço de debates e posições políticas. Ele conseguiu entrar dentro da escola conservadora, ele conseguiu ir pra Argentina mostrar nossa cultura, ele está na França, na Alemanha no México, o Sarau é um dos movimentos mais importantes que aconteceu culturalmente no Brasil. Hoje ele ajuda na formação da nossa juventude, hoje ele fala, mostra nossa cara e fala a nossa língua.
Buzo: Quais saraus você costuma frequentar ?
Alex Barcellos: Como disse amo a cultura periférica, vou citar alguns espaços que frequento e que indico a todos conhecerem, Sarau do Binho, Sarau da Cooperifa, Sarau do Kintal, Sarau Suburbano, Sarau Verso em Versos, Praçarau, Sarau Preto no Branco, Sarau da Viela, Sarau na Laje e Batalha TSP.Tem espaços culturais que as pessoas também devem conhecer Teatro Clarianas, Teatro Encena, Bloco do Beco, Sacolão da Artes, Espaço Cita, Projeto Arrastão, Espaço Comunidade, Espaço Tesol de Teatro, Grupo Candearte, Casa do Poeta Marcos Pezão, Cinema na Laje, Instituto Periferia Ativa, Livraria Suburbano Convicto, Espaço DAVILA, Bar Sede Vila Fundão, Casa As Capulanas, Espaço Afrobase, Quilombaque Perus, Pombas Urbanas, Projeto Cicas, Brechóteca, Casa de Cultura da M'Boy Mirim, Espaço Clamart, Barracão Cultural DJ Lah, Capão Cidadão, Ação Educativa, A Banca, Centro Cultural Monte Azul, Bar do Mutcho, Na amostra da Vielada, Adega do Baguinho, Bar do Saldanha e mais um monte que nem citei.
Buzo: O que você gosta de fazer em São Paulo ?
Alex Barcellos: Em Sampa gosto de ir a Saraus, shows, bares e andar as pelas ruas, quebradas ou na casa de amigos. Mais gosto muito de ficar em casa ouvindo música, lendo um livro ou vendo vídeos.
Buzo: 2015 foi um ano difícil, mas destaque 3 coisas boas....
Alex Barcellos: 2015 foi difícil mesmo! 3 coisas boas,
1 - O movimento que luta pela Lei de Fomento as Periferias, que pressionou o governo do Município na aprovação de mais recursos para a periferia neste ano de 2016, mais que ainda luta pela aprovação da PL da Lei.
2 - O Levante da Juventude dentro das Escolas da Rede Estadual, que derrubou um secretario de Educação em um governo tão autoritário e conservador, essa juventude que se manifesta que sente a necessidade de mudar o amanhã mais começando hoje.
3 Os avanços que aconteceram em São paulo com a Economia Solidária com a Inauguração de uma Incubadora, com o decreto de compras feito pela prefeitura de São Paulo favorecendo os EES, Coperativas etc, A juventude que vem conhecendo e se formando em Economia Solidária essa nova cadeia produtiva da Cultura na Ecosol e o surgimento da Rede JuvEsol ( Juventudes e Economia Solidária).
Buzo: Considerações finais e um salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Alex Barcellos: Um salve pra todas e todos! deixo aqui uma mensagem a quem possa interessar.
Que tenha paz e sabedoria todos os dias, que não tenha data definida pra ser feliz, que tenha sempre próximo de ti quem tu ama, que você mais pratique o amor do que só fale sobre ele, que todos os dias da sua vida sejam de paz, igualdade, solidariedade, que melhore nossa coragem em ajudar a todos e a todos, que tenham mais coragem em se ajudar, que a saúde esteja forte pra continuarmos nas trincheiras do dia-dia, que nossos corações amoleçam e que não tenhamos mais medo de ser sincero, que eu sonhe mais e que conheça mais sonhadores, que devemos aprender a compartilhar mais e deixar nosso aprendizado no coração de cada pessoa, que tudo eu tenha e que tudo tu tenha, que sejamos mais unidos, mais irmão, mais nóiz por nóiz, espero olhar pro lado e ver você comigo no corre da vida sempre!
Vida longa á todos nós e muito amor sempre.
Valeu Buzo, Gratidão irmão!!
10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook. 6/10 > ENTREVISTA EXCLUSIVA COM "Jean Mello", escritor.
Jean Mello é um jovem escritor com três livros publicados...... vamos conhecer ele melhor ?
ENTREVISTA EXCLUSIVA
Buzo: Como é ser escritor no Brasil?
Jean Mello: Dedicar-se a qualquer tipo de atividade cultural no Brasil traduz-se em resistência, insistência, militância, dificuldade de todas as espécies para se manter, acreditando no impossível. Comigo sempre foi assim, como educador e agora também como escritor e músico. Um não é isento do outro.
Vivemos em um país em que não chega a 1% os recursos destinados à cultura. Apenas 0,6% do orçamento do governo federal são repassados para bancar práticas culturais. A luta é para que se chegue a pelo menos 2%.
Desde o governo Lula, mesmo com todas essas notícias de corrupção em massa, fato que não é exclusividade da gestão de todos esses anos do Partido dos Trabalhadores, podemos ver isso com facilidade nos noticiários ou em qualquer pesquisa séria sobre o assunto, o Brasil passou por grande desenvolvimento econômico para vários setores da sociedade que não tinham acesso aos bens que, historicamente, eram de desfrute apenas da elite financeira. Claro que é preciso olhar de modo crítico para esse chamado desenvolvimento econômico. A quem realmente beneficiou essas mudanças? Reflito um pouco sobre isso na resposta dessa questão.
Hoje, os ricos têm de dividir espaço com negros e nordestinos nos aeroportos. Os filhos das domésticas do passado estudam em universidades por intermédio de bolsas de estudos concedidas a partir do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
Não sou panfletário de nenhum partido ou governo. Como escritor e educador essa é uma questão que observo, considero cara, importante, mas não gasto meu tempo discutindo isso em filas de ônibus ou debates intelectuais. O Brasil e o mundo são muito mais que isso. Não precisa de muito esforço para entender. Porém, refletindo sobre os últimos anos, pensando nas mudanças que vejo serem significativas, reflito por quais motivos todas essas transformações não aconteceram também no campo da cultura e da educação. Mais no campo da cultura. Se tão pouco investimento é destinado para isso, como vamos viver em um país em que os gestores, nacionais e regionais, não fizeram o desenvolvimento cultural caminhar de mãos dadas com o chamado desenvolvimento econômico?
