terça-feira, 12 de janeiro de 2016

10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook. Última da série.... 10/10 > ENTREVISTA EXCLUSIVA COM a rapper "Joyce Preta Rara".......

Ela é rapper, poestisa, turbanteira e professora de história.
Postagem cheia de atitude na internet.... gosta de viajar e luta entre outras coisas contra a gordofóbia.
Falo da Joyce Fernandes, Preta Rara.... vamos conhecer um pouco mais dela, nesta última entrevista exclusiva da série 10 entrevistas de 10 perguntas com 10 seguidores do Buzo no Facebook, que foi a retomada do Blog Buzo Entrevista.



***
Alessandro Buzo: Quem é Joyce Fernandes, Preta Rara, por ela mesmo... ?
Joyce Preta Rara:
A Joyce Fernandes nasceu no dia 13 de maio de 1985, data está bem emblemática no Brasil que eu chamo de Falsa Abolição. (tem até um rap que eu escrevi e está no cd com esse mesmo nome)
Nasci em uma família abençoada que sempre me incentivaram nas minhas escolhas, meu pai colecionava disco e a música era a trilha perfeita lá de casa.
Já a minha mãe mesmo com pouco estudo sempre cobrou muito a leitura, ela fazia a gente ler a bíblia todos os dias, era um saco pq eu não entendia nada mas, também ela deixava a gente a vontade par escolher o que queria ler.
A vontade por cantar sempre esteve presente em minha vida, como minha família era evangélica, meu contato direto com a música foi na igreja, depois que passei a fazer parte de um grupo de louvor, com 12 anos de idade.
E na adolescência conheci primeiro o funk carioca, curtia demais, só que dentro do meu quarto pq minha mãe não me deixava sair.
E o Rap já era presente na minha vida, pq meu pai sempre ouvia, mas só em 2005 que eu resolvo meter as caras mesmo nas rimas.
E comecei no grupo de rap feminino Tarja-Preta, o grupo durou sete anos e em 2013 finalizamos nossas atividades e eu resolvi iniciar carreira solo.
Nessa caminhada toda ai eu já fui babá e empregada doméstica por 6 anos de trampo pesado e até o meu primeiro ano na universidade.
Sou formada desde 2011 em história e sou professora efetiva em uma escola particular na periferia de São Vicente.


Buzo: Você esteve recentemente no Rio de Janeiro e postou sobre os gringos caírem matando nas mulheres negras, foi assim mesmo, tão na cara dura ? Teve que distribuir até cotovelada ?
Joyce Preta Rara:
Nossa, já tinham me falado e eu já tinha lido diversas reportagens e postagens nas rede sociais.
E fiquei de cara quando isso tudo aconteceu comigo. Eu estava em frente a um bar em uma noite de uma sexta-feira na Lapa, e o samba estava comendo solto. Quando de repente começa chegar um monte gringo, e eu super distraída curtindo a noite, quando veio dois gringos, e um chegou já encostando no meu braço falando as palavras: samba, beautiful, exotic e eu me afastei.
E ele veio de novo pra cima de mim, e dessa vez com um monte de notas de dinheiro em forma de leque, sorrindo pedindo pra eu samba.
Eu fiquei tão enojada e com tanta raiva que quando ele se aproximou eu dei uma cotovelada com toda a minha força, pra ele parar de ser babaca.
Isso nunca aconteceu comigo, fiquei tão mal com o ocorrido que no meio do agito eu resolvi voltar para o hotel em que eu estava hospedada.
Isso é que a mídia brasileira mostra, a exposição da mulher negra como mercadoria.


Buzo: Qual a sua atuação cultural e planos pra 2016 ?
Joyce Preta Rara:
Bom, para esse ano eu projetei mentalmente e no papel também várias coisas para acontecer.
Além de ser rapper eu sou militante, pra mim eu não consigo separar o rap da minha militância.
E esse ano eu tenho um projeto se for aprovado em um edital aqui de Santos, vou colocar o meu primeiro livro rua que se chama Minha Preta Infância, no qual colocarei alguns relatos meus e de conhecidos para despertar um assunto que muitas das vezes passa despercebido ou fingem que não existem, que é o Racismo na infância.
E farei o show de lançamento oficial do meu disco em Santos e em vários lugares de SP e do Brasil.
Sou turbanteira e tenho algumas oficinas já agendadas também, sempre levo o rap, a militância e os turbantes, pois ao meu ver está tudo atrelado.


Buzo: VC postou foto na praia de maiô e bombou.... acha que o preconceito com os gordinhos como nós, tende a diminuir se a gente se mostrar ?
Joyce Preta Rara:
Com certeza, resolvi postar aquela foto de maiô pra pode incentivar as mulheres gordas a irem para a praia, só não esperava aquela repercussão toda de mais de 6 mil curtidas.
É difícil ser mulher gorda em uma sociedade que dita regras para tudo, nasci em uma cidade praiana que eu só aproveitei a praia com liberdade quando eu era criança e depois dos 27 anos quando resolvi assumir minhas curvas e ser feliz.
Estou organizando um evento que se chama Ocupação GGG – Vai Ter Gorda na Praia Sim, que o intuito e incentivar outras mulheres gordas a irem para a praia com a gente, e está bombando de
meninas super felizes que não veem a hora de chegar no evento para se sentir a vontade pra ficarem de biquíni ou maiô. E tem meninas de 14 anos e senhoras de 62 anos que não vão para a praia com vergonha do próprio corpo.


