sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Entrevista exclusiva com o "polêmico" Erton Moraes de Osasco

Erton Moraes é músico e escritor, autor do livro: Dedo na Garganta da Ideia, promove o evento Cultura na Vila em Osasco onde mora, tem a Banda Mokó de Sucata. Uns o chamam de polêmico, rebelde....
Vamos conhecer um pouco mais desse artista periférico.
Por: Alessandro Buzo




Alessandro Buzo: Quem é Erton Moraes por ele mesmo?
Erton Moraes:
Quem souber dar essa resposta na íntegra escreverá um best seller... rsrsrs – Quem se auto-define oprime a opinião alheia.



Buzo: Como anda a Banda Mokó de Sukata e planos pra 2016?
Erton Moraes:
Estamos com músicas novas, queremos gravar um clip, montar um espetáculo com o movimento Trokaoslixo, junto com o maracatu-atômico Jorge Mautner.

Buzo: O que é TROKAOSLIXO?
Erton Moraes:
TROKAOSLIXO é um Movimento Cultural que propõe a mistura de culturas, questiona o lixo mental como o racismo, a desigualdade social, as torturas. Lixos culturais que passa de pai pra filho. Todos sabemos que uma criança não nasce racista, ela é contaminada pelos nossos valores deturpados. O lixo cultural não é questionado nos meios de comunicação e o Brasil precisa de movimentos: somos punks, góticos, hippies, hip-hop, mas acredito que podemos criar nossos movimentos também, respeitando todos os outros, a exemplo do Mangue Beat.


Buzo: VC ajuda a promover o evento Cultura na Vila, quais os desafios?
Erton Moraes:
Sim, esse ano o Cultura na Vila completará 15 anos, com muita luta. O Cultura na Vila é um movimento de resistência contra a maneira como os Artistas são tratados, não só em Osasco, como no Estado e no País. Os Artistas que não estão na grande mídia são tratados como lixo, e para fazer parte dessa mídia, o Artista geralmente precisa criar um produto de alienação, outro tipo de lixo. O caminho do Artista de Osasco tem que ser passivo e conivente com as panelas que são instaladas no meio da política local, caso contrário, tá fora. Quando o governo apoia um evento, ele não está te dando nada que já não seja seu. Aqui em Osasco você tem que mandar beijo pros políticos para ter apoio, esses são os desafios.



Buzo: VC é de Osasco, como anda a cena cultural da cidade?
Erton Moraes:
Santo de casa não faz milagre, Osasco é uma cidade provinciana, mas artisticamente somos um povo muito rico, poetas, músicos, artistas circenses, atores, pintores, bailarinos...



Buzo: Em 2015 teve uma grande chacina em Osasco, porque isso ainda acontece nas quebradas?
Erton Moraes:
A chacina foi no Munhoz. Eu cresci no Munhoz, Parque Imperial que é divisa de Barueri. É o seguinte: chacina no Munhoz, Helena Maria, sempre teve, a diferença é que hoje temos celulares, câmeras e isso repercutiu. Sempre falo do Trokaoslixo: esse é o efeito do lixo cultural, a violência que passa de pai para filho, para netos, num efeito dominó e a periferia paga a conta da sujeira do Estado.



Buzo: Porque vc tem fama de polêmico?
Erton Moraes:
Para espíritos anêmicos, sou polêmico.



Buzo: Qual sua ligação com o falecido (morto aos 51 anos em 2008) escritor Austregésilo Carrano Bueno?
Erton Moraes:
Meu irmão, amigo de aventuras, travessuras, fizemos arte.
Tiveram apresentações do Mokó de Sukata junto com sua peça: “O Sapatão e a Travesti”. Carrano foi o escritor que denunciou o maior problema da humanidade, a saúde mental, por isso suas ideias foram perseguidas. O Trokaoslixo fala do lixo mental por isso nossas ideias convergiam. Carrano morreu sem dinheiro e sem o reconhecimento merecido, ele era uma pedra no sapato tanto da direita quanto da esquerda.
Hoje temos o “Prêmio Carrano Direitos Humanos” que mantemos com dificuldades, ele incomoda até hoje.



Buzo: O que te inspira a fazer cultura?
Erton Moraes:
O fato de existir. A existência humana é um continuo exercício cultural.



Buzo: 2015 não foi fácil, mas nos fale 3 coisas boas do ano passado?
Erton Moraes:
Mokó de Sukata tocou no Sesc Osasco, apresentamos o tema do Movimento Trokaoslixo na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, meu amigo Vitor Cachoeira escapou de um grave acidente, minha filha dançou ballet junto com a mãe, a ocupação das escolas de SP foi o ato que serviu de lição para o país e descobri pelo facebook que pela quantidade de coxinhas, o Brasil não terá mais fome...


Buzo: Um salve pra quem vai ler essa entrevista e considerações finais?
Erton Moraes:
Estudem nossas culturas, entenda a sua quebrada, valorize seus irmãos e irmãs, sejamos mais Preto e menos Black, senão a história que você produz hoje será esquecida pelos seus netos e bisnetos amanhã. Um salve para as donas Marias e os Seus Zés que sustentam nossas quebradas chamadas Brasil.



Erton Moraes e Alessandro Buzo


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