Por outro lado, mesmo sabendo que não é exclusividade das gestões Lula e Dilma, concordo com o dramaturgo e diretor da Cooperativa Paulista de Teatro, Dorberto Carvalho. Ele diz... “Desde o governo Lula, o país tem passado por um período de desenvolvimento que beneficiou diversos setores da sociedade, dentre os quais empresários, banqueiros e investidores internacionais. A questão é que a cultura, entre outros setores sociais, quase não se beneficiou desse processo. Por conta disso, buscamos não só uma correção dessa desigualdade, bem como uma distribuição de recursos públicos que corresponda ao desenvolvimento econômico dos últimos anos e responda à demanda de produção, ao acesso e a fruição dos bens culturais por parte de uma imensa maioria da população”.
Acesso ao crédito não é necessariamente desenvolvimento social e econômico. Mesmo assim, os mais pobres ocuparem alguns espaços mexe, e muito, com o imaginário dos mais ricos nesse país chamado tropical. Veremos o efeito disso ao passar dos anos.
Ser escritor é fazer parte desse universo. Viver em uma realidade pautada no que vive o mundo e, por simples obviedade, o país de origem do autor. Somos de uma nação que não exige quase nada em desenvolvimento humano. O escritor, por consciência, vai no fluxo contrário disso tudo. Será fácil viver como escritor em um lugar assim?
Buzo: Quantos livros você publicou, comente brevemente sobre eles...
Jean Mello: Três livros, eles podem ser lidos do modo isolado, mas quando são degustados, um após o outro, são entendidos em sua completude. Crônicas Perdidas, Exalando Esperança e Fim de Tarde. Mas muitos admiradores de meu trabalho, desde a criação de meu site em 2008, me corrigem. Eles dizem que tenho mais de três publicações. Já me disseram que meu site é um livro sem fim, virtual.
Para explicar meus dois primeiros escritos, vou recorrer ao site da editora Kazuá, que publicou meu novo livro. E, para falar do Fim de Tarde, vou utilizar algo que meu amigo Germano Gonçalves e Marília de Santis disseram a respeito da obra: “Em 2013 publicou o livro Crônicas Perdidas. Relatos sobre uma diversidade de temas: educação, preconceito, religião, cultura, desigualdades sociais. Em 2015 mais um projeto publicado, Exalando Esperança. Na obra são retratadas situações aparentemente pequenas que ocorrem principalmente nas periferias, mas que precisam ser valorizadas. Um projeto de alfabetização de adultos nascendo em alguma região de vulnerabilidade social, um polo cultural surgindo em uma praça abandonada, pessoas superando as dificuldades que todo excluído enfrenta. Acredita que o sonho de Luther King não virou pó. Insiste em deixar sua marca no mundo através da arte” (Entrelinhas do autor, site da Editora Kazuá).
“Em Fim de Tarde, Jean, nos atenta a ver e examinar cuidadosamente as coisas do mundo, os afetos das pessoas, o grau de formalidade ou de intimidade entre os transeuntes de uma cidade. O desinteresse por uma cultura digna; o orgulho de quem anda de carrão e de modo desenfreado rumo ao vazio, como o autor menciona em uma das crônicas dessa obra: ‘Foi angustiante ver os carros passando, no trânsito da vida, com pressa, ou nem tanto assim, em direção ao nada que os esperavam’. É evidente que a humanidade está cada vez mais voltada para si, egoísta, pensando em seu próprio umbigo. Mas, vale lembrar, nas palavras do autor, que todos nós vamos para o mesmo lugar, e que desta vida nada se leva” (Germano Gonçalves).
“Jean Mello é educador social, cronista, músico, comunicador, poeta. Alicerça a sua obra no chão da vida. Romântico, mas nada ingênuo, procura explicar a realidade a partir do que vive, com profundo respeito à riqueza que a prática de seu cotidiano lhe confere. Suas crônicas, críticas e poéticas, são marcas de sua passagem pelo mundo. Jovem de largo horizonte, nos revela seu olhar e nos desvela um mundo de ilusões onde o consumo, a alienação e a injustiça social se desmancham sob a simplicidade de seu humor e de sua inquietude. Fim de Tarde é um livro simples. E especial. Porque é sensível e porque carrega consigo a esperança de um mundo melhor” (Marília de Santis é educadora e organizadora do livro Memórias de Heliópolis).
Buzo: Fim de Tarde, fala muito de educação..... a educação tem jeito no Brasil, qual o caminho?
Jean Mello: Sim... Mas não acho que a solução está necessariamente na escola. Também não quero centrar no que chamam de educação alternativa. Caminhos para educação são semelhantes aos que queremos apontar para a sociedade como um todo.
Lemos pouco nesse país, desfrutamos pouco das culturas locais, mesmo assim, temos manifestações culturais belíssimas. O que fazemos com tudo isso?
Precisamos de mais pessoas como o Alessandro Buzo, Sérgio Vaz, Jéssica Balbino, Ferréz, Sacolinha. Quais foram os caminhos trilhados por essas pessoas? Em outros lugares do Brasil precisa acontecer um movimento parecido com o que mantém Heliópolis, como o Bairro Educador. Não devemos ter cidades educadoras, restritas, mas um país totalmente pautado na melhoria da qualidade da educação no sentido amplo, valorizando conhecimentos humanos, não os que são classificados como importantes na educação básica ou no ensino superior.
Sempre que um sujeito se incomoda com alguma realidade de desigualdade social ou da desvalorização da cultura, dita periférica ou não, por exemplo, nasce alguma reação social, geralmente em forma de projetos ou, como podemos ver em várias situações, ações propriamente ditas que, não raro, mexem com alguma estrutura social/política posta. Falo das resistências culturais históricas.
Se olharmos com cautela para um passado remoto na história do Brasil, veremos que existiram muitos movimentos parecidos com a Cooperifa, o Sarau do Binho ou do Suburbano Convicto. Isso demonstra que a história continua se repetindo, porque os problemas se sofisticaram. Geralmente olho para essas coisas com bastante otimismo. Ela se repete tanto para opressão, quanto para as resistências. Simplista? Os quilombos de ontem são as favelas de hoje, seria coincidência ou a própria história mostrando que está aí para quem quiser ver?