Buzo: Existe gordofobia ?
Joyce Preta Rara:
Existe sim, nos olhares, nos comentários, nas piadas sem graça.
Virou moda nas redes sociais colocar a hastag #Gordice para quanto se está em frente de muitas comidas.
Ou seja, no pensamento desses gordofóbicos o gordo só come, vive pra comer.
Fala sério. Por causa disso, que eu posto várias fotos pra calar a boca desse povo sem luz e incentivas as Rainhas Plus Size a saírem de casa, pois sempre falo: Sou do tamanho dos meus sonhos, por isso que somos grandes.


Buzo: Nas suas férias vc ostentou (positivamente falando), nos rolê.... temos que fugir do discurso da crise ?
Joyce Preta Rara:
Olha a crise sempre existiu, desde antes da escravidão negra.O Brasil foi colonizado pela crise.
Eu nunca consegui viajar nas férias dos meus antigos trabalhos, sempre tive vontade de viajar mas, nunca tive grana. Dessa vez consegui juntar um dindin através do meu salário de professora e alguns cachês recebidos em 2015 e passei cinco dias e de descanso e vários rolês por lá.
Mas, o que mais marcou nessa viagem é que eu tive o prazer de conhecer a Negra Gizza, era meu sonho desde 2002 conhecer ela, e da galera que eu admiro no Rap Nacional eu já conheci todos pessoalmente só faltava ela. E eu ainda passei o dia inteiro acompanhando ela em uma entrevista na rádio, almoçamos juntas e ainda ela me levou para conhecer o espaço Cufa lá em Madureira.
Foi dos sonhos passar um dia inteiro com uma pessoa que eu sou super fã.


Buzo: Ludmilla postou que ganha 1 milhão por mês, comprou lancha de 300 mil... vira referência ?
Joyce Preta Rara:
A galera querendo ou não, a Ludmilla já é referência para as meninas da periferia. Todas as meninas cantam as músicas dela, imitam os passos da dança querem o cabelo igual o dela.
E eu fico muito feliz em ver um progresso de uma mina preta, que nesse país mesmo sendo 53% da população ser preta, é raro ver esses casos, né.
Eu não vejo nenhum problema ela ter comprado uma lancha e o jet ski, é isso ai se tem grana pra gastar borá lá.
Eu li um monte de gente criticando dizendo que ela não deveria gastar essa grana toda e tal, só que aundo a Ivete Sangalo comprou o sei jatinho não ouvi ninguém criticar ou ditar o que ela pode ou não.
No Brasil já é de costume ver uma preta ou um preto não se dar bem na vida, quando o percusso muda, chove de criticas.
Todo mundo quer viver bem, eu não tenho o sonho de comprar uma lancha, mas um carro já seria maneiro, cansei de ficar no ponto de ônibus esperando o busão que demora pra vir.


Buzo: BlackFace no Rap, quando a gente pensa que já viu tudo...... o que vc tem a dizer sobre isso ?
Joyce Preta Rara:
Ai gente, 2016 já começou assim?
Quando eu entrei no face, um monte de gente me marcou na música desse menino sem informação, teve umas que começou cobrar a minha postura e ficou brava pq eu não conhecia o grupo. E era verdade eu nunca tinha escutado falar em vagabondes (só na vagabanda que era uma banda da época que eu assistia malhação kk)
É por isso que o Tio Sabotagem já dizia e deixou o legado eterno ai né: “O Rap é compromisso”
O cara tem internet no celular, no pc, no notebook, na lan house são tantos lugares e mesmo assim nem se preocupou em pesquisar.
Foi uma ofensa enorme, foi racista! Mesmo ele usando ao argumento que todo racista usa né: Tem preto no meu grupo, meu avó era negro e blá, blá, blá
Uma pratica tão antiga ganhando adeptos até hoje é de dilacerar o peito.


Buzo: Mano Brown com Naldo Benny, essas misturas são positivas? Clipe no Fantástico, é um caminho ?
Joyce Preta Rara:
Olha eu não sou fiscal do rap, cada um sabe o que faz né. Particularmente eu não curtia a letra, pq o Brown acostumou a gente com coisas phodásticas. Achei a junção ducaralho, mas pensei que viria uma música mais legal.
Mas, para a carreia do Benny foi da hora né, ter o Mano Brown no seu cd pra ele foi clássico demais, e tem um monte de gente que canta Rap e critica o Naldo que deve está se contorcendo, pq o funkeiro teve a participação do cara mais cabuloso do Rap rs!


Buzo: VC se define como rapper, poetisa ? O que vem por ai..... e salve pra quem vai ler essa entrevista ?
Joyce Preta Rara:
Eu sou Rapper, poestisa, turbanteira e professora de história.
E para 2016 vai vir muita garra pra continuar a propagar as ideias e eu quero divulgar o cd Audácia para o Brasil, Moçambique em Angola.
E quero aproveitar para a agradecer todo o carinho e respeito que eu recebo, seja pela internet ou pessoalmente, pra galera que curti meu trabalho, em especial para todas as mulheres que eu carinhosamente chamo de Rainhas.
E a gente segue aqui resistindo para existir sempre, e para as mulheres que são gordas, vocês são lindas hein.
Sou do tamanho dos meus sonhos.
Saudações Africanas,
Preta-Rara

Nenhum comentário:

Postar um comentário