Para a sociedade mudar de verdade, influenciando, lógico, na educação, seja ela escolar ou alternativa, os sofisticados movimentos, de reinvindicações sociais, deveriam dialogar mais e não ficarem com suas bandeiras isoladas levantadas. Além disso, crianças e adolescentes devem compartilhar com seus educadores conhecimentos práticos para solucionar problemas da vida e, mesmo sabendo que socialmente isso será exigido, ficar centrado em fórmulas exaustivas para alcançar boas notas no vestibular. Os saberes populares precisam ser disseminados para todos.
Reorganização proposta pelo Alckmin que gerou as ocupações, como você viu esse movimento e o que acha da proposta?
No site da Secretaria Estadual de Educação encontramos as seguintes palavras: “O processo de Reorganização Escolar, que amplia o número de escolas com ciclo único, foi adiado pelo Governo do Estado, a fim de ampliar o diálogo com pais, alunos e comunidade escolar. A proposta favorece a gestão das unidades e possibilita a adoção de estratégias pedagógicas focadas na idade e fase de aprendizado dos alunos”.
Se essas palavras foram ditas, podemos dizer que não houve diálogo para acontecer a reorganização escolar. Não só dessa vez, quase sempre é vertical. O poder público decide e o povo tem de acatar. O problema é que as pessoas estão cansadas disso. Agora essa bomba estourou, quando eles ocuparam as escolas, repetiram feitos históricos relacionados à juventude e ao Brasil.
Fizeram também o que ninguém vê essa geração fazer. Em todo tempo vemos manifestações sociais e culturais de jovens. Em um tempo de minha trajetória como educador fiz assessoria para escolas estaduais e a insatisfação era geral há alguns anos atrás. Deu para perceber que empurrar a sujeira para debaixo do tapete não é a solução, uma hora alguém descobre e a situação fica feia.
Logo no começo das ocupações me deparei com um escrito de um novo conhecido, Ruivo, descrevendo essa mesma parada. Concordo com ele. Quando as palavras estão ditas, não temos motivos para alterá-las. Dito está...
São Paulo, 2 de dezembro de 2015.
Meu amigo, Paulo Freire!
Espero que esta carta o encontre bem!
Na última vez em que eu o ouvi, fiquei muito comovido quando o senhor disse que estava muito cansado, embora estivesse muito feliz em estar vivo e morreria feliz em ver um Brasil em seu tempo histórico cheio de marchas, mas as “marchas dos que não tem escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marchas dos que querem ser e estão proibidos de ser...”. Como o senhor mesmo disse, “as marchas são andarilhagens históricas pelo mundo”. Já se passaram alguns anos desde aquela última vez, de lá pra cá, toda vez que demos um passo o mundo saiu do lugar.
O senhor, como sempre, me pondo a pensar. Como um homem que conheceu tão bem a nossa gente, que conviveu tanto com a nossa gente, que conversou tanto com a nossa gente, que pensou tanto com a nossa gente, que se dedicou a vida inteira a nossa gente, pudesse estar cansado... cansado e feliz? Afinal, é a tua gente o motivo da tua felicidade, amigo Paulo!
É por isso que os donos do poder atentam contra a tua gente, como se fôssemos uns “desabusados... destruidores da ordem”, quando na verdade afirmamos que “é preciso mesmo brigar para que se obtenha o mínimo de transformação”. O teu desejo, o teu sonho, era o de que as marchas dos “sem” acontecessem para nos afirmarmos como gente e como sociedade querendo democratizar-se.
O senhor que nos agraciou com a mais potente “Pedagogia do Oprimido”, elevou a “Educação como prática da liberdade”, e estimulou a “Ação cultural para a liberdade”, fez da “Pedagogia da autonomia” um norte, no qual “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”, sem abrir mão da “Importância do ato de ler”, nutrindo-nos de “Pedagogia da esperança”. Nem a perseguição, nem a prisão, nem a censura, nem o exílio o cansaram. Por que o cansariam agora, quando mais precisamos da vitalidade do senhor?
Meu amigo, Paulo. Preciso contar-lhe algo surpreendente. Há algumas semanas, estudantes secundaristas de escolas públicas de São Paulo mobilizaram-se e ocuparam as escolas estaduais contra a intransigência política e o autoritarismo mais atroz dos mandatários de plantão da Secretaria de Estado da Educação do Governo de São Paulo. Estes mandatários querem a todo custo promover uma desorganização do sistema misto do ensino fundamental e médio na mesma unidade escolar. Além de separar os estudantes, irmãos e irmãs em anos diferentes, estes mandatários anunciaram o fechamento de escolas e irão aumentar ainda mais a quantidade de estudantes por sala de aula, prejudicando ainda mais o processo de aprendizagem da turma de educandos, como também de educadores que ficarão pressionados entre carteiras e lousas nas salas de aula já superlotadas.
Amigo, Paulo. O senhor, depois de andarilhar com os oprimidos pela América Latina, Europa e África, foi Secretário de Educação da cidade de São Paulo, dialogando com todo mundo disposto a falar e também a ouvir. Ninguém mais do que o senhor sabe o valor da fala do oprimido que ao falar denuncia sua opressão e ao fazê-lo conscientiza-se “da tomada de decisão de intervenção no mundo”. O senhor que como Secretário Municipal de Educação acabou com as “delegacias de ensino”, porque delegacias são de polícia e não de ensino, e criou os Núcleos de Ação Educativa, unindo prática e reflexão pedagógica com e entre educadores e educandos. O senhor ficaria feliz se pudesse estar aqui para conferir a vitalidade, a disposição, a coragem e o sorriso que só a meninice consegue nos agraciar. Esses meninos e meninas que ainda estão se fazendo gente têm passado noites em salas e pátios de escolas ocupadas, organizam-se para a limpeza, para alimentarem-se, para promover a própria segurança, realizam assembleias, discutem os feitos do dia e planejam o dia seguinte, e assim “contrariam as estatísticas”, tomando para si a possibilidade de decidirem sobre o próprio futuro.
O senhor nunca deixou que esquecêssemos que não há possibilidade de educação apartada da cultura e que não há cultura apartada da educação. Sabemos que a truculência e a ideologia da ditadura militar nunca permitiram que a escola fosse um centro cultural de aprendizagem mútua e que anos mais tarde, a truculência política impediu que nossa amiga Marilena Chauí, então Secretária Municipal de Cultura, ao teu lado, fizesse das casas de cultura da Cidade de São Paulo, espaços educativos de modo que escolas e casas de cultura complementar-se-iam tal qual Cultura e Educação devem complementar-se, emaranhar-se, de modo que o sujeito da cultura e da educação seja os educandos.
Em uma escola ocupada e gerida pelos estudantes, prestigiei uma apresentação de teatro cujo mote era a rebelião dos trabalhadores cansados da opressão dos patrões. Vi amigos dos estudantes promovendo oficinas de estêncil, comunicação alternativa, cartazes, capoeira, música, sarau de poesia e etc. Vi pais e mães ao lado dos filhos e filhas, juntos, e não era nenhuma reunião protocolar de pais e mestres e sim a participação tão desejada da comunidade na vida escolar. Vi professores e professoras dialogando em profunda comunhão, chamando os estudantes pelo primeiro nome e sendo chamados pelo primeiro nome, aprendendo juntos a conviver fraternalmente como sempre desejamos. Vi pessoas doando livros, mantimentos, produtos de limpeza e etc., como demonstração de apoio aos estudantes. Vi pessoas dispostas a dialogar com os estudantes sobre consenso, organização, feminismo, negritude, LGBT, direitos humanos, educação popular e etc. Vi pessoas dispostas a ajudar de qualquer forma, a ouvir o que os estudantes têm a dizer e simplesmente estar ali, solidarizando-se. E numa das escolas ocupadas, vi no pátio, bem ao fundo e no alto, o teu retrato mais bonito, como se estivesse olhando a e por todos nós, testemunhando o movimento da história e feliz por estar presente. Posso imaginar o senhor sentado ali, junto com os estudantes, muito a vontade entre a tua gente, trocando histórias com eles como se estivesse ao pé de uma mangueira.
A cegueira e a surdez política dos mandatários de plantão da Secretaria de Estado da Educação enchem os brutos de orgulho muito mais do que bom senso. É espantoso como um aparato tão poderoso da educação pode ser manipulado por mandatários inescrupulosos e belicosos que, sem nenhuma vergonha, declaram “guerra” ao bem mais precioso da educação que é os estudantes, sujeitos da educação, sem os quais a Secretaria de Estado da Educação não passa de uma ostra moribunda, ensimesmada, destinada a prisão ao próprio casco. O Estado declarou “guerra” aos estudantes por estes recolocarem na ordem do dia a educação pública. Na ausência de diálogo, o Estado responde declarando a mais bestial “guerra” suja!
Amigo, Paulo. Os estudantes estão tomando as ruas da Cidade para buscar diálogo com cidadãos e cidadãs ainda penetráveis pela sensibilidade necessária que nos irmana a todos. As polícias agem como os mais ferozes, sedentos e bestializados cães raivosos à serviço dos poderosos. Contra a imposição da desorganização escolar, os estudantes respondem com a afirmação de que “não tem arrego”!
Como o senhor bem disse, “é preciso ir além da passividade com uma postura rebelde e criticamente transformadora do mundo”. Estes estudantes ainda pouco o conhecem, mas o senhor ficará feliz quando o conhecê-los.
Estes estudantes estão escrevendo os novos rumos da educação pública, nem eles, nem a sala de aula, nem as escolas hoje ocupadas serão as mesmas. Como o senhor, eu também estou feliz por testemunhar a vitalidade da história, que não está determinada, mas que ainda está por se fazer.
Abraço do amigo de sempre,
Ruivo Lopes.
P.S.: permita-me, pelo profundo respeito e admiração, que eu o chame nesta carta carinhosamente de “senhor”.
Buzo: Nos fale alguns autores que você lê, é fã?
Jean Mello: Falarei de referências de um modo geral... Gente que me inspira. Rubem Alves, Paulo Freire, Machado de Assis, Frei Betto, Leonardo Boff, Chico Buarque, Criolo, Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue, KL Jay, Sérgio Vaz, Maria Carolina de Jesus, Negra Anastácia.
Tenho mais nomes... Só que às vezes me referencio em pessoas que estão escrevendo livros, mas não sabem que estão. Trabalhadores na luta cotidiana, amigos, familiares meus, os mais próximos e os mais distantes.
Buzo: Complete a frase..... Literatura é?
Jean Mello: O combustível para todas as utopias... Acredito que seja como nas palavras de Galeano.
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar” (Eduardo Galeano).
A literatura me salvou de toda falta de fé. Não paro de caminhar por conta dos livros que li, escrevi e ainda vou escrever.
Buzo: Quem te incentivou a ler e escrever e qual a importância (ou não) da escola nesse processo?
Jean Mello: Meu pai sempre foi envolvido com música, não apenas por ser admirador do Djavan.
Dono de uma loja de disco em que gravava os grandes sucessos da época do disco para fita K7, que os clientes, na maioria das vezes amigos dele, solicitavam, principalmente os de música black. Creio que ele também dava uns bailes (olha o que eu digo, acho que estou ficando meio 'tiuzão') como DJ, mas disso não tenho certeza.
Cantor e compositor. Desde que me conheço por gente vejo meu pai tocando seu violão e cantando com empolgação. Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Stevie Wonder, Earl Klugh, Michael Jackson, Lulu Santos, etc., eram as referências de meu lar. Quando não eram tocados no violão, vinham do LP.
Por incrível que pareça, acredito que toda essa situação tenha sido minha iniciação no mundo das artes, que tem a escrita, para mim, como meu alicerce.
Aprendi a ler na pré-escola. Já na primeira série, tive uma professora chamada Olinda, não me esqueço.
Os professores de história que tive, um deles até cito no "Fim de Tarde", contribuíram bastante para minha inserção no mundo da leitura e da escrita. Não tanto os de português.
Buzo: Você se denomina Literatura Marginal, o que acha desses rótulos, marginal, periférica?
Jean Mello: Não me incomodo com os rótulos. Já fui mais irritado com isso. Hoje em dia não mais. Creio que tudo é literatura e cultura. Mas existem os pesquisadores empoeirados - na maioria das vezes acadêmicos - que precisam classificar tudo, nomear. Isso pra muitas coisas.
Uma vez eu fui convidado para recitar umas poesias em Paraisópolis. Foi uma festa bem legal, muita comida boa, gente divertida, fui muito bem recebido pela comunidade. Em um momento da festa percebi que um grupo de jovens não se aproximava da galera, em hipótese alguma. Eles olhavam e anotavam. Aquilo me intrigou. Fui até eles e perguntei por qual razão eles estavam de espectadores daquela festa linda. Eles responderam: "Somos pesquisadores, não podemos nos misturar com nossos objetos de estudo".
Lógico que nem todos os pesquisadores são assim. Mas muitos são...
De quais lugares saem esses rótulos? Por quais motivos escritores precisam ser classificados como marginais? Um dia nos livraremos dessa nomenclatura? Queremos nos livrar? Sempre me pergunto. Me considero escritor. Mas não me incomodo com os rótulos, isso não quer dizer que eu os aceite.
Buzo: Cite 3 coisas boas no seu ano de 2015?
Jean Mello: Nem todas posso citar porque menores de idade lerão essa entrevista (risos). Então, escolhi essas três:
1) Dar uma palestra no Memorial da América Latina;
2) Publicar meu segundo livro, Exalando Esperança;
3) Publicar meu terceiro livro, Fim de Tarde.
Buzo: O que espera de 2016 e um salve pra quem vai ler essa entrevista.
Jean Mello: Para 2016 espero ir mais no espaço do Suburbano Convicto, principalmente em dias de sarau. Risos...
É uma brincadeira séria. Assumi um compromisso de me envolver mais em movimentos de quebrada. Em minha vida como educador, estive e estou muito envolvido com organizações não governamentais, em projetos sociais nas periferias, de um modo geral, dentro e fora de Sampa. Isso me fez aprender muitas coisas. Agora quero trocar... Aprender novas coisas e ensinar também.
Agradeço às pessoas que dedicaram seu precioso tempo lendo esse material e ao Alessandro Buzo por todo esse espaço e fortalecimento.
Feliz ano todo!
Jean Mello.
ENTREVISTA EXCLUSIVA
Buzo: Como é ser escritor no Brasil?
Jean Mello: Dedicar-se a qualquer tipo de atividade cultural no Brasil traduz-se em resistência, insistência, militância, dificuldade de todas as espécies para se manter, acreditando no impossível. Comigo sempre foi assim, como educador e agora também como escritor e músico. Um não é isento do outro.
Vivemos em um país em que não chega a 1% os recursos destinados à cultura. Apenas 0,6% do orçamento do governo federal são repassados para bancar práticas culturais. A luta é para que se chegue a pelo menos 2%.
Desde o governo Lula, mesmo com todas essas notícias de corrupção em massa, fato que não é exclusividade da gestão de todos esses anos do Partido dos Trabalhadores, podemos ver isso com facilidade nos noticiários ou em qualquer pesquisa séria sobre o assunto, o Brasil passou por grande desenvolvimento econômico para vários setores da sociedade que não tinham acesso aos bens que, historicamente, eram de desfrute apenas da elite financeira. Claro que é preciso olhar de modo crítico para esse chamado desenvolvimento econômico. A quem realmente beneficiou essas mudanças? Reflito um pouco sobre isso na resposta dessa questão.
Hoje, os ricos têm de dividir espaço com negros e nordestinos nos aeroportos. Os filhos das domésticas do passado estudam em universidades por intermédio de bolsas de estudos concedidas a partir do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
Não sou panfletário de nenhum partido ou governo. Como escritor e educador essa é uma questão que observo, considero cara, importante, mas não gasto meu tempo discutindo isso em filas de ônibus ou debates intelectuais. O Brasil e o mundo são muito mais que isso. Não precisa de muito esforço para entender. Porém, refletindo sobre os últimos anos, pensando nas mudanças que vejo serem significativas, reflito por quais motivos todas essas transformações não aconteceram também no campo da cultura e da educação. Mais no campo da cultura. Se tão pouco investimento é destinado para isso, como vamos viver em um país em que os gestores, nacionais e regionais, não fizeram o desenvolvimento cultural caminhar de mãos dadas com o chamado desenvolvimento econômico?
Por outro lado, mesmo sabendo que não é exclusividade das gestões Lula e Dilma, concordo com o dramaturgo e diretor da Cooperativa Paulista de Teatro, Dorberto Carvalho. Ele diz... “Desde o governo Lula, o país tem passado por um período de desenvolvimento que beneficiou diversos setores da sociedade, dentre os quais empresários, banqueiros e investidores internacionais. A questão é que a cultura, entre outros setores sociais, quase não se beneficiou desse processo. Por conta disso, buscamos não só uma correção dessa desigualdade, bem como uma distribuição de recursos públicos que corresponda ao desenvolvimento econômico dos últimos anos e responda à demanda de produção, ao acesso e a fruição dos bens culturais por parte de uma imensa maioria da população”.
Acesso ao crédito não é necessariamente desenvolvimento social e econômico. Mesmo assim, os mais pobres ocuparem alguns espaços mexe, e muito, com o imaginário dos mais ricos nesse país chamado tropical. Veremos o efeito disso ao passar dos anos.
Ser escritor é fazer parte desse universo. Viver em uma realidade pautada no que vive o mundo e, por simples obviedade, o país de origem do autor. Somos de uma nação que não exige quase nada em desenvolvimento humano. O escritor, por consciência, vai no fluxo contrário disso tudo. Será fácil viver como escritor em um lugar assim?
Buzo: Quantos livros você publicou, comente brevemente sobre eles...
Jean Mello: Três livros, eles podem ser lidos do modo isolado, mas quando são degustados, um após o outro, são entendidos em sua completude. Crônicas Perdidas, Exalando Esperança e Fim de Tarde. Mas muitos admiradores de meu trabalho, desde a criação de meu site em 2008, me corrigem. Eles dizem que tenho mais de três publicações. Já me disseram que meu site é um livro sem fim, virtual.
Para explicar meus dois primeiros escritos, vou recorrer ao site da editora Kazuá, que publicou meu novo livro. E, para falar do Fim de Tarde, vou utilizar algo que meu amigo Germano Gonçalves e Marília de Santis disseram a respeito da obra: “Em 2013 publicou o livro Crônicas Perdidas. Relatos sobre uma diversidade de temas: educação, preconceito, religião, cultura, desigualdades sociais. Em 2015 mais um projeto publicado, Exalando Esperança. Na obra são retratadas situações aparentemente pequenas que ocorrem principalmente nas periferias, mas que precisam ser valorizadas. Um projeto de alfabetização de adultos nascendo em alguma região de vulnerabilidade social, um polo cultural surgindo em uma praça abandonada, pessoas superando as dificuldades que todo excluído enfrenta. Acredita que o sonho de Luther King não virou pó. Insiste em deixar sua marca no mundo através da arte” (Entrelinhas do autor, site da Editora Kazuá).
“Em Fim de Tarde, Jean, nos atenta a ver e examinar cuidadosamente as coisas do mundo, os afetos das pessoas, o grau de formalidade ou de intimidade entre os transeuntes de uma cidade. O desinteresse por uma cultura digna; o orgulho de quem anda de carrão e de modo desenfreado rumo ao vazio, como o autor menciona em uma das crônicas dessa obra: ‘Foi angustiante ver os carros passando, no trânsito da vida, com pressa, ou nem tanto assim, em direção ao nada que os esperavam’. É evidente que a humanidade está cada vez mais voltada para si, egoísta, pensando em seu próprio umbigo. Mas, vale lembrar, nas palavras do autor, que todos nós vamos para o mesmo lugar, e que desta vida nada se leva” (Germano Gonçalves).
“Jean Mello é educador social, cronista, músico, comunicador, poeta. Alicerça a sua obra no chão da vida. Romântico, mas nada ingênuo, procura explicar a realidade a partir do que vive, com profundo respeito à riqueza que a prática de seu cotidiano lhe confere. Suas crônicas, críticas e poéticas, são marcas de sua passagem pelo mundo. Jovem de largo horizonte, nos revela seu olhar e nos desvela um mundo de ilusões onde o consumo, a alienação e a injustiça social se desmancham sob a simplicidade de seu humor e de sua inquietude. Fim de Tarde é um livro simples. E especial. Porque é sensível e porque carrega consigo a esperança de um mundo melhor” (Marília de Santis é educadora e organizadora do livro Memórias de Heliópolis).
Buzo: Fim de Tarde, fala muito de educação..... a educação tem jeito no Brasil, qual o caminho?
Jean Mello: Sim... Mas não acho que a solução está necessariamente na escola. Também não quero centrar no que chamam de educação alternativa. Caminhos para educação são semelhantes aos que queremos apontar para a sociedade como um todo.
Lemos pouco nesse país, desfrutamos pouco das culturas locais, mesmo assim, temos manifestações culturais belíssimas. O que fazemos com tudo isso?
Precisamos de mais pessoas como o Alessandro Buzo, Sérgio Vaz, Jéssica Balbino, Ferréz, Sacolinha. Quais foram os caminhos trilhados por essas pessoas? Em outros lugares do Brasil precisa acontecer um movimento parecido com o que mantém Heliópolis, como o Bairro Educador. Não devemos ter cidades educadoras, restritas, mas um país totalmente pautado na melhoria da qualidade da educação no sentido amplo, valorizando conhecimentos humanos, não os que são classificados como importantes na educação básica ou no ensino superior.
Sempre que um sujeito se incomoda com alguma realidade de desigualdade social ou da desvalorização da cultura, dita periférica ou não, por exemplo, nasce alguma reação social, geralmente em forma de projetos ou, como podemos ver em várias situações, ações propriamente ditas que, não raro, mexem com alguma estrutura social/política posta. Falo das resistências culturais históricas.
Se olharmos com cautela para um passado remoto na história do Brasil, veremos que existiram muitos movimentos parecidos com a Cooperifa, o Sarau do Binho ou do Suburbano Convicto. Isso demonstra que a história continua se repetindo, porque os problemas se sofisticaram. Geralmente olho para essas coisas com bastante otimismo. Ela se repete tanto para opressão, quanto para as resistências. Simplista? Os quilombos de ontem são as favelas de hoje, seria coincidência ou a própria história mostrando que está aí para quem quiser ver?
Para a sociedade mudar de verdade, influenciando, lógico, na educação, seja ela escolar ou alternativa, os sofisticados movimentos, de reinvindicações sociais, deveriam dialogar mais e não ficarem com suas bandeiras isoladas levantadas. Além disso, crianças e adolescentes devem compartilhar com seus educadores conhecimentos práticos para solucionar problemas da vida e, mesmo sabendo que socialmente isso será exigido, ficar centrado em fórmulas exaustivas para alcançar boas notas no vestibular. Os saberes populares precisam ser disseminados para todos.
Reorganização proposta pelo Alckmin que gerou as ocupações, como você viu esse movimento e o que acha da proposta?
No site da Secretaria Estadual de Educação encontramos as seguintes palavras: “O processo de Reorganização Escolar, que amplia o número de escolas com ciclo único, foi adiado pelo Governo do Estado, a fim de ampliar o diálogo com pais, alunos e comunidade escolar. A proposta favorece a gestão das unidades e possibilita a adoção de estratégias pedagógicas focadas na idade e fase de aprendizado dos alunos”.
Se essas palavras foram ditas, podemos dizer que não houve diálogo para acontecer a reorganização escolar. Não só dessa vez, quase sempre é vertical. O poder público decide e o povo tem de acatar. O problema é que as pessoas estão cansadas disso. Agora essa bomba estourou, quando eles ocuparam as escolas, repetiram feitos históricos relacionados à juventude e ao Brasil.
Fizeram também o que ninguém vê essa geração fazer. Em todo tempo vemos manifestações sociais e culturais de jovens. Em um tempo de minha trajetória como educador fiz assessoria para escolas estaduais e a insatisfação era geral há alguns anos atrás. Deu para perceber que empurrar a sujeira para debaixo do tapete não é a solução, uma hora alguém descobre e a situação fica feia.
Logo no começo das ocupações me deparei com um escrito de um novo conhecido, Ruivo, descrevendo essa mesma parada. Concordo com ele. Quando as palavras estão ditas, não temos motivos para alterá-las. Dito está...
São Paulo, 2 de dezembro de 2015.
Meu amigo, Paulo Freire!
Espero que esta carta o encontre bem!
Na última vez em que eu o ouvi, fiquei muito comovido quando o senhor disse que estava muito cansado, embora estivesse muito feliz em estar vivo e morreria feliz em ver um Brasil em seu tempo histórico cheio de marchas, mas as “marchas dos que não tem escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marchas dos que querem ser e estão proibidos de ser...”. Como o senhor mesmo disse, “as marchas são andarilhagens históricas pelo mundo”. Já se passaram alguns anos desde aquela última vez, de lá pra cá, toda vez que demos um passo o mundo saiu do lugar.
O senhor, como sempre, me pondo a pensar. Como um homem que conheceu tão bem a nossa gente, que conviveu tanto com a nossa gente, que conversou tanto com a nossa gente, que pensou tanto com a nossa gente, que se dedicou a vida inteira a nossa gente, pudesse estar cansado... cansado e feliz? Afinal, é a tua gente o motivo da tua felicidade, amigo Paulo!
É por isso que os donos do poder atentam contra a tua gente, como se fôssemos uns “desabusados... destruidores da ordem”, quando na verdade afirmamos que “é preciso mesmo brigar para que se obtenha o mínimo de transformação”. O teu desejo, o teu sonho, era o de que as marchas dos “sem” acontecessem para nos afirmarmos como gente e como sociedade querendo democratizar-se.
O senhor que nos agraciou com a mais potente “Pedagogia do Oprimido”, elevou a “Educação como prática da liberdade”, e estimulou a “Ação cultural para a liberdade”, fez da “Pedagogia da autonomia” um norte, no qual “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”, sem abrir mão da “Importância do ato de ler”, nutrindo-nos de “Pedagogia da esperança”. Nem a perseguição, nem a prisão, nem a censura, nem o exílio o cansaram. Por que o cansariam agora, quando mais precisamos da vitalidade do senhor?
Meu amigo, Paulo. Preciso contar-lhe algo surpreendente. Há algumas semanas, estudantes secundaristas de escolas públicas de São Paulo mobilizaram-se e ocuparam as escolas estaduais contra a intransigência política e o autoritarismo mais atroz dos mandatários de plantão da Secretaria de Estado da Educação do Governo de São Paulo. Estes mandatários querem a todo custo promover uma desorganização do sistema misto do ensino fundamental e médio na mesma unidade escolar. Além de separar os estudantes, irmãos e irmãs em anos diferentes, estes mandatários anunciaram o fechamento de escolas e irão aumentar ainda mais a quantidade de estudantes por sala de aula, prejudicando ainda mais o processo de aprendizagem da turma de educandos, como também de educadores que ficarão pressionados entre carteiras e lousas nas salas de aula já superlotadas.
Amigo, Paulo. O senhor, depois de andarilhar com os oprimidos pela América Latina, Europa e África, foi Secretário de Educação da cidade de São Paulo, dialogando com todo mundo disposto a falar e também a ouvir. Ninguém mais do que o senhor sabe o valor da fala do oprimido que ao falar denuncia sua opressão e ao fazê-lo conscientiza-se “da tomada de decisão de intervenção no mundo”. O senhor que como Secretário Municipal de Educação acabou com as “delegacias de ensino”, porque delegacias são de polícia e não de ensino, e criou os Núcleos de Ação Educativa, unindo prática e reflexão pedagógica com e entre educadores e educandos. O senhor ficaria feliz se pudesse estar aqui para conferir a vitalidade, a disposição, a coragem e o sorriso que só a meninice consegue nos agraciar. Esses meninos e meninas que ainda estão se fazendo gente têm passado noites em salas e pátios de escolas ocupadas, organizam-se para a limpeza, para alimentarem-se, para promover a própria segurança, realizam assembleias, discutem os feitos do dia e planejam o dia seguinte, e assim “contrariam as estatísticas”, tomando para si a possibilidade de decidirem sobre o próprio futuro.
O senhor nunca deixou que esquecêssemos que não há possibilidade de educação apartada da cultura e que não há cultura apartada da educação. Sabemos que a truculência e a ideologia da ditadura militar nunca permitiram que a escola fosse um centro cultural de aprendizagem mútua e que anos mais tarde, a truculência política impediu que nossa amiga Marilena Chauí, então Secretária Municipal de Cultura, ao teu lado, fizesse das casas de cultura da Cidade de São Paulo, espaços educativos de modo que escolas e casas de cultura complementar-se-iam tal qual Cultura e Educação devem complementar-se, emaranhar-se, de modo que o sujeito da cultura e da educação seja os educandos.
Em uma escola ocupada e gerida pelos estudantes, prestigiei uma apresentação de teatro cujo mote era a rebelião dos trabalhadores cansados da opressão dos patrões. Vi amigos dos estudantes promovendo oficinas de estêncil, comunicação alternativa, cartazes, capoeira, música, sarau de poesia e etc. Vi pais e mães ao lado dos filhos e filhas, juntos, e não era nenhuma reunião protocolar de pais e mestres e sim a participação tão desejada da comunidade na vida escolar. Vi professores e professoras dialogando em profunda comunhão, chamando os estudantes pelo primeiro nome e sendo chamados pelo primeiro nome, aprendendo juntos a conviver fraternalmente como sempre desejamos. Vi pessoas doando livros, mantimentos, produtos de limpeza e etc., como demonstração de apoio aos estudantes. Vi pessoas dispostas a dialogar com os estudantes sobre consenso, organização, feminismo, negritude, LGBT, direitos humanos, educação popular e etc. Vi pessoas dispostas a ajudar de qualquer forma, a ouvir o que os estudantes têm a dizer e simplesmente estar ali, solidarizando-se. E numa das escolas ocupadas, vi no pátio, bem ao fundo e no alto, o teu retrato mais bonito, como se estivesse olhando a e por todos nós, testemunhando o movimento da história e feliz por estar presente. Posso imaginar o senhor sentado ali, junto com os estudantes, muito a vontade entre a tua gente, trocando histórias com eles como se estivesse ao pé de uma mangueira.
A cegueira e a surdez política dos mandatários de plantão da Secretaria de Estado da Educação enchem os brutos de orgulho muito mais do que bom senso. É espantoso como um aparato tão poderoso da educação pode ser manipulado por mandatários inescrupulosos e belicosos que, sem nenhuma vergonha, declaram “guerra” ao bem mais precioso da educação que é os estudantes, sujeitos da educação, sem os quais a Secretaria de Estado da Educação não passa de uma ostra moribunda, ensimesmada, destinada a prisão ao próprio casco. O Estado declarou “guerra” aos estudantes por estes recolocarem na ordem do dia a educação pública. Na ausência de diálogo, o Estado responde declarando a mais bestial “guerra” suja!
Amigo, Paulo. Os estudantes estão tomando as ruas da Cidade para buscar diálogo com cidadãos e cidadãs ainda penetráveis pela sensibilidade necessária que nos irmana a todos. As polícias agem como os mais ferozes, sedentos e bestializados cães raivosos à serviço dos poderosos. Contra a imposição da desorganização escolar, os estudantes respondem com a afirmação de que “não tem arrego”!
Como o senhor bem disse, “é preciso ir além da passividade com uma postura rebelde e criticamente transformadora do mundo”. Estes estudantes ainda pouco o conhecem, mas o senhor ficará feliz quando o conhecê-los.
Estes estudantes estão escrevendo os novos rumos da educação pública, nem eles, nem a sala de aula, nem as escolas hoje ocupadas serão as mesmas. Como o senhor, eu também estou feliz por testemunhar a vitalidade da história, que não está determinada, mas que ainda está por se fazer.
Abraço do amigo de sempre,
Ruivo Lopes.
P.S.: permita-me, pelo profundo respeito e admiração, que eu o chame nesta carta carinhosamente de “senhor”.
Buzo: Nos fale alguns autores que você lê, é fã?
Jean Mello: Falarei de referências de um modo geral... Gente que me inspira. Rubem Alves, Paulo Freire, Machado de Assis, Frei Betto, Leonardo Boff, Chico Buarque, Criolo, Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue, KL Jay, Sérgio Vaz, Maria Carolina de Jesus, Negra Anastácia.
Tenho mais nomes... Só que às vezes me referencio em pessoas que estão escrevendo livros, mas não sabem que estão. Trabalhadores na luta cotidiana, amigos, familiares meus, os mais próximos e os mais distantes.
Buzo: Complete a frase..... Literatura é?
Jean Mello: O combustível para todas as utopias... Acredito que seja como nas palavras de Galeano.
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar” (Eduardo Galeano).
A literatura me salvou de toda falta de fé. Não paro de caminhar por conta dos livros que li, escrevi e ainda vou escrever.
Buzo: Quem te incentivou a ler e escrever e qual a importância (ou não) da escola nesse processo?
Jean Mello: Meu pai sempre foi envolvido com música, não apenas por ser admirador do Djavan.
Dono de uma loja de disco em que gravava os grandes sucessos da época do disco para fita K7, que os clientes, na maioria das vezes amigos dele, solicitavam, principalmente os de música black. Creio que ele também dava uns bailes (olha o que eu digo, acho que estou ficando meio 'tiuzão') como DJ, mas disso não tenho certeza.
Cantor e compositor. Desde que me conheço por gente vejo meu pai tocando seu violão e cantando com empolgação. Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Stevie Wonder, Earl Klugh, Michael Jackson, Lulu Santos, etc., eram as referências de meu lar. Quando não eram tocados no violão, vinham do LP.
Por incrível que pareça, acredito que toda essa situação tenha sido minha iniciação no mundo das artes, que tem a escrita, para mim, como meu alicerce.
Aprendi a ler na pré-escola. Já na primeira série, tive uma professora chamada Olinda, não me esqueço.
Os professores de história que tive, um deles até cito no "Fim de Tarde", contribuíram bastante para minha inserção no mundo da leitura e da escrita. Não tanto os de português.
Buzo: Você se denomina Literatura Marginal, o que acha desses rótulos, marginal, periférica?
Jean Mello: Não me incomodo com os rótulos. Já fui mais irritado com isso. Hoje em dia não mais. Creio que tudo é literatura e cultura. Mas existem os pesquisadores empoeirados - na maioria das vezes acadêmicos - que precisam classificar tudo, nomear. Isso pra muitas coisas.
Uma vez eu fui convidado para recitar umas poesias em Paraisópolis. Foi uma festa bem legal, muita comida boa, gente divertida, fui muito bem recebido pela comunidade. Em um momento da festa percebi que um grupo de jovens não se aproximava da galera, em hipótese alguma. Eles olhavam e anotavam. Aquilo me intrigou. Fui até eles e perguntei por qual razão eles estavam de espectadores daquela festa linda. Eles responderam: "Somos pesquisadores, não podemos nos misturar com nossos objetos de estudo".
Lógico que nem todos os pesquisadores são assim. Mas muitos são...
De quais lugares saem esses rótulos? Por quais motivos escritores precisam ser classificados como marginais? Um dia nos livraremos dessa nomenclatura? Queremos nos livrar? Sempre me pergunto. Me considero escritor. Mas não me incomodo com os rótulos, isso não quer dizer que eu os aceite.
Buzo: Cite 3 coisas boas no seu ano de 2015?
Jean Mello: Nem todas posso citar porque menores de idade lerão essa entrevista (risos). Então, escolhi essas três:
1) Dar uma palestra no Memorial da América Latina;
2) Publicar meu segundo livro, Exalando Esperança;
3) Publicar meu terceiro livro, Fim de Tarde.
Buzo: O que espera de 2016 e um salve pra quem vai ler essa entrevista.
Jean Mello: Para 2016 espero ir mais no espaço do Suburbano Convicto, principalmente em dias de sarau. Risos...
É uma brincadeira séria. Assumi um compromisso de me envolver mais em movimentos de quebrada. Em minha vida como educador, estive e estou muito envolvido com organizações não governamentais, em projetos sociais nas periferias, de um modo geral, dentro e fora de Sampa. Isso me fez aprender muitas coisas. Agora quero trocar... Aprender novas coisas e ensinar também.
Agradeço às pessoas que dedicaram seu precioso tempo lendo esse material e ao Alessandro Buzo por todo esse espaço e fortalecimento.
Feliz ano todo!
Jean Mello.
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